Cultura

Cinema de luto: o adeus a Geraldo Pinho

Com uma vida inteira dedicada à sétima arte, Geraldo Pinho deixou um grande legado para o cinema de rua do Recife

Uma faixa preta foi pendurada no Cinema São Luiz em homenagem a Geraldo Pinho - Reprodução/Instagram

O veterano cineasta e fotógrafo Geraldo Pinho, uma das mais respeitadas referências do cinema pernambucano, faleceu aos 70 anos, ontem pela manhã, no Recife. Segundo amigos próximos, ele teria passado mal e veio a óbito após um mal súbito, mas a causa da morte não foi informada oficialmente até o fechamento dessa edição. O velório será realizado a partir das 8h de hoje, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, Região Metropolitana do Recife (RMR), e o corpo será cremado às 14h.

Com uma vida inteira dedicada à sétima arte, Geraldo Pinho deixou um grande legado para o cinema de rua do Recife, especialmente para o Cinema São Luiz, da Rua da Aurora; e do Cinema do Parque, na Rua do Hospício, ambos na área central do Recife, que tiveram a marca de sua assinatura na programação por mais de uma década.

Além dos anos como programador e gerente de cinemas populares do Recife, Geraldo Pinho também esteve à frente da programação de cinema do Teatro do Parque e do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe).

Trajetória
Depois de atuar na produção de Super 8, nos anos de 1980. Em 1990, Geraldo Pinho passou a trabalhar, no início dos anos 90, na Espia Vídeo, uma produtora de publicidade que estava começando a produzir os grande filmes em Pernambuco. Nessa época, a maioria da produção de cinema era feita no eixo Rio-São Paulo. Na publicidade, assinou comerciais que ficaram marcados na memória dos pernambucanos como o famigerado "Davanira", das Casa José Araújo: "Davanira, é ela, tire sua roupa da janela", dizia a letra da peça publicitária. Geraldo não só dirigiu como participou do elenco desse VT.

Amigos no cinema
O cineasta Chico Ribeiro conheceu Geraldo trabalhando nessa produtora e eles  aprofundaram a amizade ao longo dos anos. "Ele era um apaixonado pelo cinema de rua. O cuidado que ele tinha em lançar um filme no dia certo, hora certa... ele observava o público e vivia o cinema 24h por dia, da hora que o cinema estava aberto até fechar e recolher a tela", relembra.

"Ele tinha esse amor pelo cinema e conseguia passar isso para toda a equipe. Geraldo foi um formador de plateia mas também um formador de muita gente. Geraldo foi gráfico, professor da Escola Técnica e tinha essa ligação também com a educação", pontuou Chico Ribeiro.

"É mais um amigo que se vai, meu Deus, é duro. Geraldo Pinho sempre era uma presença muito leve e bem humorada. Sempre a gente estava conversando sobre cinema. Mesmo as queixas dele, que eram várias, era queixas construtivas. A gente saia das sessões e ia se refrescar, tomar uma cerveja, um caldo de cana e conversar sobre o cinema", recorda a cineasta e amiga pessoal de Geraldo, Katia Mesel.

"Geraldo Pinho era um gigante em todos os sentidos, não apenas na sua competência em administrar uma sala de cinema e oferecer, por ela, amor em forma de filmes para toda uma sociedade. Ele era também um gigante da delicadeza, gentileza, discrição e generosidade", lembrou o crítico de cinema e professor, Luiz Joaquim, outro amigo próximo de Geraldo.

"Não dá para comensurar o tanto de gente que ele influenciou, seja no campo do audiovisual ou não, com o seu trabalho e com a sua forma de encarar os desafios. Eu próprio sou um fã e um discípulo de seu legado, e minha gratidão nunca será suficiente. Temos um grande abismo agora, com a partida de Geraldo", lamentou Joaquim.

"São incontáveis as sessões programadas por Geraldo Pinho no Recife que se tornaram fundamentais. Quando o cinema iraniano começou a ganhar destaque no Brasil, no início dos 1990 por exemplo, foi pelas sessões do Cineteatro do Parque que todos os pernambucanos tomaram conhecimento do que se tratava".

No Parque, posso citar algumas sessões que nunca sairão da minha memória e que me ajudaram a formar quem eu sou: “Filhos da Guerra”, de Agnieska Holland, “Europa”, de Lars Von Trier e “Onde Fica a Casa de Meu Amigo”, de Abbas Kiarostami. No São Luiz, agradeço ele ter programado um filme, hoje polêmico, mas que me deu uma experiência única (por vê-lo numa sala de cinema). Foi na celebração dos 60 anos do cine São Luiz, em setembro de 2012: “O último tango em Paris”, de Bertolucci. Ao sair da sessão, num domingo, enxerguei o Recife com uma melancolia rara".