Moro repetiu que nunca entraria na política; relembre frases do hoje presidenciável
Cotado como um dos possíveis pré-candidatos ao Planalto nas eleições de 2022, o ex-juiz Sergio Moro negou diversas vezes enquanto magistrado que tivesse intenções politicas.
O ex-ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro deve se filiar ao Podemos nesta quarta-feira (10) e já sinalizou a aliados que pretende entrar na disputa pela Presidência da República nas próximas eleições.
Entretanto, em diversas declarações à imprensa, Moro sempre foi enfático ao negar a possibilidade de abandonar a magistratura para se tornar um político. Mesmo após virar ministro, também refutava a ideia de se candidatar a cargos eletivos.
Em junho do ano passado, em entrevista à Folha de S.Paulo, ao ser questionado se tinha o sonho de se tornar presidente, Moro afirmou que "não existe nada disso". "Eu tinha um plano quando estava no ministério, saí faz um mês. Nunca tive essas ambições pessoais nesse nível, sou uma pessoa muito mais simples.
Enquanto ainda era juiz, durante uma entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo, em 2016, ele negou que participaria um dia da vida política. "Não, jamais. Jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política."
Em outra ocasião, durante o "Mitos & Fatos", fórum sobre a Justiça brasileira organizado pela rádio Jovem Pan, Moro disse algo semelhante.
"Já falei mais de uma vez: a profissão política é uma das mais belas. Nós eventualmente temos uma imagem pejorativa dela por conta de eventuais escândalos criminais, mas existem muitos bons políticos. Mas penso que precisa ter um certo perfil e, sinceramente, não me vejo com esse perfil."
Em 2017, Moro novamente rechaçou a possibilidade de entrar para a política ao participar de um evento organizado pela revista Veja.
"Não seria apropriado da minha parte postular qualquer espécie de cargo político porque isso poderia, vamos dizer assim, colocar em dúvida a integridade do trabalho que eu fiz até o presente momento."
No mesmo ano, Moro disse à GloboNews que não tinha vocação para política. "Não existe nenhum empecilho normativo. Mas a minha opção de vocação é outra. Eu sou um juiz e pretendo permanecer como juiz."
Para a BBC, também em 2017, ao ser questionado se tinha planos de se candidatar, o então juiz disse que "a resposta é não, não tenho nenhuma pretensão de ir para uma carreira politica. Meu trabalho é como magistrado, simples assim".
No ano seguinte, porém, Moro aceitou integrar a equipe de ministros do presidente Jair Bolsonaro.
A ida do ex-juiz para o governo foi alvo de críticas, já que poucos meses antes o ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva (PT), até então líder nas pesquisas eleitorais para 2018, foi preso no processo da Lava Jato comandado por Moro.
Meses depois da prisão, o ex-juiz se tornaria ministro do concorrente de Lula no pleito. Moro abandonou a 13ª Vara de Curitiba para assumir o Ministério da Justiça de Bolsonaro, logo após o segundo turno das eleições de 2018, com a promessa de que teria carta-branca na pasta.
O ex-presidente ficou preso por 580 dias em Curitiba. Ele foi solto após o STF ter mudado entendimento sobre prisão após segunda instância, determinando que a prisão só pode ocorrer após o trânsito em julgado (fim de todos os recursos).
Depois de deixar a Esplanada, o principal revés do ex-juiz ocorreu em junho deste ano, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) o declarou parcial no julgamento de Lula no caso do tríplex de Guarujá.
Moro deixou o governo em 2020, acusando o atual presidente de tentar interferir na Polícia Federal. Em entrevista à Jovem Pan, nesta segunda-feira (8), Bolsonaro afirmou que Moro "tinha um interesse político" durante sua passagem pela pasta da Justiça.
"E o Moro lamentavelmente tinha um interesse político. Como pode uma pessoa abrir mão de 23 anos de magistratura para ser ministro? Sabendo que poderia ser demitido no dia seguinte e jogar tudo aquilo fora. Ele, aos poucos, foi se revelando que tinha um projeto", declarou.
Moro finalizou recentemente o contrato que tinha com a empresa de consultoria em compliance Alvarez & Marsal, o que permite que ele possa se dedicar à política.
Ele deve ser contemplado com um cargo na direção do Podemos, embora provavelmente seja algo mais de caráter simbólico do que uma função executiva. A legenda é presidida pela deputada federal Renata Abreu (SP).
Caso confirme sua candidatura presidencial, Moro deve engrossar o campo da chamada "terceira via", grupo de candidatos que buscam espaço entre Bolsonaro e Lula, os dois principais postulantes ao Planalto, de acordo com a maioria das pesquisas de intenção de voto.