Onças invadem parque e matam 172 flamingos em Foz do Iguaçu; colônia existia há 26 anos
De acordo com a administração do complexo, que decretou luto de três dias, apenas quatro flamingos sobreviveram
Duas onças-pintadas que vivem no Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR), conseguiram entrar no complexo do Parque das Aves, na madrugada da terça-feira (9), e acabaram matando quase uma colônia inteira de flamingos que vivia sob os cuidados dos biólogos do parque. De acordo com a administração do complexo, que decretou luto de três dias, foram 172 aves mortas; apenas quatro sobreviveram.
Em nota publicada nesta terça, o Parque das Aves definiu o episódio como "uma cicatriz que ficará para sempre", e detalhou que as onças eram mãe e filhote, que estavam aprendendo a caçar. A colônia de flamingos era mantida naquele recinto desde 1995, quando ainda eram apenas 16 aves.
"Hoje é um dia muito difícil para a família Parque das Aves, em Foz do Iguaçu. É com enorme pesar que anunciamos a perda de 172 flamingos que viviam conosco. Na madrugada dessa terça-feira, 9/11, duas onças do Parque Nacional do Iguaçu, Indira e seu filhote, Aritana, que está aprendendo a caçar, adentraram o recinto dos flamingos. Nem todos os animais vieram a óbito pela encontro direto com as onças. Alguns flamingos vieram a óbito pelo estresse da situação (fenômeno chamado de miopatia de captura). Apenas 4 flamingos estão vivos", diz o comunicado, que acrescenta que o parque reabre ao público apenas na sexta-feira (12).
"Neste momento, estamos acolhendo os nossos colaboradores que criaram essa colônia de flamingos desde 1995, quando chegaram aqui os 16 primeiros indivíduos resgatados. No Parque das Aves, esses animais encontraram uma segunda chance de vida, recebendo todos os cuidados e atenção da nossa equipe técnica, posteriormente se reproduzindo e gerando a colônia. Essa cicatriz ficará para sempre na história do Parque, porém estamos confiantes de que recomeçaremos a colônia de flamingos e uma nova história. Pedimos a todos que, em respeito ao nosso trabalho, que não divulguem informações, imagens, sobre esse acontecimento, que não venham de nossos canais oficiais".
Após a tragédia, o Projeto Onças do Iguaçu, que estuda e monitora esses animais naquela região, também emitiram um comunicado, onde lamentam a fatalidade, mas reforçam que esta é a primeira vez que algo deste tipo acontece desde a fundação do Parque das Aves há 27 anos atrás, mesmo com todos os cuidados e monitoramento dos animais que são feitos diariamente. Os biólogos também criticaram as conotações agressivas que algumas pessoas tiveram em relação às onças.
"A equipe do Projeto Onças do Iguaçu identificou as onças, uma fêmea e seu jovem filhote, que tem cerca de um ano de idade. Nessa fase, as mães estão ensinando seus filhotes a caçar. O ocorrido foi uma fatalidade. O Parque das Aves é todo cercado e funcionários monitoram o perímetro e áreas internas diariamente, e seguem orientações de segurança fornecidas por nós. Ainda assim, toda proteção e cuidados não evitou a entrada dos predadores. Em 27 anos de existência do Parque das Aves, isso nunca aconteceu. Temos recebido muitos questionamentos e comentários sobre o comportamento das onças, alguns com conotação extremamente negativa. Onças são animais selvagens, são carnívoros, exímios predadores. Elas caçam e se alimentam de outros animais. Não são cruéis. São onças", diz parte do texto.
O projeto que atua no Parque Nacional do Iguçu também reforçou que é seguro visitar a região turística, já que as onças-pintadas sempre existiram no local e nunca houve qualquer histórico de ataques a seres-humanos.
"Nos perguntam se é seguro visitar os parques. Sim, é seguro. As onças sempre existiram na região e no Parque Nacional do Iguaçu, e não há um único registro de acidentes com pessoas em toda história. As onças tendem a se afastar de pessoas e buscar refúgio na mata, que é a sua casa e seu abrigo", acrescenta a nota.
Sobre um possível "surto " de onças no local, o que chegou a ser levantado por alguns internautas, os pesquisadores afirmam que, na verdade, o que acontece é o contrário: há, sim, um população ameaçada desta espécie.
"Uma afirmação que surgiu é que existe um “surto” de onças-pintadas na região e isso têm sido escondido para não provocar medo. Esclarecemos que não temos um surto de onças. Temos uma população ameaçada, estimada em 28 animais espalhados pelos 185 mil hectares do Parque Nacional do Iguaçu. Essa é uma quantidade aliás pequena para a área em questão. Em toda a Mata Atlântica existem cerca de 250 onças-pintadas apenas. Temos uma população criticamente ameaçada de extinção que quase se extinguiu na década de 90, e que com muito esforço e dedicação de muita gente, conservacionistas e lindeiros, vem se recuperando. Aos poucos, mas sempre inspirando cuidados. E precisamos do apoio de todos para continuar".