Novo medicamento desenvolvido nos EUA reverte paralisia em ratos
O novo medicamento promove a regeneração de células e reverteu a paralisia em ratos com lesões na coluna vertebral
Cientistas dos Estados Unidos desenvolveram um novo tipo de medicamento que promove a regeneração de células e reverteu a paralisia em ratos com lesões na coluna vertebral, permitindo aos animais caminhar novamente após quatro semanas de tratamento.
A pesquisa foi publicada na revista Science nesta quinta-feira (11) e a equipe responsável, da Universidade de Northwestern, afirmou que espera apresentar seu tratamento no próximo ano à agência reguladora de medicamentos dos EUA, a FDA, para poder iniciar os testes em humanos.
"O objetivo de nossa pesquisa foi desenvolver uma terapia transferível que pudesse ser usada nos hospitais para evitar a paralisia em pessoas por decorrência de traumatismos e enfermidades", disse à AFP Samuel Stupp, líder do estudo.
Curar a paralisia é uma meta antiga da medicina e outras pesquisas inovadoras no campo incluem tratamentos experimentais com células-tronco para produzir novos neurônios, terapia genética que ordena o corpo a produzir certas proteínas para ajudar na recuperação do sistema nervoso e a injeção direta de proteínas.
A equipe de Stupp, por sua vez, utilizou nanofibras para imitar a arquitetura da "matriz extracelular", uma rede de moléculas que se desenvolve naturalmente em torno do tecido celular.
Cada nanofibra é 10.000 vezes mais fina que um fio de cabelo humano e elas são feitas de centenas de milhares de moléculas chamadas peptídeos, que transmitem sinais para promover a regeneração dos nervos.
A terapia em forma de gel foi injetada no tecido que envolve a medula espinhal de ratos de laboratório 24 horas depois de realizar uma incisão em suas colunas.
A equipe decidiu esperar um dia porque os humanos que sofrem lesões graves na medula por acidentes automobilísticos, disparos e outros motivos, também demoram para receber tratamento.
Quatro semanas depois, os ratos que receberam o tratamento recuperaram sua habilidade de caminhar quase tão bem como antes da lesão na medula, enquanto os que não o receberam não voltaram a andar.
O impacto do tratamento a nível celular foi depois avaliado pela equipe, que se deparou com uma melhora impressionante na medula espinhal.
Extensões de neurônios chamadas axônios se regeneraram e o tecido cicatricial, que pode funcionar como uma barreira física que impede a regeneração, mostrou-se significativamente reduzido.
Além disso, uma capa protetora de axônios, que são importantes para a transmissão dos impulsos elétricos, se regenerou, vasos sanguíneos se formaram para levar nutrientes às células feridas e mais neurônios motores sobreviveram.
Moléculas dançantes
Uma descoberta-chave da equipe foi que criar uma certa mutação nas moléculas intensificava seus movimentos coletivos e melhorava sua eficácia.
Isso se deve ao fato de os receptores nos neurônios estarem naturalmente em constante movimento, segundo explicou Stupp. Assim, aumentar a movimentação das moléculas terapêuticas com as nanofibras ajuda a conectá-las de forma mais efetiva com seus alvos em movimento.
Os pesquisadores, inclusive, testaram duas versões do tratamento - um com mutação e outra sem - e descobriram que os ratos que receberam a versão modificada recuperaram mais mobilidade.
O gel desenvolvido pelos cientistas é o primeiro de seu tipo, e pode ser o primeiro de uma nova geração de medicamentos conhecida como "drogas supramoleculares", porque a terapia consiste na união de várias moléculas ao invés de uma única, indicou Stupp.
Segundo a equipe de cientistas, o tratamento é seguro porque os materiais se degradam em questão de semanas e se transformam em nutrientes para as células.
Stupp disse que espera que os estudos possam passar rapidamente para os humanos, sem a necessidade de realizar mais testes em animais, como os macacos, pelo fato de o sistema nervoso ser muito parecido entre as espécies de mamíferos, e "não existe nada para ajudar os pacientes com lesões na medula espinhal, o que é um grande problema".
Segundo estatísticas oficiais, cerca de 300 mil pessoas vivem com lesões na medula espinhal apenas nos Estados Unidos. Sua esperança de vida é menor que a de pessoas sem esse tipo de lesão e não melhorou desde os anos 1980.
"O desafio será como a FDA revisará essas terapias, porque são completamente novas", comentou Stupp.