'Eu cresci, podem me chamar de Rayssa Leal', conta skatista em depoimento
Aos 13 anos, a medalhista olímpica pode se tornar no domingo a mais jovem campeã mundial de skate street no formato atual de disputa
"Eu cresci, podem me chamar de Rayssa Leal. Sei que a Fadinha vai me acompanhar pela minha carreira inteira — e gosto disto. Fico emocionada de saber que este vídeo que a minha mãe fez, e que eu apareço vestida de fadinha, andando de skate, ajudou outras meninas a praticar esporte. E também que pude mostrar que o esporte é para todo mundo. Sei que incentivei outras meninas a andar skate, que antes era mais de menino. E isso é muito, muito legal. É uma coisa que eu sempre quis para mim, mostrar a força das meninas.
Não sou mais aquela criança de 7 anos do vídeo, né? Sou quase adolescente, faço 14 anos já já. Passei a gostar de me arrumar e continuo usando as pulseiras trançadas e coloridas que sempre usei. Por isso sou chamada pelas minhas amigas de 'a doida das pulseiras'", disse a atleta.
E a “doida das pulseiras” não imaginava que depois da Olimpíada de Tóquio, quando ganhei a medalha de prata, ia mudar tanta coisa (tipo, toda a minha vida).
Principalmente a questão das redes sociais, que eu adoro. Se deixar eu fico o dia inteiro, mas tenho limite de tempo para ficar postando. Eu entendo que isso é para o meu bem. Minha família me ajuda a não exagerar e também separa as mensagens positivas para eu ler.
Mas, quando fico uma semana sem postar no TikTok, o povo logo cobra: “Rayssa posta vídeo, Rayssa posta foto”. Minha timeline é só dancinha e gosto de imitar a Juju Rossi! Acompanho a Clara e a Vanessa Lopes também. Vocês precisam ver! Entrem lá. Antes dos Jogos Olímpicos, eu tinha 500 mil seguidores e agora tenho quase 7 milhões só no Instagram. Acho, né? Preciso ir lá de novo para conferir... E isso foi tão rápido...
Muita gente deve querer saber como consigo andar e treinar skate, estudar e tudo mais. Eu dou meus paranauês. Hoje, estou aqui nos Estados Unidos para disputar o Super Crown e já fiz várias provas da escola. Quando estou em casa, vou para as aulas presenciais. E quando viajo, faço pelo computador, on-line.
E por falar em tarefa, minha coordenadora acabou de mandar as atividades que preciso fazer essas semanas. Tenho excelentes notas. Verdade! Mas em matemática... acho que estou meio devagar para fazer contas. Pelo menos fui bem na prova, eu acho.
Esses dias, fiz a segunda chamada da prova de redação. O problema mesmo vai ser Educação Física. Tinha que enviar um documento que comprove que estou fazendo atividade física fora da escola. Espero que meu professor assista a etapa de Street League...
O Super Crown (nome dado à etapa final da Street League Skateboarding, o mundial da modalidade, disputado hoje) é um sonho para mim e para todos os skatistas do mundo. Estou muito animada e sei que posso fazer história de novo. Já imaginou se eu ganhar aqui, em Jacksonville? Quero muito voltar para casa com este troféu e fechar este ano incrível com chave de ouro.
Apesar que a pista não é do jeito que ando, tá meio estranha... Mas, enfim, se não der para ganhar de novo, não tem problema. Quero me divertir. E quero que vocês torçam muito por mim.
Como nunca venci o Super Crown, acho que vou ficar um pouco nervosa. Já fui vice-campeã em 2019. Para estas horas, tenho minha mãe por perto. Ela sempre conversa comigo antes de eu entrar na pista. Além de tranquilidade, me passa confiança. Também gosto de ouvir música quando ando de skate porque me traz uma vibe boa. L7nnon é meu preferido. É como se eu estivesse andando de skate no quintal de casa.
Se não fosse a minha mãe, não teria aprendido metade das manobras que faço. Ela me dá dicas, fala como preciso colocar o pé no skate, como preciso ajeitar o corpo, se devo ir mais devagar ou mais rápido. Eu sempre jogava as mesmas manobras e ela sempre me incentiva a evoluir. Tenho facilidade para aprender, é verdade. Mas, se não fosse ela...
Pensando bem, minha vida continua a mesma desde a conquista da prata em Tóquio. Porque continuo a me divertir andando de skate, jogando futebol, basquete e videogame. E continuo a ter meus amigos ao meu lado. Eles não mudaram comigo. Eu e minhas amigas gostamos muito de passear no shopping e elas me ajudam quando tem gente querendo tirar foto comigo. Se eu tenho namorado? Misericórdia! Cresci mas não estou na idade, não!
É verdade que tem esta parte da correria, tipo entrevista, pessoas pedindo para tirar foto, campanhas que estou fazendo, marcas novas se juntando a mim. Só isso... Não é pouco, né? O que eu quero dizer é que eu continuo com as minhas coisas e acima de tudo sendo feliz.
Nunca tinha imaginado ter tantos seguidores no Instagram, bem louco. Também nunca imaginei ser capa das revistas Marie Claire e Vogue. Foi mais difícil que andar de skate, podem ter certeza. Essa coisa de modelar é complicado.
Skatista tem um estilo e daí você pega uma roupa que nunca vestiu e se acha estranha, né? Nunca tinha colocado um terno na minha vida. E ele era duas vezes o meu tamanho, muito grande. Tiveram que prender atrás e deu tudo certo. Saí de lá pedindo o look! Um terninho e um vestido rosa ... Fiquei linda, amor próprio é tudo (risos).
Meus amigos me zoaram por causa das fotos, mas também elogiaram muito. Até minha professora de geografia elogiou. Ela é muito engraçada e eu gosto da matéria.
Como viajo bastante, consigo ver algo que aprendi. Tipo: estou perto da linha do Equador, sei todas as capitais do Brasil. Também gosto de conhecer lugares novos. Em Roma, fui ao Coliseu e um dia depois, minha professora estava falando sobre isso. Eu já sabia um monte de coisas.
Depois desta competição, vou para o Rio de Janeiro e, depois, férias. Aí é Cancun! Mentira!!! Vou ficar em Imperatriz (MA) mesmo com a minha família. Estou com muita saudade deles, quero ficar um tempo com meu irmão, com minha bisa, minha avó e amigos. Tenho curtido meu irmão nos joguinhos de videogame, mas quero ficar perto.
E em janeiro eu faço aniversário. Então vou aproveitar para dar uns recados: espero uma festa com muita comida e muito presente. Adolescente também gosta de presente!
Mas não venham com roupa, tênis ou boneca. Vou contar uma história: eu tenho medo de boneca. Na casa da minha avó, tinha uma boneca que piscava o olho, dependendo do movimento que fazia. Um dia, eu estava só passando, olhei para ela, ela fechou o olho sozinha! Saí correndo. Nunca mais, tenho medo até hoje. Então, deixando bem claro o que quero de brinquedo: jogos de tabuleiro.
Para comer, anotem aí, gosto de bolo e salgadinho. Bolinha de queijo é o meu preferido. A Carol, minha amiga, falou em um grupo de Whatsapp que queria fazer uma festa surpresa. Mas como eu também estava no grupo, acabou a surpresa! Amigos, podem fazer festa mesmo assim! Tô chegando.