Após fala de Bolsonaro, Câmara quer convocar ministro da Educação por interferência política no Inep
Milton Ribeiro deverá ser instado a dar explicações sobre a crise no MEC e declaração do presidente de que o Enem "começa a ter a cara do governo"
Os deputados da comissão de Educação da Câmara dos Deputados pretendem convocar nesta semana o ministro da Educação, Milton Ribeiro, para dar explicações sobre a debandada de servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Texeira (Inep), responsável por cuidar das provas do Enem e do Enade.
O pedido deve ser votado em sessão desta terça-feira na comissão. A presidente do comitê, deputada professora Dorinha (DEM-TO), afirmou que o ministro "já se comprometeu a ir". O requerimento, que havia sido pedido por mais de três parlamentares na semana passada, ganhou força com as denúncias trazidas à tona pelo Fantástico e pela declaração dada hoje pelo presidente Jair Bolsonaro. Em Dubai, ele disse que as questões do Enem agora "começam a ter a cara do governo".
"A frase do presidente é uma assinatura de culpa, a prova que eles não têm a menor noção. O presidente comprovou o que estamos denunciando há meses, que há interferência política na prova do Enem", disse o deputado Israel Batista (PV-DF), presidente da Frente Mista da Educação e um dos parlamentares que pediu a convocação de Ribeiro "Não é papel do Enem ter cara de governo A ou B. A prova é uma política de Estado", completou.
"Quando Bolsonaro interfere politicamente em uma prova como o Enem, coloca em risco a qualidade do exame e o futuro de nosso país. Nós, da oposição, vamos propor a convocação dele", reforçou o líder da oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ).
Em reportagem do Fantástico publicada neste domingo, servidores do Ministério da Educação relataram tentativas de interferência política por parte da direção durante a elaboração das provas do Enem, que serão realizadas nos dias 21 e 28 de novembro. Também descreveram situações de intimidação e "despreparo" da entidade. Os denunciantes fazem parte do grupo de 37 servidores do Inep que pediram exoneração do cargo na última semana, alegando "fragilidade técnica e administração da atual gestão máxima do Inep".
Na semana passada, deputados da comissão de Educação chegaram a fazer um acordo com o governo para convocar o presidente do Inep, Danilo Dupas, no lugar do ministro Milton Ribeiro. O objetivo era evitar desgastes às vésperas da realização do exame.
Dupas acabou indo à Câmara na última quarta-feira, mas deu poucas explicações sobre a crise na autarquia. Segundo ele, tratava-se de uma "questão interna", a qual ele iria tentar resolver "intermamente", "sem causar impacto negativo na sociedade". Boa parte dos deputados da comissão não ficaram satisfeitos com as declarações e, a partir daquele momento, passaram a articular a convocação do ministro.
Em junho, o ministro foi convidado a ir à Câmara para explicar a fala de que ele pretendia ter acesso prévio à prova do ENEM para vistoriar se havia questões consideradas de cunho ideológico. Na audiência, Ribeiro afirmou que "abriu mão" da ideia por entender que havia uma "governança estabelecida pelo próprio Inep" que garantia uma "prova técnica". - De maneira alguma eu terei acesso - disse ele.