TURISMO

Turismo vive retomada com vacinação, que turbina as viagens pelo Brasil

Desafio do setor é fazer com que esta alta, conhecida como 'revenge travel' (viagem da desforra), após meses de isolamento por causa da pandemia seja sustentável

Aeroporto do Recife - Divulgação/Secretaria de Turismo de Pernambuco

Aviões cheios, hotéis badalados, selfies em lugares paradisíacos: estas cenas estão voltando ao país. Com o avanço da vacinação, o turismo vive uma retomada. O desafio do setor é fazer com que esta alta, que no exterior é conhecida como “revenge travel” — “viagem da desforra”, após meses de isolamento por causa da pandemia — seja sustentável e alavanque um segmento fundamental para a economia, com potencial de promover desenvolvimento verde e inclusivo.

O reaquecimento do turismo pós-pandemia foi tema da última edição do “E Agora, Brasil?” deste ano, realizado na última quarta-feira pelos jornais O GLOBO e Valor Econômico, com patrocínio do Sistema Comércio através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações."

O evento digital reuniu Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil; Leonel Andrade, presidente da CVC; Alexandre Sampaio, presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA); Magda Nassar, à frente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), e Carina Câmara, coordenadora da Câmara Temática de Turismo do Consórcio Nordeste.

A mediação foi das jornalistas Mariana Barbosa, colunista do GLOBO, e Maria Luiza Filgueiras, colunista do Valor.

"Tenho dito que, neste fim do ano, vai faltar hotel e vai faltar avião", sintetiza Leonel Andrade, da CVC.  "Vivemos um momento de muito otimismo no curto prazo, com muitas vendas reprimidas."

A malha das empresas aéreas está sendo ampliada. Em setembro, a oferta de voos nacionais no Brasil ficou apenas 17,4% abaixo da registrada em igual mês de 2019, antes do início da pandemia. A hotelaria já espera uma virada de ano com ocupação em alta e tarifas subindo. Em paralelo, a rede de voos internacionais está sendo recomposta na medida em que vão sendo retiradas por diversos países as barreiras à entrada de turistas.

"O setor do turismo segue todos os protocolos, é seguro do ponto de vista sanitário", diz Magda Nassar, da Abav. "Olhávamos para fora e víamos o revenge travel, e agora ele chegou aqui. Vemos um desejo muito exacerbado de viajar."

Neste cenário, muita coisa mudou. Cadier, da Latam Brasil, afirma que o perfil e o destino do turista são diferentes: "Olhando para o mercado doméstico, o crescimento do setor vem muito sólido desde abril, e temos uma perspectiva bastante boa para 2022", afirma. "E o perfil do turista mudou. A gente tem hoje muito mais clientes de turismo (de lazer) que de negócios."

Para Carina Câmara, o país precisa aproveitar o bom momento para retomar uma visão estratégica: "Precisamos planejar a retomada para além deste momento aquecido, temos que pensar para 2023 e além", destaca ela.

Alexandre Sampaio, da FBHA, lembra, contudo, que o setor ainda carece de apoio, planejamento de longo prazo e estratégia do governo, principalmente diante do risco de uma piora no sistema tributário e em um cenário econômico mais desafiador: "Inflação e juros mais altos não afetam apenas os turistas, afetam as empresas do setor, que empregam muitas pessoas em todo o país", afirma ele.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) estima crescimento de 20% nas receitas geradas pelo turismo em 2021: se este patamar for confirmado, será a maior taxa de expansão do setor em 11 anos.

"O turismo é fundamental para a economia brasileira. O que vimos no “E Agora, Brasil?” é que a iniciativa privada está atenta e com bons indicadores para acreditar em uma recuperação das atividades após a crise da pandemia", resume José Roberto Tadros, presidente da CNC. "Mas precisamos que governo e Congresso olhem cada vez mais para o setor, para a formulação de políticas públicas que sejam capazes de aproveitar o enorme potencial turístico do país."