'Ela queria brilhar', diz técnico de jogadora de vôlei morta em acidente de carro aos 23 anos
Gullit Pádua conta que a atleta amadora era uma das mais talentosas do time e que no dia do acidente havia 'destruído o treino': "Sem saber, nós despedimos lá"
— "Ela queria brilhar". Segundo Gullit Pádua, de 31 anos, fundador e técnico do time de vôlei de Cravinhos, Núbia Rebello sonhava com carreira nas quadras profissionais de vôlei do país. E a última vez que ele a viu com vida foi na tarde de sábado, em que a atleta, de apenas 23 anos, "destruiu o treino".
— Quando terminou a atividade, eu fui elogiá-la. Ela tinha arrebentado no treino, destruído mesmo, foi excelente. Sem saber, nos despedimos ali — disse Gullit sobre uma de suas apostas. — Minha menina, batalhadora, coração que não cabia dentro dela. A Núbia me ensinou muita coisa... Foi ela quem nos incentivou a pensar grande. Disse que a gente tinha que 'tentar ser alguém'. Montou todas as nossas redes socias para 'mostrar nossos treinos e nossas alegrias'. Jogar uma Superliga C era sonho distante mas agora está mais próximo. Vamos em busca disso.
Núbia sofreu um acidente de carro na noite de sábado, entre Ribeirão Preto e Cravinhos, e faleceu horas depois no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Gullit contou que ela dirigia o carro, estava chegando em Cravinhos, "deu até o pisca para acessar a entrada da cidade", quando um cavalo atravessou a pista da Rodovia Anhanguera. Segundo ele, a colisão ocorreu no lado do passageiro, onde estava a prima de Núbia, que passa bem. Mas, o animal, que morreu na hora, atingiu em cheio a motorista. Uma das patas acertou o rosto de Núbia.
Ele contou que mesmo assim a jogadora estava consciente, saiu do carro e pôde falar com a mãe. Mas, após três paradas cardíacas, não resistiu. Sua morte causou comoção no ambiente do vôlei. Ela foi seupltada nesta segunda-feira, às 12 horas, no Cemitério Municipal da cidade.
— O sonho dela era ser jogadora de vôlei. Núbia era amadora e está sendo reconhecida no âmbito do vôlei como uma profissional como ela sempre quis. Pena que desta forma.
Segundo Gullit, ela tinha ido a um encontro com os colegas de faculdade. Núbia se formaria este ano em Odontologia. Ela teria combinado com a prima que ela beberia na festa e que a prima seria "a motorista da vez". Mudaram de ideia e trocaram os papeis. Núbia não quis beber naquela noite.
— Neste próximo sábado ela faria fotos da formatura. Chegou a contar que chegaria no jogo toda maquiada — disse Gullit, que não conseguiu conter as lágrimas.
Gullit, ex-levantador, é amigo da família de Núbia. Ele iniciou carreira no tradicional clube Banespa, em São Paulo. Jogou no Vôlei Futuro e foi assistente técnico de Marcos Pacheco no time de Ribeirão Preto. Ele diz que montou o time de Cravinhos porque queria que os jovens da cidade tivessem a oportunidade de jogar vôlei sem ter de sair de lá.
Núbia, que atuava na poisição de oposta, tinha 16 anos e logo entrou no projeto. Jogou, inclusive, com a mãe Andréa. Cravinhos, que tem apoio da Prefeitura, atende crianças e adolescentes de 5 a 18 anos. O time adulto disputa torneios regionais.
— Quando eu comecei, treinava com a Andréa. Completava o time feminino em várias ocasiões. Cresci com a referência da família dela no esporte. A Núbia pequeninina acompanhava a mãe também — lembra Gullit. — No sábado mesmo, no dia desta fatalidade, estava na casa delas e conversamos muito. Foi linda nossa conversa, emocionante, choramos muito. Quem tem espiritualidade vai alcançar o que quero dizer. E que Núbia esteja bem.