Touro dourado da B3 é alvo de protesto contra a fome menos de 24h depois de inaugurado
Coletivo colou mensagens nos flancos da estátua
O touro dourado instalado pela B3 no centro de São Paulo não durou nem 24 horas intacta após sua inauguração oficial, apesar de ser vigiada o tempo todo por seguranças contratados pela Bolsa de Valores. O monumento amanheceu com adesivos de protesto com a palavra ‘fome’ em maiúscula grudados na lateral da estátua, em um protesto reivindicado pelo coletivo Juventude Fogo no Pavio.
Comparada na internet com o famoso Charging Bull de Nova York, a obra de São Paulo ganhou apelidos como 'Vaca Louca do Anhangabaú' e 'Touro da Cracolândia' em memes e nas ruas assim que foi inaugurada.
Em suas redes sociais, o coletivo Fogo no Pavio afirmou que “o touro ganhou a marca do Brasil de Bolsonaro” e que não há nada o que comemorar, em alusão ao aumento da fome e do desemprego no país durante o governo de Jair Bolsonaro.
“O que para eles simboliza a força do mercado financeiro, para nós é um símbolo da fome, da miséria e da superexploração do trabalho. Mas, também é um lembrete de que continuaremos na luta por uma vida com dignidade. E é por isso que hoje fizemos essa ação simbólica de protesto”, diz a nota do coletivo.
A estátua foi inaugurada em meio a um mau momento para o próprio mercado financeiro. Na terça-feira, dia de sua inauguração, o índice Ibovespa recuou 1,82%. No ano, a retração acumulada é de 12,16%.
Em setembro, movimentos sociais já haviam ocupado o saguão da Bolsa em um protesto contra o desemprego e a inflação. Na ocasião, havia faixas e cartazes como “sua ação financia nossa miséria”, “Brasil tem 42 novos bilionários enquanto 19 milhões passam fome”, “tem gente ficando rica com a nossa fome”.
A escultura do touro dourado foi financiada pela B3 em parceria com o economista e educador financeiro Pablo Spyer, idealizador da obra. O autor é o arquiteto e artista plástico Rafael Brancatelli. O valor da estátua, que pesa cerca de uma tonelada e tem cinco metros de comprimento, não foi divulgado.
Brancatelli e a B3 negam qualquer inspiração do touro brasileiro no Charging Bull, o famoso touro de bronze situado em Nova York, nos Estados Unidos, idealizado pelo escultor italiano Arturo Di Modica em 1989. A estátua se tornou um dos símbolos do mercado de capitais americano.
De qualquer forma, as comparações foram inevitáveis entre as imagens dos touros de Nova York e de São Paulo entre os pedestres que viram a mais nova escultura do Centro da capital paulista, e não faltaram memes colocando lado a lado os dois monumentos.
"Temos compromisso com o centro de São Paulo e por isso escolhemos colocar o touro em frente à B3. Ele não é inspirado no touro de Nova York, mas sim na metáfora touro versus urso, tradicional no mercado financeiro. Nós escolhemos a figura porque a associamos à resiliência do investidor e do brasileiro" disse ao GLOBO Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes e Pessoa Física da B3.
Na metáfora, o touro representaria as ações em subida pronunciada, em alusão ao movimento de ataque do animal, de baixo para cima. Em contraposição, o urso, que ataca de cima para baixo, representa o mercado em baixa.
Além de remeterem à mesma figura de linguagem, há ao menos uma outra semelhança importante entre os dois monumentos. O americano foi idealizado por Modica após a Black Monday (Segunda-feira Negra) de 1987, quando o índice Dow Jones caiu 22,6%.
No Brasil, o touro da B3 chega às ruas quando o Ibovespa, o principal índice do mercado de capitais brasileiro, acumula desvalorização de 12,16% no ano de 2021.
Além da volatilidade da economia brasileira, as recentes altas na taxa básica de juros, investimentos de renda fixa, menos arriscados, ganharam rentabilidade e rivalizam com o mercado de capitais.
Segundo a Bolsa, a escultura registra a marca de mais de 4 milhões de pessoas físicas que investem na B3, um recorde para o país que traduz a popularização desse tipo de investimentos.