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Confira a entrevista com Diógenes Braga, candidato à presidência do Náutico

Atual vice-presidente do clube está concorrendo pela situação, na chapa "Avança Náutico"

Diógenes Braga, candidato à presidência do Náutico - Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

"Temos de olhar para o futuro, mas sem esquecer o passado". Respaldado pelas conquistas recentes do Timbu na Série C e no Campeonato Pernambucano, ambas na gestão do presidente Edno Melo, o atual vice-presidente do Náutico e candidato à presidência da instituição no biênio 2021-2022, Diógenes Braga, foca na "consolidação de bandeiras" para manter a atual gestão no cargo máximo do Executivo. O dirigente promete "austeridade, mas com ousadia" no comando dos alvirrubros.

Confira abaixo a entrevista com Diógenes Braga, candidato à presidência do Náutico. O vice da chapa é Luiz Filipe Figueirêdo.

Por que você quer ser presidente?

Quando a gente se coloca em um processo como esse, vivenciando tudo, é preciso um nível alto de doação. Converso com Edno Melo (atual presidente) sobre o nível de exposição que a gente passa a ter. Principalmente uma pessoa comum como eu, que veio da arquibancada, de origem humilde. Esse tipo de cenário até assusta um pouco porque não é algo que você planeja na vida. Mas a única resposta é por conta do amor incondicional. Vejo que é possível fazer algo pelo clube. Ver o Náutico crescer dentro de um patamar e querer que, quando você não esteja mais lá, o clube já tenha um tamanho que te deixe tranquilo com o passar do tempo. Quero dar continuidade ao projeto iniciado há quatro anos. Isso é muito importante. Enxergo que, se ele for conduzido de forma responsável, pode colocar o Náutico em um patamar diferente.

O que mudou do Diógenes do início da gestão até agora?

A gente amadurece muito. O processo de estar dentro do clube é intenso. Nos últimos quatro anos, eu fui um vice-presidente muito atuante. Entrei não porque eu quis, mas eu fui escolhido pelo presidente. Ele me disse que só iria (assumir o cargo) se fosse comigo. Eu aceitei porque queria que ele fosse o presidente do clube. Eu sabia que ele era o melhor caminho. Naturalmente, você amadurece muito. O nível de como você reage e como lida com os sucessos e insucessos é um ponto que muda. Sem falar no conhecimento do clube. Em 2017, houve a transição, com o Conselho assumindo e, em 2018, assumimos efetivamente. Já tínhamos um bom conhecimento do clube. Fui conselheiro, diretor do Náutico em 2015, depois saí e voltei como vice-presidente. Hoje, eu conheço o clube, sei o que ele é, sei as fragilidades e o que precisa melhorar.

Relação com redes sociais e torcida

Não sou assíduo nas redes sociais. Tenho uma vida dinâmica e me entrego demais nas coisas que faço. Sou empresário, construí minha empresa junto com meu sócio e trabalho muito porque tenho responsabilidades com meus funcionários e com meus clientes. Por esse motivo, eu não consigo interagir nas redes. Sei que existe uma importância enorme, principalmente após a pandemia. É preciso entender que, nas redes, o elogio e a crítica ficam maiores. É preciso ver que aquilo é um termômetro de um momento e não uma verdade absoluta. Precisamos interpretar tudo. Neste ano, fomos campeões pernambucanos, quebrando um jejum que incomodava a torcida. Alguns elogios foram muitos exagerados. Ao mesmo tempo, iniciamos bem a Série B, mas tivemos uma queda de rendimento e não tivemos o acesso, o que gerou uma crítica exagerada também.

Comportamento na gestão do futebol do clube

Em momento algum, durante os últimos quatro anos, eu fiz o futebol do Náutico sozinho. Eu era o interlocutor, falava muito em nome do futebol por algumas circunstâncias. Em 2018, eu era uma novidade como dirigente. Fazia parte de um processo em que eu ia comandar o futebol. Mas o “comandar”, para algumas pessoas, é fazer tudo. Na minha visão, é promover que cada um faça sua função. Mas, como interlocutor, recebi muita coisa. Muitas críticas foram colocadas em direção a mim, mesmo não sendo um erro meu. Mas, como comandante do departamento, sei que se um comandado meu erra, a responsabilidade também é minha. Mas também tinham muitos elogios que foram colocados na minha conta, mas acho que cabiam para outras pessoas. Como vice, eu precisava ser vice. Mas, como presidente, a diretoria terá de convencer o presidente das decisões, construindo tudo coletivamente. O presidente normalmente ratifica as decisões da diretoria. Como vice, eu sempre fui muito presente nos treinos. Acho isso importante, mas como presidente eu não terei como fazer isso. Vejo Edno precisando viajar, em reuniões com a Comissão Nacional de Clubes, com outros departamentos...o presidente, mesmo que queira se resumir a um departamento, não consegue.

Entrada na política do Náutico

Quando eu estive na oposição, eu vivi a luta pelos Aflitos. Naquele momento, não entramos na batalha vislumbrando algo como a presidência do clube. Foi um processo grandioso. Quem fez a convocação da Assembleia Geral que deflagrou a decisão de voltar ao estádio fui eu. O que me trouxe à condição de ser dirigente não foi um processo político, mas sim o projeto da volta aos Aflitos. Sobre a eleição, vejo que nossa gestão teve êxito. Passamos dois anos na C (2018-2019). As cotas eram diminutas. Quando subimos à B, com as cotas que dariam condições de fazer o avanço que queríamos, veio a pandemia e travou tudo em 2020 e 2021.

Opinião sobre os concorrentes na eleição

Quando o clube se organiza e demonstra uma condição administrativa mais favorável, é natural surgir interessados. Em 2017, por exemplo, quem se colocou na condição de presidir o clube foi Edno e eu. Naquele momento, ninguém queria. Hoje, ter três chapas inscritas mostra que o clube está crescendo. As pessoas passaram a se interessar. Quanto aos nomes, o de Bruno foi surpresa. Colocamos, ao longo do tempo, que ele iria compor a chapa comigo, com ele me acompanhando na vice-presidência, mas ele optou por sair e se colocar como candidato. Sobre Plínio, ele foi diretor comercial no mandato tampão. Quando assumimos, em 2018, a gente não nomeou Plínio. Ele nunca foi dirigente da nossa gestão.

Análise do futebol do Náutico em 2021

Buscamos investimentos, fazendo contratações. No momento que perdemos alguns atletas, o mercado estava fechado. Depois, tivemos um azar enorme de ter a contusão de Caio Dantas, que foi um reforço bem acertado. Buscamos ser ambiciosos. Trouxemos Anderson, Matheus Jesus, Jailson, Júnior Tavares e Murillo. Eles incrementaram qualidade ao time. Há quatro meses, estavam todos jogando, sem disponibilidade para saírem. Uma coisa é chegar ao mercado e ver quem está disponível e outra é ter R$ 500 mil para trazer três, quatro nomes. Não tínhamos esse dinheiro.

Centro de Treinamentos e Aflitos

Fizemos uma requalificação no estádio para receber os jogos. As melhorias vieram em relação ao campo de jogo, cadeiras, gramado, mas sabemos que a estrutura precisa ser melhorada. Nossa capacidade de fazer isso foi prejudicada por conta da pandemia. Mas esse ponto é nossa principal bandeira. Luiz Filipe Figueiredo (candidato a vice), que está na nossa chapa, presidiu a comissão que promoveu a volta do Náutico aos Aflitos. No CT, também estamos debatendo algumas situações. Cuidar da área, com receita pequena, é difícil. Precisamos achar caminhos para gerir melhor o local, com um direcionamento maior em pontos cruciais. Por exemplo, melhorar a condição dos atletas da base. Hoje, a gente aloja um número menor de jogadores. Queremos aumentar isso, além de isolar melhor a área. Estamos conversando com possíveis parceiros que podem trazer isso de forma consistente. Podemos ter parceiros para arrendar uma área ou investir em algum setor. Queremos encontrar parceiros para fazer o clube crescer. O ano de 2022 será diferente, de retomada economicamente do Brasil. Temos de pensar o Náutico inserido dentro deste contexto.

Marketing e pautas sociais

Com a pandemia e a restrição de receita, nós tivemos de enxugar o clube. Infelizmente, tivemos redução de profissionais nos setores e o marketing sofreu nisso. Evidentemente, com a retomada, queremos fortalecer novamente os departamentos, incluindo o marketing. Esse é um setor que mexe com a capacidade de criação. Estamos trazendo pessoas com projetos audaciosos. O Náutico não precisa ser o melhor clube do Brasil, mas pode ser o mais legal. Ele pode ser o segundo clube de muitos torcedores no País inteiro. E isso passa pelo fortalecimento da marca. Inúmeras ações que estamos projetando podem levar a instituição nesse caminho. Temos de analisar nossa realidade, pegando exemplos e ações pontuais para colocar no clube. Não somente copiar. O modelo do Athlético é sensacional, mas não temos como simplesmente copiá-los. Precisamos nos estruturar para chegar nesse caminho. O Bahia, por exemplo, fez uma ação envolvendo aquele caso das manchas de óleo que poluíram o litoral do Nordeste. O clube teve uma sacada bacana, colocando as manchas de petróleo na camisa. Aquilo aproximou o clube até de quem não gosta de futebol.

“Austeridade, mas com ousadia”

Como filosofia de questão, a palavra mais adequada é responsabilidade. Nunca perdemos a ousadia. Nunca nos apequenamos. Quando assumimos o clube, eu me lembro de uma piada que me incomodava: “torcedor do Náutico não vota porque não tem título”. Meus filhos usam a camisa do clube todos os dias. Eu fui dar uma volta na Jaqueira e vi uma quantidade enorme de camisas do Náutico. Resgatamos a autoestima do clube. E não adianta fazer chacota de “vocês só falam de título”. Queremos mesmo. O Náutico é, nesse momento, o protagonista em Pernambuco. Somos os atuais campeões estaduais. É possível ter austeridade, mas sem perder a ousadia. Conseguimos, em 2019, o acesso e o título da Série C. Caímos como lanternas da Série B e eu falava que deveríamos subir como campeões. Além disso, tivemos a taça estadual deste ano. A bandeira da responsabilidade vai continuar, sendo consolidada. Em 2017, fomos rebaixados, vendo como uma situação analítica, muito por conta do investimento feito em 2016.

Trabalho com a base

Ninguém discute o trabalho de base do Náutico hoje. Se não fosse a pandemia, estaríamos em outro patamar quanto à negociação de atletas pratas da casa. Briguei para colocar o regimento para ter 30% de jogadores da base no elenco profissional. No debate, queriam 20% e acabou ficando em 25%. Nesse período, sempre tivemos mais de 25%. Tivemos as vendas de Robinho ao RB Bragantino, Luiz Henrique com o Moreirense e a de Thiago com o Flamengo. Essa última foi determinante para ajudar o clube.

Posicionamento de atletas e comissão técnica nas eleições

Os jogadores estão incomodados com essa responsabilização em cima de mim por insucessos. Teve a história do jogo do CSA que, após a partida, houve um posicionamento claro de Camutanga e Jean Carlos sobre isso. A relação no futebol é intensa. Eu cobro, tem hora que a gente discute, mas o clube tem respeito pelos atletas e eles reconhecem isso. Essa demonstração dos jogadores (em apoio à candidatura) é um sinal de reconhecimento.

Passivo trabalhista e SAF

Esse é o maior desafio, com toda a certeza. O futebol chama atenção pela mídia, pela paixão, mas o Náutico precisa continuar tratando todo o problema trabalhista que existe. A gente vê com muita simpatia o projeto do SAF (Sociedade Anônima de Futebol). Acredito que ele pode ser um grande caminho para o Náutico e o clube está se estruturando para isso, com passos mais previsíveis para o futuro. Ter a condição de projetar o que vem pela frente. Vários clubes estão aderindo e isso pode deixar o clube em outra condição administrativa. Sobre o passivo trabalhista, é algo que se você se descuidar por seis meses, você perde tudo o que fez para trás. Outra coisa que nos aterrorizava era a questão do patrimônio. Hoje, tanto a sede como a garagem de remo viraram imóveis especiais de preservação. Isso nos dá o mínimo de tranquilidade de que aquele imóvel não mudará de contexto. 

Hélio dos Anjos e processo contra o Náutico

Conversei com Hélio e pedi desculpas. Estávamos correndo muito para buscar recursos. Esperávamos que o público voltasse antes, com percentual melhor de lotação. Pernambuco demorou um pouco mais nesse sentido e isso complicou financeiramente. Mas já tivemos um entendimento com Hélio dos Anjos. Nossa relação com ele é boa. Tanto que ele voltou a trabalhar no Náutico e contamos com ele para 2022.

Pautas sociais e divulgação da “marca” Náutico

O comportamento do clube tem uma força grande. Quando falei que o marketing pretende fazer o Náutico ser o clube mais legal, isso passa pelo posicionamento em causas importantes, tendo o respeito, tolerância e empatia dentro de um cenário e de um País que ama futebol.

Se vencer, qual legado quer deixar no Náutico?

Quero consolidar bandeiras, efetivando avanços. Como, por exemplo, a projeção de atletas da base. Fazer do Náutico não só um clube que forma jogadores, mas que também vende. Queremos consolidar o Náutico como protagonista em Pernambuco, que briga por títulos. Consolidar a bandeira da responsabilidade também. Títulos não são causas, são consequências. Queremos ainda fazer avanços na questão patrimonial, fortalecendo esportes olímpicos. Temos de olhar para o futuro, mas sem esquecer o passado.