Recorde

Amazônia tem 13.235 km² de desmatamento, pior taxa em 15 anos

Dado referente ao período 2020-2021 foi divulgado nesta quinta (18), com atraso, e representa aumento de 22% em relação ao ano anterior

Bruno Kelly/Amazônia Real

A área desmatada na Amazônia Legal no período 2020/2021 foi de 13.235 km², a pior em quinze anos, encadeando uma tendência de alta que já dura 4 anos, afirmou, nesta quinta-feira (18), em comunicado o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Segundo o sistema Prodes, que mede com precisão a taxa de desmatamento na porção brasileira do bioma, o aumento em relação ao anterior foi de 22%.

Os números são aqueles referentes ao período de agosto de 2020 a julho de 2021, o 'ano-fiscal', usado para medir a derrubada de floresta. O estado onde ocorreu a maior porção do desmate nesse intervalo foi o Pará (5.257 km²), seguido de Amazonas (2.347 km²) e Mato Grosso (2.263 km²).

A Amazônia brasileira não via uma taxa anual de desmatamento tão alta desde 2006, quando 14.286 km² haviam sido desmatados segundo o sistema Prodes. O número desde ano foi pior até mesmo que projeções pessimistas, pois a área de alertas de desmatamento capturados pelo sistema Deter do Inpe, sofreu diminuição em relação ao ano passado.

O Prodes, porém, é um sistema mais preciso, apesar de mais lento, pois infere o dado com imagens em várias diferentes órbitas dos satélites que usa, do sistema Landsat, da Nasa. Foram usadas 106 imagem de ampla cobertura para fazer a estimativa.

O número foi divulgado na tarde desta quinta-feira pelo Inpe em um comunicado com amplo detalhamento técnico, mas sem análises sobre o motivo do aumento da área devasta.

Uma nota de preocupação é a ampla área de desmate no estado do Amazonas, que normalmente não está entre aqueles com mais corte raso da mata. A área crítica na região é o entroncamento das rodovias BR-319 e transamazônica, nos municípios de Lábrea e Humaitá. No Pará, os mapas do Inpe mostram, como de costume, muito desmate ao longo da BR-163 e na região de entorno da Terra do Meio.

O número foi divulgado com atraso em relação à data de costume, em outubro. O desmatamento é a principal fonte de emissões de CO2 do Brasil, que não apresentou a taxa a tempo de ser confrontada na conferência do clima de Glasgow, a COP26.

A taxa recorde foi imediatamente comentada por ONGs ambientalistas.

"O resultado é fruto de um esforço persistente, planejado e contínuo de destruição das políticas de proteção ambiental no regime de Jair Bolsonaro", afirmou em comunicado Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, coalizão que reúne as maiores ONGs ambientalistas do Brasil, incluindo Greenpeace, WWF e Conservation International.

"É o triunfo de um projeto cruel que leva a maior floresta tropical do mundo a desaparecer diante dos nossos olhos e torna o Brasil de Bolsonaro uma ameaça climática global."

"Este é o Brasil real que o governo Bolsonaro tenta esconder com discursos fantasiosos e ações de greenwashing no exterior", disse Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF Brasil. "O que a realidade mostra é que o governo Bolsonaro acelerou a rota de destruição da Amazônia."

As ONGs destacam o fato de que é a primeira vez desde a década de 1980, quando o desmatamento começou a ser monitorado por satélites, que a taxa anual aumentou por quatro anos seguidos.