Oficina Brennand celebra 50 anos com exposição retrospectiva
"Devolver a terra à pedra que era: 50 anos da Oficina Brennand" abre para o público neste domingo (21)
Foi em uma olaria desativada, incrustada no bairro da Várzea, que Francisco Brennand criou uma espécie de universo particular, onde suas obras convivem em perfeita harmonia com a arquitetura e a natureza do lugar. A Oficina Brennand completou cinco décadas de existência neste mês de novembro, quase dois anos após a morte do seu idealizador. Levando adiante o legado do artista plástico pernambucano, o espaço apresenta uma exposição comemorativa, que abre ao público a partir deste domingo (21).
"Devolver a terra à pedra que era: 50 anos da Oficina Brennand" reúne cerca de 200 itens, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, serigrafias e documentos, muitos deles expostos pela primeira vez neste local. A mostra, que deve permanecer em cartaz durante um ano, ocupa dois pisos do espaço Accademia, prédio localizado ao fundo do monumental complexo artístico de 15 km2.
"Essa é a primeira grande exposição depois da transformação da Oficina em instituto e também depois do falecimento de Francisco. Ela traz, pela primeira vez, o recorte dos eixos conceituais que norteiam nosso programa institucional, celebrando a trajetória artística de Francisco Brennand e da construção de seu grande sonho", afirma Marianna Brennand, sobrinha-neta do artista e presidente da Oficina Brennand.
As obras que compõem a exposição foram selecionadas do acervo do museu - que conta com aproximadamente 3 mil peças - e também cedidas por coleções particulares e de outras instituições. A curadoria é assinada por Júlia Rebouças, diretora artística do instituto, e Julieta González, venezuelana que já trabalhou em equipamentos culturais como o Tate Modern, em Londres, o Museu de Arte do Bronx, em Nova York, e o MASP, em São Paulo.
O trabalho curatorial realizado pela dupla se apoia nos três pilares conceituais que guiam o projeto institucional da Oficina: "Natureza", "Território" e "Cosmologias", tendo como foco principal a primeira temática. Nesta perspectiva, um dos destaques é a presença de 13 dos quadros que compõem a pouco conhecida "Série Amazônica", produzida entre os anos 1960 e 1970. As telas recebem o público ainda no primeiro piso da exposição, dividindo espaço com esculturas com formas de animais e vegetais.
"A gente observa a relação de Brennand com a mata da Várzea e o rio Capibaribe, sua incrível capacidade de inventar seres e de forjar uma natureza, seja no hibridismo das figuras que ele criava, nas aproximações com formas humanos ou no exercício incessante dele de pensar a natureza como nascimento, transformação e morte", aponta Júlia Rebouças.
Embora o recorte curatorial privilegie a natureza como mote, os outros dois eixos temáticos não estão desatrelados da exposição. "Para organizar esse programa artístico, era muito importante partir de conceitos que refletissem a obra de Francisco, mas, ao mesmo tempo, pudessem ser conceitos abertos o suficiente para caberem nas questões existenciais e proposições artísticas contemporâneas", pontua a curadora.
Para adentrar no aspecto do "Território", a exposição explora a relação entre a produção artística de Brennand e o entorno onde foi concebida, tendo em vista os aspectos históricos, culturais, geográficos e políticos da região. O eixo "Cosmologias" trabalha o aspecto fabular na produção do pernambucano, através das representações mitológicas tão presentes na sua obra.
Brennand passou a ocupar o que era a Cerâmica São João da Várzea, antiga fábrica de telhas e tijolos do seu pai, no dia 11 de novembro de 1971. De um ateliê para dar vazão à fruição artística do escultor, o espaço se transformou em um dos principais destinos turísticos e culturais do Recife. Neste novo momento, ainda que limitado pelas incertezas de uma pandemia, a instituição busca reforçar seu caráter eminentemente público.
"Nosso desejo é de aproximar cada vez mais a população desse espaço e da obra do Brennand. E vamos fazer isso, por exemplo, ampliando nossa programação, implantando um programa perene de educação e ação no território da Várzea, fazendo a sua obra dialogar com outros artistas e linguagens, através de exposições, residências artísticas e educativas, entre outros programas de caráter público", promete Marianna.
Serviço
Exposição "Devolver a terra à pedra que era: 50 anos da Oficina Brennand"
Oficina Brennand (Propriedade Santos Cosme e Damião, rua Diogo de Vasconcelos, s/n, Várzea)
De terça a domingo, das 10h às 18h
R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
Informações: (81) 2011-5466