Em crítica ao semipresidencialismo, Bolsonaro volta a falar em jogar fora das quatro linhas
'Coisa idiota. Eu falo que jogo nas quatro linhas. Quem saiu fora, aí sou obrigado a combater o cara fora das quatro linhas', afirmou o presidente
O presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer que poderá jogar "fora das quatro linhas" para combater quem também joga dessa forma. A declaração foi dada após um apoiador com quem conversava na entrada do Palácio da Alvorada questioná-lo sobre a proposta do semipresidencialismo, um regime político diferente do presidencialismo que há hoje no Brasil e que tiraria poderes do presidente. Segundo Bolsonaro, o semipresidencialistmo é uma "coisa idiota".
Bolsonaro não citou nomes, mas a proposta voltou a ser discutida nos últimos dias. Em 15 de novembro, em evento em Lisboa, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes defenderam o modelo.
"Tem coisas tão idiotas que não dá nem para discutir. Não vou começar a bater boca com ninguém sobre esse assunto. Coisa idiota. Eu falo que jogo nas quatro linhas. Quem saiu fora, aí sou obrigado a combater o cara fora das quatro linhas. Se for levar ao pé da letra o semipresidencialismo, eu teria o poder de dissolver o Congresso. Então não vou discutir. Por que lançam isso aí? Para acobertar outras coisas. Muita gente está preocupada porque acabou a mamata", declarou o presidente.
Em 15 de novembro, Lira afirmou em Lisboa:
"Sabemos que não há unanimidade sobre possíveis alternativas, mas certamente o sistema semipresidencialista sobressai entre aquelas que podem articular de forma mais virtuosa e eficiente a nossa experiência histórica e as nossas necessidades institucionais".
Bolsonaro, que já fez vários ataques sem provas às urnas eletrônicas, voltou ao tema na conversa com apoiadores. Primeiramente fez uma referência aos problemas nas prévias do PSDB para escolher seu candidato a presidente em razão da instabilidade no aplicativo usado para votar, destacando que "é o tal do voto eletrônico." Depois, porém, disse que a eleição de 2022 será mais confiável, mesmo sem o voto impresso, em razão da participação das Forças Armadas.
"[Luís Roberto] Barroso [presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)] emitiu uma portaria e convidou umas dez instituições. Entre elas uma tal de Forças Armadas para participar do sistema das eleições do ano que vem. Então vamos participar da primeira fase, do código fonte, até a sala secreto. Então não vai ter problema. O ideal é o voto no papel, impresso. Mas agora fica quase impossível uma fraude, porque partamos do princípio de que não haverá cooptação de militar nessa questão", disse Bolsonaro.
Por outro lado, criticou a decisão do TSE de cassar o mandato e declarar inelegível o deputado estadual bolsonarista Fernando Francischini (PSL-PR), por propagar "fake news" sobre fraudes nas urnas eletrônicas e o sistema eletrônico de votação durante uma "live" feita no dia das eleições de 2018.
"Cassaram um deputado de 400 mil votos porque fez um "live" faltando dez minutos para acabar as eleições. É inacreditável", criticou Bolsonaro.
Ele também mencionou a possível candidatura do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, ao governo de São Paulo em 2022, elogiando-o e dizendo que "faz milagre com orçamento pequeno". E atacou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal adversário na eleição presidencial, lembrando ex-ministros petistas que foram presos após escândalos de corrupção. Bolsonaro afirmou que o seu calcanhar de Aquiles é a inflação e o preço dos combustíveis, mas destacou que esse problema atinge outros países, e alguns deles enfrentam até mesmo desabastecimento, o que não ocorre no Brasil.
"Lula vai trazer Zé Dirceu, [Antonio] Palocci, aquela turma toda", declarou.