Ex-diretora do Náutico presta depoimento sobre importunação sexual de funcionário do clube
Tatiana Roma disse que apresentou as provas para instauração do inquérito; acusado nega que cometeu os crimes
A ex-diretora do Náutico, Tatiana Roma, prestou depoimento na 1ª Delegacia da Mulher, em Santo Amaro, no centro do Recife, acusando o superintendente financeiro do Timbu, Errisson Rosendo de Melo, de importunação sexual, além dos crimes de calúnia, difamação e injúria. Após registrar inicialmente um Boletim de Ocorrência (B.O.), no dia 12 de novembro, ela apresentou provas em áudio e texto, além de detalhar o caso para a instauração do inquérito.
"Dei meu depoimento na delegacia e anexei as provas que tenho, tanto em conversas no WhatsApp como o áudio com o membro da Torcida Organizada sobre a falsa denúncia de injúria racial que seria feita. O inquérito foi instaurado e o próximo passo será levar as testemunhas, disse Tatiana. O acusado é irmão do presidente do Náutico, Edno Melo.
De acordo com a ex-diretora, outras cinco mulheres também relataram ter sofrido assédio de Errisson. "Não vamos divulgar os nomes para manter o sigilo, mas uma delas já se colocou à disposição para dar um depoimento também", completou.
Nesta terça-feira (23), o ex-vice-presidente jurídico do Náutico e atual candidato à presidência do clube, Bruno Becker, se posicionou sobre o assunto após o clube, em nota, afirmar que o acordo proposto inicialmente entre as partes teve indicação do jurídico.
"Em momento algum foi indicado (por mim) o acordo. Esta 'saída' foi uma sugestão dada pelo presidente do Conselho Deliberativo (Alexandre Carneiro), que, inclusive, se prontificou a 'presidir' a sessão de mediação. Quem discutiu os termos foi o presidente executivo (Edno Melo)", declarou. Segundo Becker, ele "tão somente redigiu o acordo, com anuência das partes, porém, sem externar qualquer juízo de valor sobre a decisão delas".
Em entrevista à Rádio Jornal, o presidente do Náutico, Edno Melo, defendeu o irmão e citou que "questões políticas" motivaram a denúncia da ex-diretora.“Não estou aqui para passar a mão na cabeça de ninguém. Minha família está sofrendo bastante. A esposa dele, meus pais, todos. As consequências são mais graves do que ela (Tatiana) imagina. Ficar com inverdades? Não admito. Vamos apurar o fato, mas não com mentiras”, disse o mandatário.
Sobre o acordo citado por Tatiana, da doação de 50 cestas básicas para não prosseguir com a denúncia no Conselho Deliberativo, o mandatário afirmou que a escolha partiu da antiga funcionária, citando também que o posicionamento pode ter “influência política”, devido à proximidade das eleição presidencial do Timbu, marcada para o dia 5 de dezembro. “Por que tanta insistência para fazer um acordo? E por que agora, com dez dias da eleição? Isso (uso eleitoral) foi claro”, acusou.
Acusado nega crimes
Procurado pela Folha de Pernambuco, o advogado de Errisson, Luiz Gaião, declarou que conversou com o cliente, que negou todas as acusações.
"Ele está muito tranquilo, disposto a prestar qualquer esclarecimento às autoridades. Errisson nega que cometeu os crimes. Está afastado do cargo e acompanhando a situação. É uma acusação séria e até o momento nenhuma prova foi apresentada, além da queixa criminal", informou.
Entenda
A Folha de Pernambuco teve acesso ao B.O, registrado no dia 12 de novembro deste ano, na 1ª Delegacia de Polícia da Mulher, no bairro de Santo Amaro, no Centro do Recife. No documento, Tatiana afirma que foi vítima dos crimes entre maio de 2020 a julho de 2021. Ela cita no texto que Errisson teria proferido frases de conotação sexual, sugerindo “sexo a três” e convite a um motel.
A ex-diretora também acusa o superintendente de pedir a um membro de uma Torcida Organizada do Náutico para que ele registrasse uma falsa denúncia de injúria racial contra Tatiana. Em postagem por meio de uma rede social, ela disse que, em setembro, já havia protocolado uma denúncia ao Conselho Deliberativo do clube, mas o mandatário do CD, Alexandre Carneiro, respondeu que ela deveria “deixar o processo para 2022”.
Diante da situação, Tatiana procurou Edno Melo, que propôs um acordo. Ela tiraria o processo contra Errisson no Conselho e, em troca, o funcionário, que permaneceria no cargo até o fim de 2021, ia doar cestas básicas para uma instituição de caridade. A ex-diretora concordou, mas disse em seguida que o ponto não foi cumprido, o que a levou a entrar com uma nova petição.
"Falei com o presidente no começo de julho. Disse que não aguentava mais. Ele disse que ia falar com a pessoa envolvida, mas o comportamento não mudou. Sem falar que outras quatro ex-funcionárias também passaram por isso, mas elas dependiam do clube e ficaram com medo. Eu, por outro lado, não era diretora remunerada, não dependia. Mesmo assim, tentei fazer tudo em sigilo com medo da exposição, mas precisei fazer isso (denunciar)", afirmou Tatiana, em entrevista à Folha de Pernambuco.
"Após o acordo, o presidente fez um depósito de R$ 2.500, mas esse valor não era compatível ao das 50 cestas básicas estipuladas. Além disso, no último sábado, Alexandre Carneiro ligou para um membro da minha família para me intimidar. Ele disse que a imagem do clube era maior do que isso. Sem falar que citaram uma questão 'política' sobre a denúncia (por conta das eleições presidenciais, em dezembro). Mas ela foi feita em setembro, quando nem existiam as chapas formadas. Não sou de chapa alguma. Sou conselheira do clube. Em momento algum, por exemplo, eu falo algo de Diógenes Braga (vice do Náutico e candidato à presidência pela situação). Nunca cheguei a ele para falar sobre esse assunto. Sou amiga de Bruno Becker (candidato à presidência pela oposição), mas não estou envolvida na campanha dele", apontou.