NÁUTICO

Tatiana pediu afastamento de funcionário ao CD, revelam áudios; presidente rebate ex-diretora

Conversa entre a denunciante e o presidente do Conselho do clube ocorreu em setembro; presidente do Náutico indicou que motivações políticas geraram atitude da ex-funcionária

Edno Melo, presidente do Náutico - Léo Lemos/Arquivo Náutico

Mais um capítulo envolvendo a denúncia da ex-diretora do Náutico, Tatiana Roma, contra Errisson Melo, superintendente financeiro do clube e irmão do atual mandatário, Edno Melo. Em áudio divulgado nas redes sociais da antiga funcionária, é mostrada uma conversa dela com o presidente do Conselho Deliberativo do Timbu, Alexandre Carneiro, ocorrida em setembro deste ano. No diálogo, ela solicita a saída de Errisson, acusado de importunação sexual, calúnia, difamação e injúria.

"A minha questão é muito simples. Eu quero que ele seja punido pelo o que ele fez", disse Tatiana, inicialmente. Alexandre, então, sugere que a situação seja resolvida após o fim do ano, com o término do mandato da atual gestão.

 "Para a gente não ter o risco de se misturar sua questão com a questão política e o pessoal deslegitimar a sua denúncia ou desmerecer, qual o problema que tem da gente concluir isso depois de dezembro?", indagou. "Qual o problema de demitir Errisson agora?", rebateu Tatiana. "Eu não consigo entender. É isso que estou dizendo. Está se fazendo uma grande coisa com algo que é muito menor. Está se protegendo e se gerando uma coisa política que não é. Eu não estou dizendo que você está protegendo. Estou dizendo que há uma proteção, quase uma blindagem dizendo que isso é político. Isso para mim é desviar o foco", completou.

Em outro trecho, ainda sobre a alegação de uma denúncia baseada em aspecto político, Tatiana explica. “Se fosse político, eu não precisava ter dado entrada no Conselho, ter feito nada disso. O que fiz foi pedir sigilo para que isso fosse resolvido internamente. O que eu quero é a punição dele. Por que eu disse a você que não aceitava após a eleição? Porque não há tempo ágil regimental para punição dele após eleição até acabar o mandato. É questão de prazo. A eleição é na primeira semana de dezembro. Como vamos ter prazo regimental para que ele seja julgado?”, detalhou.

Em outro áudio, Tatiana explica que o desejo era manter o assunto apenas dentro do clube, sem procurar a Justiça. “Não quero que isso se torne público e queria que isso fosse resolvido de forma muito mais simples. Eu acho que, quando digo que está se tornando maior, é porque está um embate maior. Se fosse feito o afastamento dele, aí sim poderia ser pós-eleição tranquilamente. E a gente faz o julgamento da forma correta. Aí o Conselho não se omitiu, o clube não se omitiu. Edno sai como puta herói dessa história. Ele ‘cortando’ a carne dele para que fosse dado o julgamento. Tem coisa melhor do que isso para todo mundo? Eu não consigo entender isso. Essa resistência a fazer qualquer coisa. Por que, Alexandre, pensa racionalmente comigo: se Edno concorda com isso, ninguém pode dizer que ele foi conivente ou não. Ele cortou na própria carne. Se o Conselho faz isso e sugere isso, ninguém pode dizer que o Conselho esperou tantos meses para eleição ou não. Porque pode ter algum conselheiro da oposição que diga ‘Ele esperou até a eleição passar’. Ninguém pode dizer isso porque, sim, o Conselho tomou providências antes da eleição. Diógenes (vice-presidente e atual candidato à presidência pela situação) não é afetado de modo nenhum. Porque isso não vai sair para canto nenhum. A eleição dele continua igual. E por que ninguém faz isso? Não faço a menor questão se ele será punido ou não fora do clube. Eu quero a punição onde ocorreu e o que ele fez comigo aqui dentro. Não é justo eu ter passado pelo o que passei por conta dele aqui dentro e ele não ser punido aqui dentro", frisou.

Carneiro questiona o que ela diria para as pessoas que a questionassem sobre ela optar inicialmente por deixar o assunto no Conselho e não levar à Justiça. Tatiana responde: “porque para mim, a punição do clube é suficiente. Eu respeito muito se alguém passou pelo o que eu passei e não quis denunciar. Porque não é fácil, não. Vale salientar, eu entrei contra a minha família. Minha família foi radicalmente contra eu ter entrado. Porque eles achavam que a minha exposição não valia a pena. Então, o primeiro sofrimento que tive foi dentro de casa. Ninguém queria. E eu entrei mesmo a minha família não querendo. E por que no clube e não fora? Porque não quero passar por isso de novo. A exposição de ir para a Justiça, ser questionado, de novo tudo isso”, declarou.

“Vou fazer a você a pergunta que fiz ao meu irmão. Quando a gente estava debatendo tudo isso, eu perguntei: se um funcionário seu assedia qualquer outro funcionário seu dentro dessa empresa, o que você faz? Aí ele: ‘Vou ter que afastar. Para pelo menos enquanto o processo rola. Não posso deixar agressor e vítima no mesmo ambiente. Enquanto o processo não rola. Isso é minha posição como gestor. Não quer dizer que estou julgando ou não. O julgamento, eu até entendo, como você disse aqui é diferente porque há um órgão julgador. A empresa não tem. Mas ela pode até dar entrada fora, julgar e etc. Mas, enquanto isso não acontece, quando chega até mim, o que tenho de fazer é o afastamento dele. Escutar os dois e dizer que você vai ser afastado temporariamente enquanto esse processo não rola’. É a mesma coisa que estou falando. Não estou dizendo que tem de ir por um caminho A, B ou se tem que ser denúncia ou não. O que estou pedindo é que o Conselho do clube, seguindo o estatuto do clube, tome as devidas providências. É isso que estou pedindo. Vale muito mais para mim Tatiana, pessoa física, a demissão dele, a punição interna do que a externa. Porque, para mim, isso vale de que, no clube, não pode fazer o que quiser”, argumentou. 

Edno rebate acusações

Em entrevista à Rádio Jornal, Edno rebateu as acusações de Tatiana. “Não estou aqui para passar a mão (na cabeça) de ninguém. Toda minha família está sofrendo bastante. A esposa deles, meus pais... as consequências são mais graves do que ela imagina. Ficar com inverdades? Não admito. Vamos apurar os fatos, mas com verdades, não mentiras”, disse. 

Segundo o presidente, o acordo inicial entre Errisson e Tatiana, em que o superintendente doaria cestas básicas para evitar o andamento do processo no Conselho, foi uma ideia da ex-diretora. O mandatário cita “uso eleitoral” como motivação. 

O acordo partiu dela, não de mim. Tenho a conversa no whatsapp que prova isso. O que eu negociei foi a quantidade de cestas. Mas por que foi feita tanta insistência pelo acordo? E por que estourou agora, há dez dias da eleição? É claríssimo (o uso eleitoral). Um dos pontos desse acordo era ele terminar o mandato e acabou. Eu até disse a ela, "se você quiser, ele sai agora" e ela disse que ele poderia terminar o mandato", relatou. 

"Ela fez a denúncia no Conselho e ela que procurou o acordo. A única coisa que Edno Melo acordou foi a quantidade de cestas. Ela queria que fosse paga duzentas cestas e eu disse: ‘Tati, ele não tem condições de pagar, mas ele pode pagar cinquenta?’ Cinquenta cestas a R$ 50 dá R$ 2.500. É o depósito que foi feito. O Lar do Neném (ONG), inclusive, foi uma indicação minha e eu até disse a ela para ir lá entregar também. Espero que tudo seja apurado com veemência, usando a força da lei. Se ela não estiver falando a verdade, que ela pague também”.

Edno também rebate outros dois pontos citados por Tatiana. O primeiro, de que um membro de uma torcida organizada teria sido procurado por Errisson para fazer uma falsa denúncia de injúria racial conta a ex-diretoria. A outra, de que mais ex-funcionárias do clube teriam sofrido o mesmo tipo de importunação sexual.

Uma das pessoas que mais combate torcida organizada sou eu. Já fui vítima dela. Ela não gosta de mim. Já tive de andar várias vezes com segurança porque eu bato de frente com ela. Como um membro dela fazia uma situação dessas. É fácil resolver: basta chamá-lo e perguntar se isso aconteceu”, disse. "E se existe isso (denúncias de ex-funcionários), que ela dê os nomes das pessoas e as pessoas testemunhem a favor dela. Eu não estou aqui pra defender ninguém. Se existiu o dolo, que ele seja punido. Agora, ela não está dizendo que existem mais quatro funcionárias? Que ela apresente essas quatro funcionárias, o depoimento delas e está encerrado. Quando se trabalha com a verdade não tem problema".