Vacinação

Na contramão da Saúde, Anvisa deve aprovar doses de reforço da mesma vacina

A decisão final, contudo, é do Ministério da Saúde

Anvisa - Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) delibera na tarde desta quarta-feira (24) sobre a inclusão das doses de reforço da Pfizer, da Janssen e da AstraZeneca na bula das vacinas. A tendência é que o órgão regulatório aprove doses de reforço homólogas, isto é, do mesmo imunizante. A decisão final, contudo, é do Ministério da Saúde.

A pasta anunciou na terça-feira (23) da semana passada que estenderá a dose de reforço a todas as pessoas a partir de 18 anos que tenham completado o ciclo de imunização há, no mínimo, cinco meses. A orientação do ministério dá preferência ao reforço com a vacina da Pfizer, independente se a pessoa tiver tomado essa vacina, a CoronaVac ou a da AstraZeneca. A decisão já foi formalizada com a publicação de nota técnica.

Há uma exceção quanto à Janssen: segundo o anúncio, quem tomou uma dose deverá receber a segunda com, pelo menos, dois meses de intervalo. Só então, cinco meses depois, estaria apto a tomar o reforço.

Como mostrou O GLOBO, a decisão unilateral sobre as doses de reforço abriu fissuras na relação com a Anvisa, que já estava desgastada. Interlocutores disseram à reportagem que houve desconforto e irritação entre os diretores do órgão regulatório, que não foram consultados antes do anúncio. Diante desse cenário, a reunião da diretoria colegiada é considerada uma saída técnica.
 

"É uma reunião motivada por entregas que temos que fazer à população e bem como de ofício, diante do que temos, dos posicionamentos adotados pelo gestor do nosso Programa Nacional de Imunizações, que é o Ministério da Saúde. Efetuaremos, também, tanto na relatoria, quanto no voto dos diretores, o posicionamento que entendemos (que) trará uma maior tranquilidade à população e poderá ser um assessoramento de Estado, conforme essa agência tem feito", afirmou o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres.

Secretários de saúde, técnicos e integrantes da Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 (Cetai) também ficaram de fora do debate. A avaliação, nos bastidores do ministério, é de que o anúncio do ministro Marcelo Queiroga foi feito de forma precipitada.

A Anvisa oficiou a pasta para saber os dados e os motivos que embasaram as decisões. Outros pontos levantados pela Anvisa são a demonstração de eficácia e se haverá acompanhamento após a administração dessas doses.

Antes, a dose de reforço se restringia a idosos e a profissionais de saúde, considerados grupos de risco para a Covid-19. Imunossuprimidos — pessoas com baixa imunidade, isto é, com câncer, HIV ou transplantadas, por exemplo — recebem a chamada dose adicional, já que precisam de uma dose extra para desenvolver uma resposta imunológica satisfatória.