Cinema

Com grandes atuações, 'Casa Gucci' retrata a queda de um império familiar

Filme sobre uma das mais poderosas empresas da moda chega ao Brasil nesta quinta-feira (25)

Filme "Casa Gucci" - Divulgação

A intimidade dos muitos ricos - com seu estilo de vida inalcançável para a maioria - costuma despertar uma insaciável curiosidade em quem quer que seja. É um interesse quase inevitável, que o experiente diretor Ridley Scott sabe manipular bem em “Casa Gucci”. O alardeado longa-metragem chega nesta quinta-feira (25) aos cinemas brasileiros, permitindo ao espectador “olhar pelo buraco da fechadura” o bastidor de intrigas, crimes e extravagâncias de um dos sobrenomes mais poderosos do mundo da moda.



Auge e derrocada de um império

Scott reuniu um elenco estelar para recontar os fatos que levaram ao fim trágico de um dos herdeiros da famosa grife italiana, Maurizio Gucci (Adam Driver), assassinado a mando de sua ex-esposa em 1995. Embora também pegue carona na recente onda de conteúdos “true crime” (sobre crimes reais), o filme foca menos nos detalhes que envolvem essa morte e mais na trajetória de auge e queda de um império familiar.

Começo, meio e...

Com 2h37 de duração, o longa tenta dar conta de um período de três décadas. No seu primeiro ato, a trama acompanha o início da relação entre Maurizio e Patrizia Reggiani (Lady Gaga). É um início divertido, que leva o público a torcer pela felicidade do casal, ainda que algumas tensões já estejam postas. Os demais capítulos, no entanto, tratam de desmontar essa aura de encanto causada pelo encontro de dois jovens apaixonados.
 



Com lente de aumento

Existe um equilíbrio na forma como o roteiro relata os acontecimentos e retrata seus protagonistas, sem maniqueísmos. O casamento segue uma linha tênue entre amor e interesse. A socialite usa seu poder de manipulação para ascender dentro de uma rígida estrutura hereditária, mas acaba beneficiando apenas o marido, que a julga por seus métodos escusos. Por mais que tente ser respeitada como uma legítima Gucci, ela é sempre lembrada que não pertence àquela família. Essa visão dá ao espectador a possibilidade de enxergar a personagem para além da caricatura de uma alpinista social, mas sem ser condescendente com seus atos.

Mesmo antes de sua estreia, “Casa Gucci” já vinha sendo apontada como uma possível presença garantida nas listas de premiações do próximo ano. É bem provável que isso de fato aconteça, mas através do seu elenco. Com uma interpretação assertiva, Lady Gaga firma seu lugar como estrela de Hollywood. Ao lado da atriz e cantora, Adam Driver faz o contraponto perfeito ao entregar uma performance contida.

Irreconhecível como Paolo Gucci, Jared Leto consegue dar vazão a sua natureza excêntrica em um papel que lhe cai como uma luva. Algo semelhante acontece com o veterano Al Pacino, que evoca em seu Aldo Gucci os clássicos mafiosos que já interpretou no cinema. Vale destacar também as rápidas e marcantes participações de Jeremy Irons, na pele do enclausurado Rodolfo Gucci, e Salma Hayek, que interpreta a amiga e cúmplice de Patrizia, Pina Auriemma.

Com um pano de fundo fashionista, além das cenas gravadas em belas locações da Itália, o filme não poderia deixar de transbordar glamour e sofisticação em cada cena. Penteados, figurinos e a trilha sonora demarcam as transições entre as décadas de 1970, 1980 e 1990. O absurdo e a cafonice são abraçados da caracterização dos personagens às interpretações dos atores, construindo um retrato ácido de uma elite em decadência.