PSDB: prazo para prévias e auditoria sobre suposto ataque hacker
A sigla pretende realizar uma auditoria para investigar o suposto ataque hacker que teria impedido, no domingo passado (21), a conclusão do pleito
A três dias do prazo de domingo (28), definido pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo, como data de conclusão das prévias presidenciais, o partido não tem uma nova ferramenta de votação e coloca esse prazo em xeque.
Paralelamente, a sigla pretende realizar uma auditoria para investigar o suposto ataque hacker que teria impedido, no domingo passado (21), a conclusão do pleito.
Em entrevista à imprensa nesta quinta-feira (25), Araújo frustrou a expectativa de anúncio de data para a retomada da votação, que está acirrada entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS). O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio também participa, mas sem chances de vencer.
As três campanhas pressionam pela retomada da votação. Araújo diz que a expectativa é a conclusão até domingo. "Estou torcendo", disse.
Já o deputado federal Carlos Sampaio (SP), vice-presidente do PSDB, admitiu não saber se a eleição será no domingo e afirmou que não há definição de data. "Evidentemente as medidas que estão sendo tomadas pelos técnicos é para evitar o que aconteceu no domingo passado."
O PSDB resolveu aguardar dez dias antes de acionar a Polícia Federal para apurar o suposto ataque que teria derrubado o aplicativo de votação das prévias, desenvolvido pela Faurgs (Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Nesta quarta (24), a Faurgs divulgou que considerava "muito plausível a ocorrência de um ataque de hackers" ao app.
Nesse período, o partido vai cobrar explicações à Faurgs e vai realizar uma perícia, segundo Sampaio, responsável por questões jurídicas da sigla.
"Contatamos os 3 advogados do PSDB e fixamos um prazo de 10 dias para realizar todas as diligências necessárias para apontar se as causas desse congestionamento [no app] foram o ataque de hacker ou não", disse.
A primeira medida anunciada pelo deputado nesta quinta é o próprio contato com a Faurgs. Além disso, o partido deve acionar uma empresa para realizar uma auditoria que aponte as causas do congestionamento.
"Com essa auditoria feita, nós temos uma perícia. E é essa perícia que vai apontar a tipificação, se foi um um crime cibernético que impediu a divulgação de um resultado", completou. Com esses resultados, o partido acionaria a PF, ainda de acordo com Sampaio.
Paralelamente, a fim de retomar a votação até domingo, o PSDB segue testando dois aplicativos –Beevoter e Eleja Online– para substituir a ferramenta de votação da Faurgs, que travou impedindo a conclusão das prévias.
A BeeVoter avançou até a fase final dos testes realizados pelo partido, mas as campanhas indicaram que ajustes seriam necessários. Ao longo da noite e da madrugada, a empresa será submetida a novas avaliações para implementação dessas correções. Os testes da Eleja Online, menos avançados, também continuam.
Se os aplicativos forem aprovados na madrugada, haverá reunião entre o presidente do PSDB, Bruno Araújo, e as campanhas na manhã de sexta-feira (26) para definir quando e como a votação será retomada -e se deve durar mais de um dia para reduzir o fluxo de acessos ao app.
"Vamos ouvir os candidatos sobre o procedimento, quando começar e quando encerrar a votação", disse Araújo.
"Nessa circunstância, se houver a confirmação por parte da empresa e não houver nenhum agente externo que o impeça, as eleições estarão realizadas até domingo", completou.
Araújo afirmou ainda que as dificuldades para encontrar um instrumento apto a concluir a votação se devem "ao nível de exigência que o PSDB e as candidaturas estão impondo às empresas". "Muito provavelmente poucas empresas no Brasil possam resistir a isso."
Na noite de quarta (24), os ex-presidentes do PSDB decidiram pedir ao partido que acionasse a Polícia Federal para investigar o suposto ataque hacker.
"A apuração da Faurgs apontou como causa mais provável um congestionamento de acessos incompatível com o número de eleitores cadastrados. Portanto, a Faurgs considera muito plausível a ocorrência de um ataque de hackers ao aplicativo, a partir das 8h15 -uma vez que desde às 7h o sistema funcionou perfeitamente, com cerca de 2.000 votos computados. Após isso, até o final da votação, ainda mil votos foram computados", disse a Faurgs, em nota, na quarta.
A Faurgs afirmou que só pode apurar as causas da "anormalidade do sistema" se o PSDB fizer essa demanda e que essa investigação deve ser feita por outras empresas especializadas, de forma independente da fundação.
A fundação informou ainda que 44.828 eleitores do PSDB se cadastraram no aplicativo, que teria condições de realizar a votação com esse número de acessos, pois testes nesse sentido já tinham acontecido.
"Em 21 de novembro, dia da votação, foi verificada uma demanda atípica de capacidade de processamento de dados entre 8h e 18h", afirma a fundação.
"Diante disso, a Faurgs esclarece que, nas condições normais contratadas, o software desenvolvido funcionou perfeitamente. [...] A instabilidade, portanto, se deu por condições externas ao aplicativo", explica a entidade na nota.
Para a Faurgs, "garantidas as condições normais, o aplicativo está apto para sua utilização". O PSDB, no entanto, decidiu trocar de ferramenta para concluir o pleito e, desde terça (23), testou apicativos de três empresas.
O contrato com a Faurgs, para criar o app, foi de cerca de R$ 1,3 milhão, sendo que aproximadamente metade do valor já foi paga. O partido não descarta renegociar o restante, alegando que a ferramenta não cumpriu seu propósito. A Faurgs reitera que, com o cadastramento dos filiados na ferramenta, cumpriu 60% do contrato.
Na segunda-feira (22), o presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que o partido iria concluir o pleito até o próximo domingo.
No último domingo, o PSDB fez uma votação híbrida. Num evento em Brasília, feito para anunciar o vencedor, mas que terminou de forma melancólica sem os resultados, puderam votar por meio de urnas eletrônicas os prefeitos e vices, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e vices e os ex-presidentes do partido.
Os filiados sem mandato e os vereadores deveriam votar pelo aplicativo, que não funcionou. A votação, que seria das 7h às 15h, foi ampliada para 18h e acabou suspensa. Outros tucanos do alto clero que não viajaram a Brasília e preferiram votar pela ferramenta online tampouco conseguiram votar.
No início do processo das prévias, o PSDB decidiu desenvolver do zero um aplicativo de votação próprio porque tinha a intenção de doá-lo aos demais partidos, incentivando prévias em outras legendas.
A ideia era alavancar o PSDB como o partido com expertise em votações internas, uma referência nacional numa iniciativa inovadora -imagem que já naufragou.
A suspensão da votação agravou a divisão interna entre Doria e Leite, que voltaram a trocar acusações. Enquanto Doria e Virgílio propuseram retomar a votação no próximo domingo, a campanha de Leite queria a retomada na terça, o que não foi possível.
De acordo com o PSDB, 44,7 mil tucanos (cerca de 3% do 1,3 milhão de filiados) se inscreveram para a votação em que cada grupo representa 25% da pontuação: filiados; prefeitos e vices; vereadores e deputados estaduais; deputados federais, senadores, governadores e vices, ex-presidentes do PSDB e o atual.
São Paulo, pela concentração de mandatários e filiados cadastrados, larga com 35% de peso nas prévias. Além do Rio Grande do Sul, Leite tem o apoio de estados chave no tucanato, como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Araújo informou que de 62% a 65% dos votos, considerando os pesos desiguais dos grupos de votação, foram dados no domingo, pela urna e aplicativo. Os resultados estão blindados e não serão apurados até que haja a votação complementar.