Paulo Freire é o primeiro brasileiro a ganhar estátua em Universidade de Cambridge
Professores definem obra como símbolo de 'tolerância e diálogo' em meio à 'guerra cultural'
Paulo Freire pode não ser tão conhecido na Inglaterra, mas é um dos intelectuais mais influentes da educação. De acordo com análise do professor Eliott Green, da London School of Economics and Political Science, "Pedagogia do oprimido" é o terceiro livro mais citado no mundo por pesquisadores de ciências humanas, à frente, inclusive, de clássicos como "O capital", de Karl Marx.
Está aí um dos vários motivos sustentados por um grupo de acadêmicos britânicos da Universidade de Cambridge para justificar a instalação de uma escultura reproduzindo o rosto do célebre pensador na instituição. Freire é o primeiro (e único) brasileiro a ganhar uma escultura por lá.
Inaugurado nesta semana, num dos corredores da biblioteca da Faculdade de Educação, o busto em bronze é definido pelos professores do local como um símbolo de "tolerância e diálogo" em tempos de "guerra cultural" no ambiente acadêmico.
Alvo de movimentos bolsonaristas — neste ano, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se referiu ao autor como energúmeno —, Paulo Freire se tornou mais lido do que nunca neste 2021 em que ele completaria cem anos. Como noticiou o GLOBO, a procura por títulos do Patrono da Educação Brasileiro registra um crescimento de até 705%.
A estátua adquirida pela Universidade de Cambridge foi criada pelo artista plástico Murilo Sá Toledo. A obra é idêntica às dezenas de bustos encomendados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para celebrar o centenário de Freire, neste ano, em assentamentos espalhados pelo país.
No Reino Unido, a instalação da estátua foi marcada pela realização do seminário "Por que o espectro de Paulo Freire está assustando a direita brasileira?", sobre o significado político do legado do autor.