Gastronomia

Quarta onda do café sinaliza um mercado de consumidores experientes

Quarta onda do café anuncia mercado estruturado e consumidores mais experientes nas cafeterias

Café especial ganha espaço no mercado - Foto: Paullo Almeida/Folha de Pernambuco

Se é uma marolinha ou não, a quarta onda do café já dá seus primeiros movimentos em torno da bebida mais consumida no Brasil. Ainda em fase de consolidação, o termo se destina ao processo evolutivo, que vai da colheita do grão ao consumidor final, anunciando que, sim, “estamos cada vez mais práticos, exigentes e atentos à cadeia produtiva”, segundo os profissionais da área consultados pela reportagem.  
 



Mas não adianta falar de uma quarta onda, sem mencionar o que persiste do movimento anterior, que ganhou espaço nos anos 2000, abrindo caminhos para a cena atual. “Na terceira, tivemos a disseminação de vários métodos de preparo. Os baristas ganharam força e as pessoas começaram a ir para as cafeterias apreciar, de fato, o café”, pontua o barista Alan Cavalcanti, que aproveitou a tendência da época, através do seu Malakoff Café, com sete métodos no balcão, a ponto de ser considerado um dos primeiros endereços do Recife a oferecer informação agregada ao consumo.

Alan viu o #coffeelover se espalhar por aí na mesma velocidade em que o mercado incorporou de vez o termo “produto especial”. A bebida deixa de ser um me­ro acompanhamento das rodas de conversa para se tornar o item mais importante da mesa. Cor, textura e aroma começam a ser discutidos, tal como um vinho precioso na taça. Açúcar na xícara, nem pensar!  

Processo evolutivo 

Passado o período de isolamento rígido da pandemia, cá estamos com o público nas ruas. Ele, e muito menos o profissional da área, não é mais o mesmo. Os últimos meses aceleraram as tendências do setor para uma aproximação maior das pessoas com os produtores, aumentando a noção de baristas e clientes em relação à cadeia produtiva e, finalmente, o sabor do café. 

“Passamos pela fase de volume no consumo e agora estamos na fase de formação da cultura de consumo, que se relaciona com o nível de entendimento sobre a qualidade da bebida. A relevância agora é para o sensorial e a experiência, independente das espécies do café”, adianta a barista e professora na área, Lidiane Santos. Ela, que através do Kaffe - Torrefação e Treinamento, vivencia as novidades de mercado, também percebe  que as cafeterias passaram a enxugar a quantidade de métodos. “É como se isso não fosse mais tão importante para a experiência na xícara. O que o cliente quer hoje é um café recém-torrado, moído na hora, com um sensorial em evidência”, completa.

Com ou sem açúcar? 

Uma das características mais marcantes da terceira onda é, sem dúvida, a questão do açúcar. Segundo os profissionais, o ingrediente é capaz de mascarar tudo o que se quer  identificar em termos de notas sensoriais. “Adicioná-lo ao café especial é pegar uma matéria-prima, que passou por diversas etapas para ter uma qualidade altíssima, e estragar todo o processo, já que falamos de um fruto que tem seu próprio açúcar.
 

Em contrapartida, utilizá-lo pode enaltecer o dulçor. Mas puxo agora também outra questão: colocar o leite, que vai desestruturar o sabor do café, também não é mascarar sabor?”, reflete Gustavo Rocha, consultor da rede Greenmix e barista do Versado Cafeteria. Para ele, a conclusão para os dias atuais é: “o profissional dará um norte, mas a escolha é individual”.  

Tudo se resume ao sabor 

O novo momento também permite algumas valorizações e posicionamentos, na opinião de George Gepp, à frente da cafeteria SO LO Brewing. Até a terceira onda, o barista era uma pessoa contratada ou capacitada para operar o equipamento e falar de café dentro de algumas limitações. Mas, agora, ele de fato encara o consumidor mais experiente, a ponto de ter que entender melhor o processo que já começa no campo. 

“A quarta onda é mais voltada para o consumo do que para a cafeteria. E se ela não acompanhar o consumidor, tende a ter um fracas­so em curto e médio prazo. É impos­sível não lidar com um cliente em que ele não se sinta confortável ou viável. Hoje em dia, com a evolu­ção da agricultura e dos processa­mentos, o consumidor consegue falar em sabor de café de maneira ca­da vez mais específica”, completa.

Serviços:

SO LO
Endereço: Rua dos Arcos, 60, loja 4, Poço da Panela
Instagram

Kaffe - Torrefação e Treinamento

Endereço: av. Conselheiro Aguiar, 2178, loja 01, Boa Viagem
Instagram

Versado Café

EndereçoRua do Cupim 259, Graças
Instagram