Almério reverbera Cazuza em 'Tudo é Amor'
Disco, disponibilizado nas plataformas digitais, traz de volta Cazuza em sotaque pernambucano
Arte e engajamento é um combo para poucos. Embora a Música Popular Brasileira em toda sua diversidade seja terreno fértil para ir além do entretenimento. Em tempos de caos, é um caminho que por vezes salva, e “Tudo é Amor - Almério Canta Cazuza” integra esse rol de alento sonoro.
Recentemente disponível nas plataformas digitais - para ser ouvido e reverberado nas onze faixas que o compõem – o disco “É um grito de amor no mundo”, como diria o próprio artista pernambucano, imbuído em dar voz aos brados do cantor e compositor carioca. “Eu me preocupei em mergulhar sobre a obra de Cazuza e chegar nesse lugar de entendimento, da minha interpretação para poesias e canções atuais, viscerais e tão infinitas desse poeta”, ressalta Almério.
Com direção artística de Marcus Preto e produção musical de Pupillo (ex-Nação), o álbum veio de um convite da produtora sociocultural Ione Costa, mais precisamente de uma ligação feita por ela em julho de 2020, leia-se: em meio ao caos de uma pandemia desenfreada.
“Ela estava no Rio e me ligou. Eu estava em Caruaru na casa de minha mãe e em um dos momentos mais difíceis da pandemia. Ela me perguntou se eu sabia cantar ‘O Tempo não Para’ e eu disse que sim, e ela pediu um disco meu cantando Cazuza”.
Almério arcou com o desafio de trazer de volta o ídolo da geração dos anos de 1980, representante manifesto de um País, à época, sedento de redemocratização pós período sombrio de uma ditadura militar – afugentada musical e poeticamente pelo terceiro disco de Cazuza “Ideologia” (1988), obra atemporal e em sintonia em pleno 2021, com a clássica "Brasil" entre as faixas.
"Cantar essa música depois de registros feitos por Gal e pelo próprio Cazuza, foi de uma responsabilidade enorme. Eu precisava de uma voz forte para cantá-la comigo, veio o ‘planeta Ney’ para fortalecer uma canção que atravessa os tempos, nos alertando sobre mazelas estabelecidas em nosso País”, contou Almério, ressaltando sobre a participação de Ney Matogrosso - que consolidou a representatividade da letra escrita por George Israel, Nilo Romero e Cazuza.
De outras obras de Cazuza, veio “Eu Queria Ter uma Bomba”, e coube à cantora paulista Céu se postar contundente para uma “solidão a dois”. “Ela trouxe densidade para a música, trouxe uma dor... e do jeito dela”.
O garimpo das faixas foi feito a “quatro cabeças”, com Almério, Ione Costa, Marcus Preto e André Brasileiro, empresário do músico e à frente da direção geral. Hits como “Minha Flor, Meu Bebê” e “O Nosso Amor a Gente Inventa” também estão entre as canções escolhidas.
“Sou um cantor e compositor brasileiro, pernambucano e acima de tudo agrestino. Tenho respeito pelo que faço, por minhas batalhas, existências, cantos e escritos. ‘Tudo é Amor’ é contra essa desumanização que a gente está vivendo. O disco tem muitos recados e o caminho será sempre esse (o do amor)”, reforça Almério.
Parças do Bem e Entra Apulso
Sobre “Tudo é Amor” como nome do álbum, não foi em vão. A idealizadora da empreitada, a carioca Ione Costa, está à frente da produtora “Parças do Bem” – projeto que, com o disco, consolida o seu elo com o Recife, cidade da comunidade Entra Apulso. É para lá que parte dos recursos angariados pelo disco, serão direcionados.
“Ione é produtora de eventos socioculturais e isso me interessa muito. Ela cuida dessa comunidade há anos e parte do que for arrecadado vai para a construção de casas populares por lá. ‘Tudo é Amor’ cuida de pessoas e traz Cazuza de novo para fortalecer nossas lutas em um Brasil tão injusto. O disco vem para lembrar que a gente está aqui com coragem e inspiração”, arremata Almério.