'O rinoceronte na parede': livro de Frederico Toscano mostra o cotidiano sobrenatural
Publicada pela editora Urutau, obra reúne 16 contos que transitam entre subgêneros da literatura fantástica
Onde habita o sobrenatural? Para quem lê “O rinoceronte na parede” a resposta vai além do óbvio. No segundo livro de contos do pernambucano Frederico Toscano, recém-publicado pela editora Urutau, de São Paulo, situações insólitas podem brotar durante o trabalho das lavadeiras numa curva de rio, por exemplo, ou nas visões fantasiosas de uma menina dentro de um apartamento de classe média.
A publicação reúne 16 textos que transitam entre diferentes subgêneros do que é classificado como literatura fantástica. A novidade chega ao público na sequência de “Carapaça Escura”, que o autor lançou em 2019, através da editora Patuá. “São histórias que foram escritas após a publicação do primeiro livro. Portanto, não são sobras do trabalho anterior”, ressalta o escritor.
Em sua primeira compilação de contos, Toscano focou no horror. Nesta segunda publicação, as narrativas de terror permanecem, mas dividem espaço com outras expressões do fantástico, como a fantasia, a ficção científica e o “weird fiction”. “Acho que entrego um livro mais regular, sem tantos altos e baixos. Ao mesmo tempo, há uma variável maior dentro do gênero, o que pode fazer com que a leitura encontre um público mais amplo”, avalia.
Além do modo fantástico de contar uma história, todos os textos têm em comum o fato de serem ambientados em Pernambuco, tendo como cenários diferentes regiões do Estado. Esse recorte geográfico, no qual o próprio escritor também está inserido, acaba trazendo para a escrita um claro viés social. “Não é que eu faça uma literatura panfletária. Só acho que, ao escrever a partir do lugar onde vivo, é impossível ignorar as questões sociais que são evidentes”, pontua.
Entre acontecimentos assombrosos ou absurdos, Toscano insere assuntos presentes no cotidiano, como fanatismo religioso, desigualdade social, precarização do trabalho e sobrecarga materna. “O fantástico exagera nas situações, obrigando o leitor a olhar para aquilo que seria invisível para ele antes. Claro que esse tipo de literatura fantástica tem camadas e as pessoas podem acessá-las ou não. Como qualquer outra forma de arte, você pode tê-la como puro escapismo, mas acho que a questão social faz parte da visão de mundo e torna a história muito mais rica e aprofundada”, completa.
Serviço
“O rinoceronte na parede”, de Frederico Toscano
Editora Urutau, 200 páginas
R$ 45
Disponível para compra no site da editora Urutau