Alckmin é pressionado por aliados a desistir de ser vice de Lula e disputar Governo de SP
Integrantes do PSD, aliados e pessoas no entorno do ex-governador apontam os problemas na lentidão para uma decisão
Integrantes do PSD, aliados e pessoas no entorno do ex-governador Geraldo Alckmin (SP), que está prestes a se desfiliar do PSDB, tentam convencê-lo de que o melhor caminho para ele é disputar o Governo de São Paulo e esquecer da ideia de ser candidato a vice numa chapa nacional encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Amigos de Alckmin têm alertado o tucano sobre os riscos da demora em definir qual o projeto irá encampar e a sigla à qual vai se filiar. Eles dizem que a lentidão para uma decisão, aliada aos gestos de que ele pode se unir ao petista, tem irritado parte do eleitorado que hoje estaria disposto a votar nele para o governo paulista.
Por isso, têm defendido que o ex-governador decida logo o rumo que vai trilhar. Um dos que defendem que ele dispute o Palácio dos Bandeirantes é o ex-deputado estadual Pedro Tobias (PSDB), amigo de longa data de Alckmin.
"Toda a história dele e a nossa foi construída em São Paulo. Se ele sai, é claro que vou apoiar. Mas quem ganhará com isso é o PT em SP. Uma faixa de eleitor do Geraldo aqui acaba perdendo na história", avalia Tobias.
O PSD, partido que quer atrair o tucano, tem insistido para que ele permaneça na briga por São Paulo.
Nesta quinta, um tipo de panfleto de autoria de um grupo em redes sociais intitulado "Alckmistas por São Paulo" circulou por números ligados ao PSD. Com uma foto de Alckmin, trazia a frase: "Precisamos manter o foco, continuar construindo a ponte entre Geraldo Alckmin e o eleitor para garantir a vitória em primeiro turno".
A ofensiva ocorre no dia seguinte a um encontro de Alckmin com o prefeito de Limeira (SP), Mario Botion (PSD), na quinta-feira (2), em que o ex-governador afirmou que é necessário ter "equilíbrio" e "convergência" dentro do contexto eleitoral para fazer o Brasil avançar nos próximos anos.
O relato é do próprio prefeito, que recebeu Alckmin para uma conversa junto com o também ex-governador Márcio França (PSB).
"Ele fez uma reflexão de que o momento que o país está passando é um momento de extremos e isso não constrói, não é positivo. Dentro desse contexto, ele colocou essa questão de que era importante ter equilíbrio e convergência neste momento", afirma.
A conversa foi relatada à cúpula do PSD e a outros aliados de Alckmin, que viram nos gestos uma inclinação de Alckmin a encampar o projeto nacional.
Segundo Botion, Alckmin disse que recebeu convite para ser vice de Lula e está avaliando. Outros políticos envolvidos na negociação ainda não confirmam ter havido esse convite.
"Eu perguntei: procede que o senhor pode ser vice do Lula? E ele disse: nós fomos convidados a isso e estamos avaliando", disse Botion. Alckmin ainda afirmou, segundo ele, que definirá seu destino nas próximas semanas.
Botion quer que ele se lance candidato ao Governo de São Paulo.
"Em nenhum momento ele afirmou que vai ser vice do Lula e em nenhum momento ele descartou a possibilidade de disputar a eleição ao Governo de São Paulo. Não fechou possibilidade de uma coisa nem outra", relatou o prefeito.
Como mostrou a Folha, o PSB mostrou a Alckmin pesquisas internas que indicam que caso ele se una a Lula nacionalmente as chances de o petista vencer em primeiro turno aumentam.
Os dados apresentados a Alckmin são parciais de levantamentos conduzidos com eleitores da Grande São Paulo. O partido está fazendo nova rodada de pesquisa, desta vez no interior, onde o ex-governador também tem entrada.
Por outro lado, o estudo do PSB mostraria que o ainda tucano perderia metade dos eleitores caso decidisse ir para a disputa junto a Lula.
A sigla fez o levantamento com o intuito de estimular Alckmin a entrar na disputa nacional. Isso ocorre enquanto PSB e PT debatem os termos de uma eventual aliança. Isso envolveria o PT apoiar o PSB em cinco estados, entre eles São Paulo. Para isso, os petistas teriam de abrir mão da candidatura de Fernando Haddad (PT) para Márcio França (PSB).
Segundo pesquisa Datafolha de setembro, Alckmin encabeça a corrida eleitoral para o Governo de São Paulo em 2022, com 26% das intenções de voto.
Já Fernando Haddad (PT) vem numericamente em seguida, com 17%, e lidera com 23% em um cenário sem Alckmin.
No primeiro cenário estimulado pelo instituto, após Alckmin (26%) aparecem Haddad (17%) e Márcio França (com 15%, empatado tecnicamente com o petista) e o líder de movimentos de moradia Guilherme Boulos (PSOL, com 11%).
Na quinta, Lula disse em entrevista para a Rádio Gaúcha que espera Alckmin definir seu partido para decidir sobre a possibilidade de o ex-governador de São Paulo integrar sua chapa para as eleições de 2022 como candidato a vice.
Dizendo que teve "extraordinária relação" com Alckmin quando era presidente, Lula indicou que a possibilidade de aliança é real, mas depende também de acerto partidário. De saída do PSDB, o ex-governador tem o PSD e o PSB como principais opções de filiação.
No PSDB, Doria fechou a porta para uma candidatura de Alckmin ao governo estadual ao filiar o seu vice, Rodrigo Garcia, ao partido. O tucano cumpriu o acordo com Garcia, que era do DEM, de lançá-lo à sua sucessão em 2022.
Alckmin aguardou a definição das prévias do PSDB sobre o candidato que representará o partido na disputa à Presidência em 2022. Apoiou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que falava em tentar segurá-lo na sigla. Com a vitória interna de Doria, porém, a saída do ex-governador paulista passou a ser considerada irreversível.