Ex-sócio da boate Kiss nega ter dado autorização para show pirotécnico e pede perdão a familiares
Os fogos provocaram as chamas que se espalharam facilmente graças à espuma, tóxica e inflamável, segundo a investigação
O empresário Elissandro Spohr, conhecido como Kiko, foi o primeiro dos quatro réus do incêndio na Boate Kiss a prestar depoimento. Durante o interrogatório, realizado ontem, no oitavo dia de júri, o ex-sócio da casa noturna de Santa Maria (RS) disse que não havia mais do que 800 pessoas na noite da tragédia, que causou 242 mortes em janeiro de 2013. Afirmou, ainda, que não deu autorização para a banda Gurizada Fandangueira fazer show pirotécnico e disse que a espuma colocada no teto teve aval de um engenheiro.
Os fogos provocaram as chamas que se espalharam facilmente graças à espuma, tóxica e inflamável, segundo a investigação. De acordo com o depoimento de Kiko, o engenheiro recomendou a espuma porque os vizinhos reclamavam do barulho. Kiko também disse que gostaria de poder “dar um abraço” nos familiares das vítimas da tragédia.
"Sei que vocês me odeiam. Não consegui pedir desculpas pra ninguém. Como eu ia chegar em alguém? Uma pessoa veio me dar um tapa. Gente que eu conhecia me mandava mensagem mandando eu me matar. E aí eu fui preso. Cara, eu aprendi a chorar em silêncio dentro da cadeia."
Mais cedo, sobreviventes do incêndio da boate Kiss e parentes de vítimas deixaram a sala do Tribunal de Júri de Porto Alegre depois que o ex-prefeito de Santa Maria Cezar Schirmer afirmou que a investigação da Polícia Civil sobre o incêndio no estabelecimento, que matou 242 pessoas, foi "medíocre e espetaculosa" e que faltou isenção nas apurações.
"O inquérito foi feito pela imprensa, não era um inquérito sério", disse ele, acrescentando que não foi uma investigação "sóbria" e que parecia haver desejo de envolver a Prefeitura.
Schirmer afirmou que desde 1997 havia uma lei estadual que determinava que os planos de prevenção de incêndio, como os respectivos alvarás, eram de responsabilidade do Corpo de Bombeiros, que poderia inclusive determinar a interdição do estabelecimento caso fosse necessário.
"Não estou acusando o Corpo de Bombeiros, apenas dizendo que a responsabilidade por essas questões não era da Prefeitura. A Prefeitura recebia o documento do Corpo de Bombeiros", afirmou.
Schirmer afirmou que é uma estratégia da defesa dos acusados dizer que "falta mais gente no julgamento".
Em janeiro de 2013, quando ocorreu o incêndio na Boate Kiss, Schirmer estava em seu segundo mandato. O expediente criminal contra ele foi arquivado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul em julho de 2013, a pedido do Ministério Público.
O ex-prefeito de Santa Maria afirmou ainda que estava ali como testemunha, não como réu. Réus por homicídio culposo, os dois sócios da Boate Kiss são Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann. Spohr assumiu a boate em 2010. O ex-prefeito afirmou que a casa chegou a ser multada sete vezes por falta de documentação, mas que desde abril de 2010, quando foi emitido um alvará de localização, ela estava regular aos olhos da Prefeitura.
Em depoimento prestado ontem, o chefe do Estado Maior dos bombeiros no município de Santa Maria (RS) em 2013, o coronel Gerson da Rosa Pereira afirmou que o alvará da boate Kiss estava vencido desde agosto de 2012, mas que isso não impedia o funcionamento da casa. Afirmou ainda Chefe do Estado Maior dos bombeiros no município de Santa Maria (RS) em 2013, o coronel Gerson da Rosa Pereira afirmou nesta terça-feira que o alvará da boate Kiss estava vencido desde agosto de 2012, mas que isso não impedia o funcionamento da casa.
Segundo ele, os bombeiros aplicaram o que era norma na época e, depois da tragédia, houve diversas alterações na lei para aumentar a segurança. Afirmou que não era atribuição dos bombeiros fiscalizar revestimentos usados nas paredes, como a espuma, e ressaltou que as vítimas morreram não por causa do incêndio, mas por causa dos gases tóxicos emitidos pelo revestimento, que comparou ao usado pelos nazistas em campos de concentração.