Bolsonaro volta a atacar Moraes e diz que prisão de Zé Trovão é uma 'violência'
Durante a entrevista, Bolsonaro comentou as prisões do jornalista Oswaldo Eustáquio, do ex-deputado federal Roberto Jefferson e do caminhoneiro Zé Trovão
O presidente Jair Bolsonaro rompeu sua trégua com o Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira (8). Em entrevista ao jornal "Gazeta do Povo", Bolsonaro voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes, celebrar os atos do dia 7 de setembro e classificou de "abuso" a abertura de um inquérito contra ele.
Durante a entrevista, Bolsonaro comentou as prisões do jornalista Oswaldo Eustáquio, do ex-deputado federal Roberto Jefferson e do caminhoneiro Zé Trovão. O presidente chamou as decisões de "violência praticada por um ministro do Supremo", em referência a Alexandre de Moraes.
"Lamento a prisão do jornalista, do Zé Trovão, do Roberto (Jefferson), isso é uma violência praticada por um ministro do Supremo que agora abriu mais um inquérito em função de uma live que eu fiz há poucos meses. É um abuso", disse Bolsonaro.
Nesta quarta-feira, a maioria dos ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal votou para manter a prisão do caminhoneiro e youtuber Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão. Até agora, três dos cinco magistrados se manifestaram contra o pedido da defesa: o relator, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Cármen Lúcia, a última a votar, formando a maioria.
O presidente, logo depois, afirmou que Moraes estaria "no quintal de casa". Sem explicar a metáfora, Bolsonaro questionou que não estava desafiando o ministro, mas questionou se ele teria "coragem de entrar".
"É o que eu disse: ele está no quintal de casa. Será que ele vai entrar? Será que ele vai ter coragem de entrar? Não é um desafio para ele. Quem tá avançando é ele, não sou eu. Agora, isso interessa a todo mundo no Brasil."
Na última sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes determinou a abertura de um inquérito para investigar a declaração que o presidente deu em uma transmissão realizada nas suas redes sociais. Na ocasião, o presidente apontou uma ligação entre a vacinação contra a Covid-19 e o desenvolvimento da Aids, o que não é verdade.
O presidente voltou a falar que nunca pensou em sair das "quatro linhas da constituição", mas disse que outras autoridades estariam caminhando nessa direção. Segundo ele, essas pessoas não teriam o "beneplácito da lei".
"É inadmissível desmonetização por parte de um ministro do TSE, é inadmissível o que acontece por parte de um ministro do STF, isso é inadmissível. Nós estamos cada vez mais nos preparando para buscar o ponto de inflexão nisso, que ainda não chegou. Eu espero que essas pessoas não avancem mais, leiam a Constituição, entendam realmente qual é o sentimento da população, em especial daquele último movimento de 7 de setembro. Foram as ruas pedindo o quê? Liberdade", afirmou.
No dia 7 de setembro, durante manifestações em São Paulo e em Brasília, o presidente fez declarações de teor golpista, ameaçando que não iria mais obedecer decisões tomadas pelo ministro Alexandre de Moraes.
Entretanto, dois dias depois, pressionado, recuou e publicou uma carta ao povo brasileiro. No documento, disse que as declarações foram dadas no calor do momento. Nesta quarta-feira, durante a entrevista, Bolsonaro comentou pela primeira vez sobre os pedidos de manifestantes para que tomassem uma medida de caráter autoritário.
"Quais as consequências de uma medida que eles queriam que eu tomasse? Ficaria dois, três dias no braço do povo. E depois? Os problemas externos, os problemas internos. O aparelhamento da esquerda no Brasil. Eu até disse para alguns: o que aconteceu em 1967, quando explodiu a luta armada no Brasil, poderia ser quase nada do que poderia acontecer. Há uma luta de poder enorme no Brasil. A esquerda torcia para que eu saísse das quatro linhas. Eu tenho que ter juízo", disse.