POLÍTICA

André Mendonça começa tour de agradecimento aos evangélicos em igreja de Malafaia no Rio

Sob aplausos de um templo lotado, o ex-advogado-geral da União estava descontraído e brincou

O ex-advogado-geral da União, André Mendonça - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Começou nesta quinta-feira pelo Rio de Janeiro, mais precisamente pela igreja do pastor Silas Malafaia, na Penha, Zona Norte, o tour que o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça fará pelo país em agradecimento aos evangélicos.

Ele pretende participar de cultos Brasil afora com lideranças do segmento, que pressionou a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado a pautar a sabatina e o plenário a aprovar o seu nome para a Corte.

Sob aplausos de um templo lotado, o ex-advogado-geral da União estava descontraído e brincou logo na chegada: "Eu vim na igreja certa: Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no culto da vitória, após uma grande vitória (no Senado)."

Depois, Mendonça contou aos religiosos de onde tirou motivação até passar pelo crivo dos senadores. Chamado diversas vezes de pastor por Malafaia, um dos principais entusiastas de sua ida ao Supremo, Mendonça afirmou que “tinha que confiar na aliança”: "Eu não podia olhar para as adversidades. Eu tinha que olhar para o que Deus podia fazer."
 

Mendonça esperou por mais de quatro meses para ser sabatinado, o que só aconteceu na semana passada. Ele acabou sendo aprovado para a vaga do ex-ministro Marco Aurélio com uma vantagem maior do que era estimada — com 47 votos a favor e 32 contra. Ainda assim, foi o placar mais apertado para a aprovação de um magistrado entre todos os atuais integrantes da Corte.

"Num processo dessa natureza, você não pode olhar para os homens, não pode olhar para os boatos, para os rumores, para o impossível. Temos que olhar para Deus", disse Mendonça.

Indicado ao STF pelo presidente Jair Bolsonaro, que prometeu nomear um ministro “terrivelmente evangélico”, o futuro magistrado também lembrou de um diálogo que teve com o mandatário durante o período em que esperou pela sabatina.

"Eu disse ao presidente da República: “Um militar está preparado para a guerra. Agora, nós estamos preparados para a cruz”, disse Mendonça, completando na sequência: "Cumprindo uma promessa que havia feito ao povo brasileiro, (Bolsonaro) indica esse rapaz ao STF."

Mendonça explicou ainda uma frase que disse no primeiro discurso após ter seu nome aprovado pelo Senado — a declaração gerou incômodo em parte do grupo político que endossou a aprovação:

"Quando eu disse que (ser nomeado ministro do Supremo) era um salto para os evangélicos, deixa eu explicar... Porque se Deus fez comigo, Deus pode fazer com qualquer um. E qualquer um na mão de Deus é muita coisa."

Na ocasião, a fala do ex-advogado-geral da União causou estranheza porque horas antes, na sabatina CCJ, Mendonça reforçara a defesa do estado laico e democrático. Ele também opinou sobre temas polêmicos: apresentou-se ao colegiado como garantista, defendeu a autonomia do Congresso para decidir sobre prisão em segunda instância e apoiou o casamento entre casais homoafetivos.

Ontem, Malafaia saiu em defesa do futuro ministro: "Se a indicação do André Mendonça fere a laicidade do estado, o estúpido que disse isso quer dizer que no Supremo Tribunal Federal não pode ter católicos, espíritas nem judeus. No Supremo Tribunal Federal só pode ter ateus ou pessoas que não professam nenhuma religião."

O culto de agradecimento de ontem teve presença do governador do Rio, Cláudio Castro, do senador Romário, ambos do PL, partido de Bolsonaro, e o ex-secretário especial de Comunicação Social do governo federal Fábio Wajngarten, além de outros parlamentares e desembargadores do estado.

A marcha de Mendonça pelas igrejas, noticiou o colunista do GLOBO Lauro Jardim, inclui viagens ainda a São Paulo, Manaus e Goiânia, entre outras cidades. A posse do futuro magistrado está marcada para o próximo dia 16, véspera do encerramento do ano no Judiciário.

Indicado ao Supremo em julho por Bolsonaro, o nome de Mendonça sofreu resistência do presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que se recusava a pautar a sabatina e tinha como preferido para a vaga na Corte o procurador-geral da República, Augusto Aras. Durante os mais de quatro meses de espera, o senador sequer recebeu Mendonça para uma audiência. A oposição do parlamentar contou com o respaldo de bancadas importantes, como a do MDB.