Futebol

Veja quem foi Josef Bican, o maior artilheiro em jogos oficiais

Austríaco tem 805 gols, de acordo com a Fifa; Cristiano Ronaldo, com 801, está próximo de bater o recorde

Bican, o ídolo máximo do Slavia Praga - Divulgação

Ao ler essa matéria, você talvez já saiba que Cristiano Ronaldo bateu ou está ainda mais perto de bater um recorde na carreira. Até este fim de semana, o atleta tinha 801 gols oficiais. Se fizer mais quatro neste sábado, diante do Norwich City, pelo Campeonato Inglês, o camisa 7 vai superar a marca de um artilheiro histórico: o austríaco/tcheco Josef "Pepi" Bican, autor de 805 gols em 530 partidas - segundo números da Fifa. Um goleador falecido há 20 anos, que peitou nazistas e comunistas, mas sem a mesma “mídia” de outros nomes do passado.  

Nascido em Viena, em 1913, Bican era filho de um ex-jogador do Hertha de Viena, Frantisek. Iniciou a carreira no mesmo clube do pai, antes de se mudar para o Rapid Vienna, em 1931 - estreou marcando três gols, com apenas 17 anos. Três anos depois, já integrava a seleção da Áustria, conhecida como "Time Maravilha", na Copa do Mundo de 1934, realizada na Itália. Os austríacos ficaram em quarto lugar, com o atacante marcando um gol no torneio - pela seleção, no geral, foram 14 em 19 partidas.

Auge no Slavia Praga

Relatos da época dizem que Bican era ambidestro e conseguia correr 100 metros em 10,8 segundos. O jogador começou a atrair multidões nos jogos, principalmente após se transferir para o Slavia Praga, da República Tcheca. Em 1936, inclusive, ele solicitou a nacionalidade tchecoslovaca.

No Slavia, o atacante marcou 534 gols em 274 jogos, entre os anos de 1937 e 1948, com média de 1,94. Na Copa do Mundo de 1938, ele tentou integrar a seleção da antiga Tchecoslováquia, mas um erro na documentação o impediu de ser convocado.  

Embate com nazistas e comunistas

Em 1939, quando a Alemanha invadiu a Tchecoslováquia, Bican foi convidado a se naturalizar alemão pelo regime nazista, mas se negou. Ele também rejeitou uma proposta da Juventus/ITA por considerar que a Itália "seria tomada pelo comunismo". Em 1948, também rechaçou o convite do Governo da época de entrar no Partido Comunista. Como resposta, foi chamado de "ídolo burguês" e obrigado a deixar o Slavia, retornando apenas em 1953, aos 40 anos, para encerrar a carreira no ano seguinte. O atacante também vestiu as camisas do Banik Ostrava e Hradec Kralove.

Por que Bican é pouco reverenciado atualmente?

“Ele não era de um país do primeiro mundo da Europa, como Alemanha ou Itália, sofrendo ainda com a falta de documentação dos jogos. Sem falar dessas questões políticas. Outro que sofreu foi Matthias Sindelar, que era contra o nazismo, por namorar uma judia. Era considerado o ‘Pele Austríaco”, morrendo de forma suspeita por conta de um vazamento de gás”, apontou o jornalista da ESPN, Celso Unzelte.

Depois de encerrar a carreira, Bican foi técnico de alguns clubes da República Tcheca. Nos últimos anos de vida, sobreviveu como motorista de ônibus, falecendo em 2001. Só voltou a ter reconhecimento após a Revolução de Veludo, em 1989, que tirou o governo comunista do país. Em 2013, no centenário de nascimento do ex-atleta, o Slavia Praga fez uma homenagem póstuma ao craque.

Ainda em vida, Bican questionou quem tentou desmerecer seus feitos no futebol. "Quando converso com jovens repórteres, eles dizem que marcar gols era mais fácil na minha época. Eu respondo: 'existem oportunidades (de gol) hoje?' Eles dizem que sim, muitas delas. Então eu digo: 'aí está. Se não houvesse, seria mais difícil'. Se há, então é a mesma coisa de cem anos antes e será cem anos depois".