Violência obstétrica

MP-SP vai investigar médico acusado de violência obstétrica contra influencer

Após repercussão do caso, outras vítimas vieram a público denúnciar condutas do médico

Além do MP-SP, o médico é investigado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) - Reprodução / redes sociais

O Ministério Público de São Paulo, por meio da Promotoria de Enfrentamento à Violência de Gênero, Doméstica e Familiar contra a Mulher, instaurou um Procedimento de Investigação Criminal (PIC) para apurar denúncias de violência obstétrica cometida pelo ginecologista e obstetra Renato Kalil.

Em nota, o MP-SP disse que o procedimento instaurado pelas promotoras de Justiça Fabiana Dal’Mas e Silvia Chakian serve para "apuração inicial dos fatos, recebimento de documentos e atendimento às vítimas". Os materiais colhidos podem servir como base para a instauração de um futuro inquérito policial. 

As denúncias contra o médico vieram à tona após vazamento de vídeos e aúdios em que a influenciadora Shantal Verdelho relata que Kalil usava frases desrespeitosas e palavrões durante seu parto.

— Quando a gente assistia ao vídeo do parto, ele me xinga o trabalho de parto inteiro. Ele fala 'Por**, faz força. Filha da mãe, ela não faz força direito. Viadinha. Que ódio. Não se mexe, porra'... depois que revi tudo, foi horrível — comenta a influencer, que tem mais de 1,5 milhão de seguidores.

Após repercussão do caso, outras vítimas vieram a público denúnciar condutas do médico. A jornalista britânica Samantha Pearson, correspondente no Brasil do jornal The Wall Street Journal, disse em entrevista exclusiva ao Globo ter passado por episódios de assédio moral, principalmente na gravidez de sua segunda filha, nascida em 2020. Já a escritora Tati Bernardi, relatou ter ido em uma única consulta com Kalil, onde ele expôs a própria mulher e outras pacientes em histórias que contou. "Não quis me examinar porque a equipe dele fazia isso para ele, que era chique demais para pré-natal (ainda bem que nunca colocou a mão em mim)", escreveu Bernardi.

Além do MP-SP, o médico é investigado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) e pelos Hospitais São Luiz e Einstein, o que pode resultar na instauração de um processo ético-profissional. Em nota, o Cremesp esclareceu que “dentro de suas atribuições institucionais e de acordo com as normas legais, cumpre seu dever de acolher, apurar e julgar quaisquer infrações éticas cometidas por médicos, no exercício da profissão, quando formalmente acionado ou quando os fatos chegam ao seu conhecimento”.  As investigações são sigilosas, diz o orgão.