Economia

BNDES vende parte de suas ações na JBS e levanta R$ 2,66 bilhões

Banco vendeu 12% de sua participação na gigante de proteína, que pertence à J&F

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - Miguel Ângelo/CNI

O BNDES levantou R$ 2,66 bilhões com a venda de uma primeira parte de sua participação no capital da JBS, empresa do grupo J&F.

A operação em block trade (venda de um grande volume de ações), realizada na manhã desta quinta-feira, reuniu um lote de 70 mil ações da gigante de proteína, o equivalente a 12% da fatia do banco de fomento na companhia.

O BNDESPar, o braço de participações do banco, chegou a anunciar a venda de parte dos papeis que detém na JBS para o outubro passado, mas acabou cancelando a operação.
 

Na época, analistas de mercado avaliaram que o BNDES poderia estar esperando uma janela de maior valorização das ações da JBS para fazer a venda. Ao todo, o banco detém 24,50% das ações em circulação da produtora de proteína animal.

O block trade desta manhã ocorreu no dia seguinte à liberação da retomada das exportações de carne bovina do Brasil para a China, suspensas por mais de três meses pelo governo chinês.

O instituição financeira deu início, em 2020, a um plano de desinvestimento que persegue a meta de vender R$ 90 bilhões em ativos que o banco detém em empresas. Só no ano passado, foram levantados R$ 47 bilhões, com operações com papeis de Petrobras, Vale e Suzano. Este ano, outras operações foram realizadas, com alienações de ações de Vale e Petrobras, além de uma venda de debêntures da mineradora.

O foco está em reduzir a exposição do banco a registrar perdas financeiras em consequência a oscilações na Bolsa. É também estratégia para levantar recursos a serem empregados em projetos na área de infraestrutura, como saneamento básico, deixando para trás o investimento da época da política de “campeões nacionais”, da época dos governos Lula e Dilma Rousseff.

A venda das ações da JBS, em particular, acontecem após uma longa polêmica sobre o aporte do BNDES na companhia. É que, além de ter oferecido financiamento à empresa de proteína, o banco também adquiriu participação no capital da JBS, tornando-se sócio do negócio.

Envolvidos na Operação Lava-Jato, os empresários Joesley e Wesley Batista, donos da J&F, chegaram a ser presos. Foram acusados de crimes contra o mercado financeiro, com uso de informação privilegiada para comprar e vender ações da JBS no mercado.

Em delação, Joesley afirmou ter pago propinas ao ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, que presidiu o BNDES, para ter acesso ao banco. Com isso, a instituição financeira passou por uma auditoria externa, numa investigação iniciada em 2018 e que se estendeu por quase dois anos com foco na JBS e na Eldorado Celulose, também da J&F. A auditoria não encontrou irregularidades.

Entre 2003 e 2017, o Grupo J&F recebeu R$ 17,6 bilhões do BNDES, o equivalente a mais de R$ 31 bilhões em valores atuais. Do total, R$ 9,5 bilhões foram relativos a financiamentos contratados, enquanto R$ 8,1 bilhões foram investimento via BNDESPar em ações da JBS e da Bertim, que passou a integrar também o grupo.