STF

Culto de posse de André Mendonça tem cantoria emocionada e presença de Bolsonaro

Na "Catedral Baleia", sede nacional  das Assenbleias de Deus Ministério Madureira, do pastor Samuel Ferreira, políticos e fiéis foram prestigiar o novo integrante da Suprema Corte

André Mendonça - Reprodução / TV Justiça

O culto em ação de graças pela posse de André Mendonça no Supremo Tribunal Federal (STF), realizado nesta quinta-feira (16) logo após uma breve cerimônia na Corte, reuniu em uma igreja na Asa Sul, bairro nobre de Brasília, autoridades como o presidente Jair Bolsonaro (PL), senadores e deputados que integram a bancada evangélica, ministros do governo e integrantes do Supremo.

Na "Catedral Baleia", sede nacional  das Assenbleias de Deus Ministério Madureira, do pastor Samuel Ferreira, políticos e fiéis foram prestigiar o novo integrante da Suprema Corte — que ganhou a celebração religiosa no lugar do tradicional jantar oferecido aos magistrados.

No lugar dos canapés e das taças de espumante, hinos de louvor e gritos de adoração, que marcaram o tom de alegria da festividade. Na chegada, Bolsonaro, acompanhado da primeira-dama, ao lado de Mendonça e da família, foi bastante aplaudido.

Sem ter podido discursar durante a cerimônia de posse no STF, o novo ministro fez uma fala em que reafirmou o compromisso com o estado laico, embora tenha colocado sua fé como pilar de sua formação e norte para o que chamou de "Justiça pura".

"Sob o aspecto profissional, se de um lado muitos imaginam que chegar ao STF seja o ápice da carreira jurídica, tenho a consciência que é apenas o início de uma grande e desafiadora jornada. Uma caminhada que deve ter como foco o serviço ao meu país e a implantação permanente e substancial dos valores do estado democrático de direito", afirmou Mendonça. Ainda segundo o novo ministro, sem a Justiça haveria um vazio de legitimidade ao próprio estado democrático de direito.
 

"Enquanto a sua aplicação em concreto e em abstrato, em especial em uma corte constitucional, tem valor inestimável para a sociedade. Com essa consciência reafirmo não apenas o meu compromisso com a democracia, mas com a busca permanente e incansável da justiça no seu sentido mais puro", apontou.

Entre as autoridades presentes entre cerca de 1000 pessoas na plateia, estavam o ministro do STF Ricardo Lewandowski, acompanhado da esposa, Yara, os senadores Eliziane Gama (Cidadania-MA), Marcos Rogério, Chico Rodrigues, Espiridião Amin, Carlos Portinho (PL-RJ) Entre os integrantes do governo Bolsonaro, ministros como Damares Alves, Marcelo Queiroga, Milton Ribeiro, Carlos França, Tarcísio Freitas, Luiz Eduardo Ramos, Bento Albuquerque. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também compareceu. O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, que chegou a ser cotado para a vaga de Marco Aurélio Mello, igualmente prestigiou o evento.

Entre os presentes, por se tratar de local fechado, o uso de máscara era predominante. E os gritos de "Glória a Deus", "Aleluia", "Tudo posso naquele que me fortalece" foram frequentes O longo de todo o culto. As falas eram traduzidas simultaneamente em Libras pelo tradutor oficial de Bolsonaro.

Todas as autoridades foram recebidas com uma salva dr palmas e um grito de "seja bem-vindo em nome de Jesus". O primeiro da fila foi Lewandowski, bastante aplaudido pelos fiéis.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, que é pastor assim como Mendonça, fez uma pregação em que enalteceu o fato de agora o STF ter "um dos nossos".

"A importância dos valores, dos princípios e da sociedade e sobretudo, Deus, daquilo que nós, ó Deus, tanto prezamos, que é a orientação que as santas escrituras dão para o viver do homem. Muito obrigado, Deus!", disse o chefe do MEC.

A presença de um evangélico entre os ministros do STF foi exaltada em coro por todos os religiosos que falaram na celebração. O pastor Abner Ferreira, fundador da Igreja de Madureira, disse que era preciso dar "Glória a Deus" pelo "pastor e agora ministro do STF" André Mendonça.

O ministro Ricardo Lewandowski, que foi chamado a falar algumas palavras para o novo colega, se disse honrado com a possibilidade de falar e disse ser uma "virtude" o fato de Mendonça ser religioso.

"Para alguém ser ministro do Supremo Tribunal Federal precisa ser em primeiro lugar brasileiro, ter mais de 35 anos de idade, ter reputação ilibada e notável saber jurídico. Eu disse ao André que, depois de mais de quinze anos de Supremo Tribunal Federal e mais de trinta anos de magistratura, eu estou  convencido de que além  esses atributos, desses requisitos constitucionais, que era necessária para que alguém se desencuba corretamente deste importantíssimo cargo de ser ministro do Supremo e é preciso que antes de mais nada que a pessoa tenha caráter. E o André tem caráter", afirmou, sob aplausos.

A celebração durou aproximadamente uma hora e meia, e teve a execução de músicas e hinos de louvor como "Tá chorando porque?". O momento em que a música foi tocada, um dos de maior emoção da noite, teve direito a interpretação de Mendonça, que cantava com os braços para o ar. Neste momento, Bolsonaro abraçou o novo ministro e, quebrando o protocolo, puxou Lewandowski para o centro do altar. Quando a música terminou de tocar, Mendonça e a primeira-dama, Michelle, se abraçaram e o ministro confidenciou que a canção o acompanhou "nos últimos cinco meses", referindo-se ao tempo que esperou para ter sua indicação aprovada pelo Senado.

A sabatina de Mendonça foi adiada por mais de quatro meses por decisão do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), que discordava da indicação do ex-advogado-geral da União. No início do culto, o pastor Samuel Ferreira fez uma crítica velada ao presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ):

"Há alguém, há alguém que não está gostando nem um pouco de ver um homem cheio do Espírito Santo sentar naquela cadeira, não vou pedir o nome dele porque nós não vamos dar, como se diz em São Paulo, esta moral", afirmou.

Último a falar na noite, o presidente Jair Bolsonaro repetiu seu discurso sobre a necessidade de renovação do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro, que nas últimas semanas voltou a atacar ministros da Corte, como Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso, lembrou aos presentes de que, caso seja reeleito, poderá indicar mais dois ministros para o Supremo, um deles para a vaga de Lewandowski, que estava presente no culto.

"E o Supremo é um poder importante para nós, que tem que ser respeitado. E tudo se renova nessa vida. A renovação agora veio com o André. Em 2023, senhor ministro, é o senhor, é a sua idade que chega", disse Bolsonaro, que depois completou: "A renovação não existe só no Supremo, existe também no Executivo, no Legislativo. Isso é com vocês. tem que renovar, é natural".

Bolsonaro lembrou ainda que a posse de Mendonça é o cumprimento da sua promessa de indicar um ministro terrivelmente evangélico para o Supremo e destacou que os evangélicos são, hoje, 40% da população brasileira e já estão presentes em diversos setores da sociedade. Segundo Bolsonaro, Mendonça justificou a nomeação após suas passagens pela Advocacia-Geral da União e pelo Ministério da Justiça. Segundo ele, durante esse período, ambos lamentavam por que "algumas pessoas não agem no mesmo norte que o nosso".

"Foi bom ele passar por lá porque eu conheci, trocamos informações, sentimentos, não digo que chegamos a quase chorar juntos. Muitas vezes reclamamos, não entendemos por que outras pessoas não agem no mesmo norte que o nosso. E isso tudo fez que o André, hoje no STF, com a renovação, seja mais uma pessoa ao lado da nossa Constituição, a democracia e lutando por um bem maior de todos nós, que é a nossa liberdade".