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Hong Kong tem baixa participação histórica em eleições 'somente para patriotas'

O principal funcionário eleitoral de Hong Kong, Barnabas Fung, disse que apenas 1.350.680 dos 4.472.863 eleitores registrados votaram para eleger os legisladores da cidade

Eleições em Hong Kong - Peter Parks / AFP

As eleições para renovar o órgão legislativo de Hong Kong sob as novas regras impostas pela China tiveram neste domingo (19) uma taxa de participação de 30%, a menor em três décadas. 

O principal funcionário eleitoral de Hong Kong, Barnabas Fung, disse que apenas 1.350.680 dos 4.472.863 eleitores registrados votaram para eleger os legisladores da cidade. Em 2016, a participação foi de 52,6%. 

Essas eleições são as primeiras a serem realizadas de acordo com as novas normas introduzidas pela China em resposta às massivas e violentas manifestações pró-democracia de 2019 em Hong Kong.

De acordo com as regras, todos os candidatos foram examinados para verificar seu patriotismo e lealdade política à China. Além disso, apenas 20 dos 90 assentos do do Conselho Legislativo (o "LegCo") serão eleitos diretamente.

A maioria das cadeiras, 40, será escolhida por um comitê de 1.500 partidários de Pequim. As 30 restantes serão eleitas por comitês pró-Pequim que representam organizações empresariais e outros setores.

As urnas foram fechadas às 22h30 do horário local (11h30, no horário de Brasília), após permanecerem abertas por 14 horas.

- "Um sufrágio universal genuíno" -
Pela primeira vez, foram instaladas seções na fronteira com a China para que os eleitores do continente pudessem votar.

Daniel So, um homem de 65 anos que trabalha no setor de tecnologia, foi um dos primeiros a fazer fila em uma seção eleitoral no distrito de Mid-Levels.

"Os jovens não estão muito interessados nesta eleição porque são enganados por políticos estrangeiros e pela imprensa", disse ele à AFP. 

Mas quando a governante da cidade, Carrie Lam, foi votar, três manifestantes da Liga dos Social-democratas gritaram: "quero um sufrágio universal genuíno".

O governo pagou por anúncios nas primeiras páginas dos jornais e outdoors, enviou panfletos para as residências e mensagens para celulares com mensagens sobre as eleições.

Para Lam, a baixa participação "não significa nada".

"Quando o governo está fazendo as coisas bem e sua credibilidade é alta, a participação dos eleitores é mínima porque as pessoas realmente não sentem a necessidade de eleger novos representantes", disse à mídia estatal na semana passada.

A eleição de domingo recebeu apoio aberto de Pequim, que vê o novo sistema como uma forma de eliminar os elementos "anti-China" e restaurar a ordem com uma legislatura livre de opositores perturbadores.

Os críticos respondem que a China autoritária praticamente baniu os partidos de oposição em uma cidade que se orgulhava da diversidade de seu cenário eleitoral.

Dezenas de figuras da oposição, incluindo algumas que conquistaram assentos legislativos em eleições anteriores, foram presas, desqualificadas ou fugiram para o exterior.