Após 'touro de ouro' e 'vaca magra', 'galinha dourada' é removida
A Prefeitura de São Paulo afirmou que não autorizou a instalação da peça
Depois do "touro de ouro" e da "vaca magra", a "galinha de ouro" chegou ao Centro de São Paulo, mas não durou nem um dia. A estátua de cerca de 200 kg, colocada na Avenida Ipiranga neste domingo, foi removida nesta manhã.
A Prefeitura de São Paulo afirmou que não autorizou a instalação da peça.
De acordo com a Subprefeitura Sé, o objeto foi removido "pois não havia pedido de autorização" e o estabelecimento foi multado em R$ 16 mil.
A peça cintilante pega carona no burburinho causado por outras esculturas de ouro como o Touro, afixado em frente à Bolsa de Valores, e a vaca magra, instalada posteriormente no mesmo local.
Desta vez, o animal dourado não foi planejado para exaltar investimentos na Bolsa de Valores nem para fazer protestos sobre os efeitos da seca e da fome, mas faz parte de uma ação de marketing que visa promover um sanduíche de uma rede de lanchonetes.
A instalação foi feita para divulgar um novo hambúrguer à base de plantas. O objetivo, segundo a equipe de marketing, é provocar "uma reflexão no consumidor e convidar para uma mudança, substituindo o consumo da proteína animal pela vegetal." .
Na parede da lanchonete, cartazes dizem que "a era de ouro do Frango já chegou", "peça o seu notchicken burguer aqui".
Nas redes sociais, internautas criticaram a instalação da galinha: "Ao invés de estarem gastando com esses trambolhos que mais viram obstáculos do que escultura, poderiam investir em programas pra erradicação da fome de populações vulneráveis", disse um.
"Não consigo fazer uma relação eficaz com tema. Me parece um 'pegar a onda' dos últimos acontecimentos. Não tem uma concepção sólida, muito menos criativa e provavelmente só vai servir para selfies. Sou a favor de refletirmos nosso consumo de carne, mas essa instalação é só ostentação, um grande vazio de 3 metros de dourado... e num momento em que tanta gente passa fome em nosso país", disse outro.
Além da cor e da inspiração no mundo animal, as estátuas têm outro aspecto em comum: nenhuma delas deveria estar nas ruas de São Paulo — e todas foram removidas pouco tempo depois da instalação.
Segundo a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, a escultura do Touro de Ouro teve caráter predominantemente "publicitário ou promocional", o que é vedado pela Lei Cidade Limpa. Isso porque havia uma placa com o nome da empresa que pagou parte da obra.
Uma reportagem do g1 mostrou que a instalação da escultura só foi autorizada pela prefeitura paulistana em caráter temporário, mas não chegou a ser submetida à Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), órgão da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL) que regula e autoriza a implantação de esculturas, estátuas e mobiliário urbano temporários na capital paulista.
Na ocasião, o artista disse que chegou a acionar a prefeitura, mas não se lembrou de entrar com um processo também na CPPU. Os pedidos para a comissão devem ser feitos ao menos 30 dias antes do início da exposiçao da obra.
Desde a sua inauguração, o touro tem sido alvo de protestos.
Em menos de 24h da inauguração oficial, apesar de ser vigiada o tempo todo por seguranças contratados pela Bolsa de Valores, a estátua não ficou intacta. O monumento ganhou adesivos de protesto com a palavra 'fome' em maiúsculas, grudada na lateral da estátua.
Comparada na internet com o famoso Charging Bull de Nova York, a obra de São Paulo ganhou apelidos como 'Vaca Louca do Anhangabaú' e 'Touro da Cracolândia' em memes e nas ruas assim que foi inaugurada.
Em suas redes sociais, o coletivo Fogo no Pavio afirmou que “o touro ganhou a marca do Brasil de Bolsonaro” e que não há nada o que comemorar, em alusão ao aumento da fome e do desemprego no país durante o governo de Jair Bolsonaro.
Mas a retirada da escultura também motivou críticas nas redes sociais. Um dos posts chamava atenção para o fato de o touro da Bolsa de Nova York ter se transformado em atração turística, criticando a determinação da prefeitura de São Paulo de retirar a obra de frente da B3.
— Pessoas do mundo todo vão até NY conhecer o touro de wall street … No Brasil, uma tentativa da B3 é barrada pela prefeitura municipal… Isso é tudo que você precisa saber para entender a razão pela qual o Brasil não prospera — disse um internauta.
Após a polêmica do touro, a calçada em frente à B3, no centro de São Paulo, recebeu uma escultura de uma vaca magra dourada. Instalada por volta das 7h, a obra de arte foi retirada por volta das 11h, segundo comerciantes locais.
A obra faz parte de uma intervenção desenvolvida pela artista cearense Márcia Pinheiro. Em sua conta nas redes sociais, ela postou uma foto da estátua com os dizeres:
"É hoje. Chegando". Antes de São Paulo, ela já havia feito a intervenção em Fortaleza.
Funcionários da B3 disseram ter achado "graça" da ação. Uma aglomeração se formou para fotografar a peça, que logo sumiu. A imagem circula pelas redes sociais com similar interesse que havia tomado o touro, seu antecessor.
Em seu Instagram, a artista plástica cearense Márcia Pinheiro, apontada como autora da ação, recebeu uma enxurrada de comentários na foto que publicou da vaca pela manhã. Enquanto alguns seguidores a parabenizaram e afirmaram ser "a verdadeira representação da Bolsa de Valores", outros a acusaram de "hipocrisia".
O termo "tempos de vacas magras" é geralmente associado a períodos de crise econômica ou problemas financeiros. O animal esquelético instalado temporariamente nesta quinta contrasta com o musculoso touro, símbolo de altas e valorizações nas bolsas de valores.