Com avanço na vacinação, famílias voltam a se reunir com testes e máscaras para celebrar o Natal
Com protocolos corretos e imunizados, primos, tios, avós, netos e bisnetos vão, finalmente, se reunir, muitos após dois anos de espera por abraços quentes e afetos represados
RIO - Amigo secreto, ver o mesmo filme de Natal pela décima vez, degustar as rabanadas perfeitas que só a avó sabe fazer, as piadas do tio do pavê. Que saudade! Após um Natal com tradições roubadas pela pandemia, o melhor presente este ano será voltar a celebrar a vida em família. Com a vacinação em dia e seguindo recomendações de higiene, primos, tios, avós, netos e bisnetos vão, finalmente, se reunir, muitos após dois anos de espera por abraços quentes e afetos represados.
Tão perto, tão longe. Morando a apenas 150 quilômetros dos pais, que vivem em São José dos Campos, no interior de São Paulo, o médico Evaldo Stanislau, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, se manteve distante por questões sanitárias. Mas, desta vez, jogou caixas de testes de Covid no saco de Papai Noel e deixou Santos rumo à cidade da família para abraços sem medo, mas responsáveis. A festa reunirá 30 pessoas, numa casa arejada. Mesmo assim, uma “triagem” dos parentes será feita a caráter: Evaldo trocará o jaleco branco pelos trajes do bom velhinho.
"Uma coisa que notamos é que a Covid-19 roubou nosso tempo, e os mais velhos sentiram esse impacto. Mas a alegria de estarmos juntos depois de anos só vale se todos estiverem imunizados e cientes dos cuidados, com testes, uso de máscara e distanciamento", destaca Evaldo.
De acordo com o infectologista, testes rápidos são indicados pois, além da simplicidade dos exames, identificam quem está transmitindo o vírus. Apesar do risco do falso negativo, o especialista aponta que a detecção de antígenos possui sensibilidade acima de 90% e eficácia, se somada a outros métodos de proteção. Para quem não puder fazer a testagem, é essencial manter o uso integral da máscara PFF2. Em caso de sintomas como coriza, dor no corpo e febre, é melhor adiar o reencontro mais um pouquinho.
Para uma família que trocou a Venezuela pelo Brasil há três anos em busca de sobrevivência, é quase um milagre de Natal a chegada de Miguel Daniel Chapel a Florianópolis. Aos 70 anos e com uma aposentadoria minguada, ele vivia no país vizinho sonhando com a mudança, adiada pela Covid-19. Foi preciso uma vaquinha virtual para seu Miguel garantir que, no dia 23, já estaria fazendo hallacas — iguaria venezuelana feita com folha de bananeira e típica desta época — para a mulher e o filho.
A saga começou em 30 de outubro, quando o aposentado e a neta Alanis Camila, de 18 anos, enfrentaram 14 horas de estrada na carona de uma caminhonete até Uairén, a 15 quilômetros de Roraima. Mal de saúde, Miguel precisou fazer uma parada de mais de um mês na comunidade indígena de Las Claritas, para depois seguir a pé por cinco horas até cruzar a fronteira. Graças à comoção do caso na internet, o filho Mitchell Chapel arrecadou R$ 3,5 mil para comprar duas passagens aéreas até Santa Catarina. No dia 12 de dezembro, a dupla guerreira chegou. Ufa!
"Meu pai ficou muito magrinho na viagem, mas a gente não tinha dinheiro. Ele veio porque estava muito motivado a passar o fim de ano com a minha mãe que já não aguentava de saudade", conta Mitchell, que trabalha como cozinheiro.
Nathania Araújo, de 29 anos, também enfrentou 13 horas de numa lancha para chegar a Manaus e reencontrar a família. Uma viagem especialmente simbólica porque a pandemia atingiu em cheio a cidade do Norte do país, logo após o Natal do ano passado, em que mais de quatro mil pessoas morreram em janeiro.
"Minha mãe montou a árvore e vamos ter troca de presentes. Eu sempre achei o Natal triste porque passávamos longe. Como somos do interior do Pará, cada um foi para um lugar tentar melhorar de vida. Mas, desta vez, estou animada como nunca", conta a profissional de educação física Nathania, que quis registrar o embarque rumo ao reencontro com sua malinha de mão recheada de presentes.
Desde criança, todos os natais da jornalista Bianca Rangel, de 28 anos, são celebrados na casa da tia, de 71 anos, em Bonsucesso, Zona Norte do Rio. Ano passado, para não perder o costume, os familiares se reuniram, cada um em seu carro, para desejar feliz Natal uns aos outros através de cartazes. Não houve abraços, apenas sorrisos por debaixo da máscara e muita emoção. Com todos vacinados, este ano haverá confraternização, com direito a muita rabanada feita por dona Irene, mãe da jornalista, e farofa.
"A rabanada não pode faltar de jeito nenhum. Lembro da minha avó fazendo montanhas de rabanadas que pareciam um exagero, mas elas nunca sobravam", brinca Bianca.
Além da oração natalina, o amigo secreto é a marca registrada dos Rangel. Este ano, por conta da crise, a família focou na ceia e nos presentes para as crianças:
"A angústia da pandemia, a saudade, a preocupação com a saúde deixaram a lição de que o mais valioso são as pessoas que dividem cada momento da vida conosco".