Os melhores e piores da televisão brasileira em 2021
Lista traz os destaques positivos e negativos na teledramaturgia e na linha de shows ao longo doa no
Se o inesperado e surpreendente marcou 2020, o ano de 2021 foi pautado pela reconstrução. Após mais de 12 meses convivendo com a pandemia de Covid-19, a televisão precisou aprender a coexistir com o vírus em todas as suas áreas. A lista anual de “Melhores e Piores de TV Press”, divulgada nesta quarta-feira (29), reflete bem esse novo momento.
Melhor Novela:
“Amor de Mãe”, da Globo
A teledramaturgia precisa correr certos riscos para manter a relevância. Ciente da necessidade de evoluir, a Globo apostou no nome de Manuela Dias para o time de autores das novelas das nove. Sem nenhum folhetim no currículo, Dias concebeu a requintada “Amor de Mãe”. Protagonizada pelo poderoso trio formado por Regina Casé, Adriana Esteves e Taís Araújo, a novela contava com histórias envolventes e a direção inspirada de José Luiz Villamarim. Sem recorrer a tantos clichês, acabou tendo de ser modificada para soar um pouco mais popular e, no momento em que estava ganhando mais audiência, foi paralisada por conta do coronavírus. Nem mesmo os capítulos e personagens cortados tiram o brilho de “Amor de Mãe”, que voltou cerca de um ano depois para finalizar a história e mostrar o esperado reencontro entre Lurdes e Domênico, papéis de Regina e Chay Suede. Densa, intrigante e realista, “Amor de Mãe” foi a novela certa atropelada pelo imponderável, mas que resistiu aos baques.
Pior Novela:
“Verdades Secretas II”, da Globoplay
O projeto de continuação de “Verdades Secretas” demorou a sair do papel. Com a novela original exibida em 2015, a segunda parte sofreu com o fim da faixa de novelas às 23h e com as sucessivas escalações de Walcyr Carrasco para os mais diversos horários da Globo. Com direção de Amora Mautner, substituindo Mauro Mendonça Filho, “Verdades Secretas 2” chegou ao ar em 2021 pensada e pronta para disputar com outras produções originais mais pesadas e ousadas de serviços como Netflix e Amazon. Porém, o texto e as situações criadas por Walcyr continuaram trilhando pelo caminho mais simples e funcional, o que criou um precipício criativo entre os clichês textuais e a estética forçada da visão de Mautner para o projeto. O final cercado de polêmica mais prometeu do que cumpriu, movimento que reforça a falta de robustez na história para justificar as inúmeras cenas mais ousadas que acabaram soando gratuitas.
Melhor Série:
“Dom”, do Amazon Prime Video
Diretor de fotografia premiado que migrou para a função de cineasta, Breno Silveira gosta de contar histórias intensas e recheadas de contrastes. Em sua estreia na área de streaming e no serviço Amazon Prime Video, Breno mostra em “Dom” um obscuro mergulho no universo das drogas que reverbera tanto na questão da segurança quanto na da saúde pública. Ao se utilizar da insana história real de Pedro Dom, chefe de quadrilha que barbarizou no Rio de Janeiro nos anos 2000, a série se torna um pequeno recorte da realidade brasileira. Em cena, Pedro Dantas, papel de Gabriel Leone, é um jovem da classe média que se torna um dos bandidos mais famosos do Rio de Janeiro, valendo-se de seu carisma e imagem acima de qualquer suspeita. Com uma fotografia que insere bem a beleza e o caos da cidade do Rio de Janeiro na história, além de cenas de ação muito bem executadas, destaca-se em “Dom” a boa direção de atores, em especial, o desempenho de Leone e Flávio Tolezani, trunfos que fazem da produção a escolhida na categoria Melhor Série pela equipe e editores dos jornais assinantes de “TV Press”.
Melhor Atriz:
Andréa Beltrão, a Rebeca de “Um Lugar ao Sol”, da Globo
Há tempos que Andréa Beltrão só faz o que quer na televisão. Nos últimos tempos, ela focou sua força criativa nas séries cômicas “A Grande Família” e “Tapas & Beijos”. De olho em fazer coisas diferentes no vídeo, mergulhou no projeto de filme e série que retrataram a vida da apresentadora Hebe Camargo, papel pelo qual foi indicada ao Emmy Internacional. Em 2021, resolveu voltar às novelas na pele da ex-modelo Rebeca de “Um Lugar ao Sol”. Em cena, a personagem resolve retornar aos estúdios e passarelas depois dos 50 anos, vive um casamento conflituoso e cheio de frustrações e ainda redescobre o verdadeiro significado da paixão ao se relacionar com um rapaz mais novo. Em diálogos longos e de muita autocrítica e reflexão, Rebeca é um espelho da mulher de meia-idade. Compreendendo bem seus questionamentos, não demorou muito para Beltrão “colocar a trama no bolso”. Real protagonista da atual novela das nove, a atriz brilha em um papel à altura de seu talento e que mostra que sua força cênica independe de gênero.
Andrea Beltrão em "Um Lugar ao Sol" - Foto: Globo
Melhor Ator:
Alexandre Nero, o Tônico de ‘“Nos Tempos do Imperador” da Globo
Alexandre Nero tinha quase 40 anos quando fez seu primeiro trabalho na Globo, uma pequena participação no extinto seriado “Casos e Acasos”, em 2007. Na sequência, o ator cumpriu a façanha de se destacar a partir de personagens secundários em tramas como “A Favorita” e “Paraíso”, feito que chamou a atenção de autores e diretores da Globo, que começaram a disputar o seu passe. Cinco anos depois da estreia, Nero já figurava entre os nomes do primeiro time da emissora, com direito à tão sonhada autonomia artística, o que o levou a escolher melhor seus próximos passos na teledramaturgia. Em “Nos Tempos do Imperador”, Nero volta ao posto de arquivilão em um papel feito especialmente para ele e o resultado é que mais uma vez o ator entrega uma performance inspirada e que “rouba a cena” dos protagonistas. Debochado, invejoso e prepotente, Tônico é um prato cheio para o ator demonstrar suas habilidades no drama e na comédia. Um deleite para o público e um trunfo para a fraca atual novela das seis, que só não se torna mais enfadonha por conta dos acessos e loucuras de seu vilão.
Melhor Autor(a):
Lícia Manzo, de “Um Lugar ao Sol”, da Globo
O texto de Lícia Manzo é necessário à programação da Globo. E a autora de “Um Lugar ao Sol”, já mostrava isso lá em 2011, ano de “A Vida da Gente”, sua primeira novela solo. Sem grandes apelações envolvendo ação, efeitos visuais ou enredo de alta complexidade, a assinatura de Lícia se desenvolve valorizando histórias de tons mais contemplativos e realistas, habilidade que conecta sua escrita com as reviravoltas cotidianas do texto de Manoel Carlos. Apesar de nunca ter colaborado com o autor, Lícia constrói suas cenas com a mesma “lente de aumento” que consegue enxergar frescor e brilho em torno da rotina. Responsável pela primeira trama das nove inédita depois da paralisação provocada pela pandemia, Lícia entrega um trabalho conciso e consistente que garante bons ganchos ao final de cada exibição. Dessa forma, mesmo sem abandonar seu jeito de escrever, a autora leva em consideração a rapidez das redes sociais e a profusão de opções do streaming, criando um novelão sem medo das tradições, mas com capacidade para conquistar outros públicos.
Melhor Diretor:
José Luiz Villamarim, de “Amor de Mãe”, da Globo
José Luiz Villamarim construiu sua carreira na Globo aos poucos. A estreia foi em “Cara & Coroa”, de 1995, como integrante da equipe de direção de Wolf Maya. Décadas e diversos sucessos depois, Villamarim ganhou seu próprio núcleo artístico e agora saiu dos estúdios para ocupar o posto de Diretor de Teledramaturgia da emissora, ou seja, é ele quem decide o que vai ou não ser produzido pela emissora nos próximos anos. Antes de ocupar o cargo mais administrativo, entretanto, ele pôde se despedir do “front” de gravações com o realismo delicado de “Amor de Mãe”. Mesmo sem saber que seria seu trabalho de transição, Villamarim fez da trama de Manuela Dias um “belo cartão de visitas” de sua história televisiva, reunindo o tom artístico dos anos em que trabalhou com Luiz Fernando Carvalho, e a boa direção de atores e cenas realistas dos trabalhos que cultivou ao lado de Ricardo Waddington. Aglutinando experiências e conexões profissionais, a direção de Villamarim vai fazer falta na tevê aberta.
Melhor Produção Humorística:
“Vai que Cola”, do Multishow
Foi um baque para todo o país a morte de Paulo Gustavo, vítima da Covid-19, em 4 de maio de 2021. Principalmente para os colegas do “Vai que Cola”, humorístico que contou com a participação do comediante ao longo de várias temporadas. Por isso mesmo, já era de esperar que uma nova leva de episódios homenageasse o ator niteroiense. Para não esquecer o legado deixado por ele e com a trama ambientada novamente no Méier, no subúrbio do Rio de Janeiro, o estabelecimento em que os personagens circulam passou a se chamar Pensão do Valdo. Uma bela homenagem, que emocionou o público nas redes sociais. E, brilhantemente, todo o elenco não se deixou abater. Pelo menos não o suficiente para cair a qualidade da produção humorística, que foi a apontada como a melhor da televisão em 2021.
Melhor Programa de Auditório:
“Caldeirão com Mion”, Da Globo
Marcos Mion, ao que parece, foi injustiçado na Record. Ele apresentava o reality “A Fazenda” desde 2018, mas teve o contrato rescindido em janeiro de 2021, depois de 11 anos dedicados à emissora. Mas, no melhor estilo “teve boatos que eu ainda estava na pior”, assinou com a Globo, foi escolhido para substituir Luciano Huck no “Caldeirão” até o fim do ano e, de cara, conquistou a audiência nas redes sociais e, tudo indica, a direção artística da emissora. Prova disso é que ele garantiu seu espaço nos sábados da emissora e, pelo menos durante 2022, seguirá nas tardes de sábado. E, de quebra, garantiu o primeiro lugar na eleição dos “Melhores & Piores 2021” da “TV Press”, na categoria Melhor Programa de Auditório.
Marcon Mion - Foto: Globo
Melhor Programa de Entrevista:
“À Prioli”, da CNN
Na televisão, Gabriela Prioli foi uma revelação da CNN Brasil, aparecendo logo na estreia do canal, no quadro “O Grande Debate”. Em seguida, ela ancorou a primeira temporada do “CNN Tonight”, ao lado da jornalista Mari Palma e do historiador Leandro Karnal. E, assim, se tornou uma das maiores influenciadoras do Brasil. O canal de notícias não demorou a reservar um novo espaço para ela e, com isso, surgiu o que pode ser considerado um dos melhores programas da grade: o “À Prioli”. A advogada inovou, saindo do estúdio e criando um clima extremamente propício para que os entrevistados se sintam à vontade e, consequentemente, falem de forma leve mesmo quando o tema não é dos mais tranquilos para eles.
Melhor “Game-Show”:
“The Masked Singer”, da Globo
O formato é da Coreia do Sul, mas o tempero foi brasileiro mesmo. Depois de cerca de dois anos de espera, o “The Masked Singer Brasil” fez bonito em sua primeira temporada. Aliou produção artística de alto nível, um corpo de jurados com nomes do primeiro escalão da Globo – como Taís Araújo e Rodrigo Lombardi – e deu a Ivete Sangalo mais uma chance de mostrar que seu talento vai além da voz e dos shows. A equipe de figurino não teve pudores e, apesar de muita gente dando spoilers sobre quem estava por baixo das fantasias, muitas revelações de participantes surpreenderam. Eduardo Sterblitch garantiu boas doses de humor e Taís esbanjou carisma na bancada. Vale dizer também que a vencedora Priscilla Alcantara impressionou com seus números, assim como o vice-campeão, Nicolas Prattes.
Melhor “Talent-Show”:
“Masterchef Brasil”, da Record
Depois de uma aposta no formato game em 2020 – em função da pandemia do novo coronavírus –, o “MasterChef Brasil” voltou à sua essência em 2021. E, mesmo com a saída de Paola Carosella do time de jurados, depois de sete anos de atividade, esse retorno deu novo fôlego à atração. A disputa ganhou até novas dinâmicas, aproximando-se ainda mais da condição de reality. Após cada prova, os jurados escolhiam os melhores pratos, definindo os três piores. Porém, um deles tinha a chance de ser salvo pelos participantes que já estavam no mezanino. Ou seja, nunca antes foi tão importante se relacionar bem com os colegas ali. Além disso, no lugar de Paola, a Band convocou Helena Rizzo, a chef brasileira mais premiada no mundo, que formou com Erick Jacquin e Henrique Fogaça o time de jurados. Sem se intimidar com comparações, Helena se deu bem e conseguiu se mostrar bem à vontade na função.
Melhor Programa de Variedades:
“Mais Você”, da Globo
Ana Maria Braga vinha de um ano complicado, após a morte do intérprete do Louro José, Tom Veiga e de ficar quase sete meses fora do ar, entre março e outubro de 2020. Mas a apresentadora não esmoreceu. Já no ano passado, mesmo de luto, conseguiu se manter firme no “Mais Você”. Aproveitou a mudança para São Paulo e apostou em novas pautas. Hoje, cada vez mais, brinca com seu texto e não tem o menor medo de parecer cafona ou ridícula no ar. Ao contrário, Ana Maria sabe aproveitar todas as maneiras de criar identificação com o público. Por isso, mais uma vez, é do “Mais Você” o título de Melhor Programa de Variedades do “Melhores & Piores 2021” da “TV Press”.
Melhor Apresentador(a):
Adriane Galisteu
Havia, na Record, uma preocupação com o nome certo para substituir Gugu Liberato, depois da morte do apresentador em um acidente doméstico. A pandemia acabou atrasando a estreia de Adriane Galisteu no posto, já que o “Power Couple Brasil” não teve edição em 2020. Pois bem, a loura não só agradou como também se tornou a solução mais viável para ocupar a lacuna deixada pela saída de Marcos Mion da emissora. Com isso, além da apresentação do reality de disputa de casais, ela também esteve à frente da edição mais recente de “A Fazenda”. Esbanjou desenvoltura e, com isso, fatura o título de melhor do ano na função.
Momento Bizarro 2020:
Nelson Piquet, chamando a Globo de “lixo” durante o programa “Show do Esporte”, na Band
O assunto era a volta da Fórmula 1 para a Band, depois de 40 temporadas sem os direitos de transmissão. Mas Nelson Piquet resolveu extrapolar e, justamente na estreia da cobertura, em 2021, o tricampeão mundial do esporte chamou a concorrente Globo, de “lixo”. Não era a hora e nem o local para este tipo de crítica, deixando visivelmente constrangidos os colegas que estavam com ele, no ar. A atitude repercutiu bastante nas redes sociais, recebendo o apoio e também muitas críticas de vários telespectadores
Destaque negativo – Apresentador ou Colaborador:
Luciano Huck, da Globo
A expectativa que se criou em relação à saída de Fausto Silva da Globo acabou prejudicando Luciano Huck. O apresentador, escolhido para ocupar o espaço deixado por Faustão na grade, estava confortável em seu “Caldeirão do Huck”, aos sábados, mas acabou sendo alvo de críticas ao deixar o posto para apostar no “Domingão com Huck”. A verdade é que o que se viu foi mais do mesmo, enquanto Marcos Mion brilhou nas tardes de sábado como substituto de Luciano. Mion ganhou os holofotes e, assim, ofuscou o agora colega de canal.