IGP-M

Veja qual o impacto para o consumidor da alta de 17,78% do índice que reajusta aluguéis e serviços

Economistas acreditam que alta dos preços do IGP-M pode levar a aumento da inflação oficial do país, medida pelo IPCA

Inflação do aluguel - Rovena Rosa/Agência Brasil

Usado como base para o reajuste dos contratos de aluguel, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) acumulou alta de 17,78% em 2021, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (30) pela FGV. Por reunir a inflação do atacado, do consumidor e da construção, esse índice também costuma ser utilizado como indexador de contratos entre empresas e, parcialmente, para tarifas de serviços básicos, como transporte público, água, luz e telefonia.

Para economistas, embora a alta do IGP-M neste ano tenha sido mais baixa que em 2020, quando acumulou 23,14%, o resultado terá impactos significativos na inflação medida pelo IPCA no ano que vem.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, representa a inflação oficial do país. A prévia do IPCA para este ano é de 10,42%.

"Dado que a economia é muito indexada, isso pode, sim, fazer com que a inflação no ano que vem fique bem pressionada. Será um desafio a mais" aponta André Braz, economista da FGV e coordenador dos Índices de Preços.
 

A indexação também é alvo de críticas pelo economista Thiago de Moraes Moreira, professor do Ibmec e do Instituto de Economia da UFRJ. Segundo ele, ao utilizar a inflação do passado para reajustar os gastos do presente, cria-se ainda mais inflação para o futuro. É a chamada inércia inflacionária.

Gás  

"A gente tem muito contrato na economia que é indexado ao IGP-M. Vai desde contratos entre empresas, até negociação de gás natural com as distribuidoras, compra de alguma matéria prima. Isso pode acabar gerando um aumento de preços ao consumidor final" diz.

No entanto, enquanto no chamado mercado livre a margem para aumento de preços é restrita, e está sujeita à relação entre oferta e demanda, no caso dos serviços públicos, como saneamento básico e energia elétrica, os aumentos estão previstos em contrato.

"O IPCA subiu menos que o IGP-M porque houve compressão da margem de lucro. Em meio à crise, o produtor teve mais dificuldade de repassar aumento de custo" explica Moreira. 

Mas essa questão tem começado a pesar até mesmo para as concessionárias de transporte público e telefonia. Assim como ocorreu com os contratos de aluguel, em que boa parte dos proprietários trocou o indexador pelo IPCA, essas empresas já pedem alternativas para substituir o IGP-M em seus contratos.

No Rio, A SuperVia e o MetrôRio negociam com o governo do estado a modernização dos contratos, hoje atrelados ao IGP-M. A ideia é usar uma fórmula com indexadores que acompanhem reajustes de custos setoriais.

No setor elétrico, 19 das 53 concessionárias tiveram com o avanço do IGP-M um dos principais custos nas tarifas deste ano. No setor de telefonia, o IGP-M reajusta serviços dos fornecedores das empresas de telecomunicações, e também gera aumentos. O sindicato das operadoras já se manifestou favorável à padronização dos contratos pelo IPCA.

Para o economista Claudio Frischtak, sócio da Inter.B Consultoria, o uso do IGP-M como indexador de contratos gera distorção na economia e aumenta os custos de transação. Ele defende que todos os contratos passem a ser reajustados pelo IPCA.

"Quando havia muita desconfiança sobre os índices oficiais, há muitos anos atrás, houve uma demanda correta, legítima, para que a FGV estruturasse os índices de inflação, na medida em que era vista como uma entidade neutra. Mas esse tempo passou, o IBGE adquiriu enorme credibilidade, mesmo subfinanciado, e não há motivos para não usar a inflação oficial do país, que é o IPCA, como indexador" argumenta.

Frischtak afirma ainda que, em muitos casos, o IGP-M, que é um índice voltado para o produtor, acaba sendo utilizado em contratos que não têm relação com os preços do atacado, como aluguéis ou contratos de dívida.

A alta do IGP-M muito acima do IPCA está relacionada ao custo para as cadeias produtivas, com o aumento do preço das commodities, por exemplo.

Para o ano que vem, Frischtak acredita que a tendência de alta permanece:

"O preço das exportações está dolarizado, e nós temos muita pressão em cima do câmbio por conta de toda incerteza, que não vai se reduzir no ano que vem, pelo contrário, com as eleições e o cenário fiscal fragilizado.