Peter Bogdanovich, diretor de 'A última sessão de cinema' e 'Lua de papel', morre aos 82
Figura importante da geração que renovou Hollywood nos anos 1970, faleceu em sua residência, em Los Angeles, de causas naturais
Peter Bogdanovich, diretor de "A última sessão de cinema" (1971) e "Lua de papel" (1973), morreu aos 82 anos. O cineasta faleceu de causas naturais em sua residência em Los Angeles, disse sua filha Antonia à revista "The Hollywood Reporter".
Bogdanovich foi indicado a dois Oscars, de melhor direção e melhor roteiro, por "A última sessão de cinema". Ele fez parte de uma geração de diretores que renovou Hollywood nos anos 1970, junto com Martin Scorsese, George Lucas, Steven Spielberg, Brian De Palma, Francis Ford Coppola e outros.
Em seus filmes sempre esteve presente um profundo conhecimento e admiração pela Era de Ouro de Hollywood, muitas vezes com referências a clássicos do cinema americano em seus longas - ele inclusive construiu todo o documentário "Directed by John Ford" (1971) com cenas de filmes do diretor.
Na crítica de "A última sessão...", seu segundo e, por consenso, melhor filme, a revista Newsweek chamou o longa de "uma obra prima", acrescentando que "era o trabalho mais impressionante de um jovem diretor americano desde 'Cidadão Kane'".
As comparações com Orson Welles o perseguiriam: ambos tiveram um início de carreira fulminante e acabaram caindo em desgraça - em certo ponto da vida, Welles viveu nos fundos da casa de Bogdanovich. Foi outra lenda, o diretor Billy Wilder, quem observou: “Não é verdade que Hollywood seja um lugar amargo, dividido por ódio, ganância e inveja. Para nos unir, basta um fracasso de Peter Bogdanovich.”
Nascido em Kingston, Nova York em 1939, filho de um pianista sérvio e de uma pintora austríaca, Bogdanovich era um cinéfilo obsessivo desde a adolescência — segundo um sistema de catalogação criado por ele, , sendo responsável pela programação do cinema do Moma, em Nova York, no início dos anos 1960.
Após ter estudado para ser ator com a famosa professora Stella Adler e de passar alguns anos como crítico de cinema, ele se mudou para para Hollywood em 1968 com a então esposa, Polly Platt, com a inteção de se tornar diretor — e naquele mesmo ano realizaria seu primeiro longa, "Na mira da morte" (1968).
Prolífico e celebrado no início de sua carreira, Bogdanovich acabou tendo a vida profissional obscurecida por escândalos pessoais envolvendo duas protagonistas de seus filmes. Primeiro, ele deixou sua esposa e colaboradora Polly Platt por Cybill Shepherd, modelo que ele lançou como estrela de "A última sessão de cinema". Em 1980, ele se envolveu com a ex-modelo da Playboy Dorothy Stratten, que escalou em "Muito riso e muita alegria" e foi assassinada por seu marido antes da estreia do filme. Mais tarde, o diretor acabou casando com a irmã caçula de Dorothy, Louise, então com 20 anos e 30 anos mais jovem do que ele.
Curiosamente, tanto o caso com Cybill (mais conhecida no Brasil pela série "A gata e o rato") quanto o assassinato de Dorothy inspiraram filmes, respectivamente "Diferenças irreconciliáveis" (1984) e "Star 80" (1983).
Apesar das polêmicas, Bogdanovich continuou dirigindo, escrevendo e atuando. Como diretor, colecionou elogios com "Marcas do destino" (1985) e "O miado do gato" (2001), mas foi duramente criticado por "Texasville" (1990), sequência de "A última sessão..." e a comédia "Ilegamente sua" (1988). Fez participações na série "Família Soprano" como o analista da Dr. Melfi, que atendia Tony Soprano e aparece como um DJ nos dois volumes de "Kill Bill", de Quentin Tarantino.
Bogdanovich deixa duas filhas, Antonia e Sashy, fruto do casamento com Platt, que morreu em 2011 aos 72 anos.