Minas Gerais

Acidente em Capitólio (MG): o que se sabe até agora e o que falta esclarecer

O Corpo de Bombeiros confirmou até o momento sete mortes entre ao menos 34 pessoas atingidas pelo acidente

Tragédia em Capitólio - Divulgação/CBMMG

Um deslizamento de parte de um cânion atingiu, na manhã desse sábado (8), quatro lanchas que estavam no lago de Furnas, no município mineiro de Capitólio, e deixou ao menos sete mortos. Segundo o Corpo de Bombeiros, mais de 30 pessoas ficaram feridas. O acidente, cujas circunstâncias ainda serão investigadas, trouxe a debate questões como a permição de turismo em locais de formações geológicas.

O Corpo de Bombeiros confirmou até o momento sete mortes entre ao menos 34 pessoas atingidas pelo acidente. Inicialmente, foi informado que havia 20 desaparecidos, mas o número foi atualizado para três na noite deste sábado. Isso porque parte das vítimas estava sem contato e foi por conta própria a hospitais da região. Segundo a corporação, 27 pessoas já foram atendidas em unidades de saúde e liberadas.

As buscas por desaparecidos foram suspensas durante esta noite por segurança e serão retomadas na manhã deste domingo (9). Os mergulhos na região devem iniciar entre por volta das 5h da madrugada, segundo os Bombeiros. Cerca de 40 militares atuam nos resgates. Uma aeronave também auxiliava nas buscas.

Ainda não existe informação oficial sobre o que causou o desmoronamento. Inicialmente, foi alertado sobre ocorrência de chuvas intensas e "cabeças d'água" na região, mas não foi confirmado que isso teria motivado o acidente. Segundo especialistas, o volume das chuvas e as fraturas nas rochas ajudam a explicar os riscos de desabamento.
 

Professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e mestre em geotecnia, Mateus Oliveira Xavier explica que o ocorrido em Capitólio é chamado de movimento gravitacional de massa do tipo tombamento, que nada mais são do que processos geodinâmicos que acontecem devido à ação da gravidade e, normalmente, ocorrem após algum gatilho externo, como as chuvas.

A Marinha e a Polícia Civil abriram investigações para apurar as reais causas e circunstâncias do acidente. Uma das apurações é saber se havia irregularidades na aproximação dos paredões por parte dos turistas e como estava a fiscalização.

As rochas na região do acidente são formadas por blocos de quartzito, nos quais as rachaduras são profundas e estáveis. Ao contrário do que ocorre nas falhas geológicas, explica, não existe movimentação de um bloco em relação a outro nas fraturas, segundo o geólogo Fábio Braz, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro da Sociedade Brasileira de Geologia (SBG).

A proximidade dos turistas em relação aos cânions ainda é uma das questões a ser apurada. Os bombeiros disseram que cabe a Marinha informar se os turistas poderiam estar no local. Especialistas advertiram que, em locais com essas formações rochosas, deve-se evitar a aproximação do paredão e, em caso de chuva, as atividades têm de ser suspensas.

"É recomendável, por exemplo, se criar uma área de segurança, considerando a própria altura da encosta, para evitar que os turistas se aproximem e mantenham uma distância segura em caso de tombamento", disse Edilson Pizzato, professor do Instituto de Geociências da USP.

O prefeito de Capitólio, Cristiano Silva, afirmou em entrevista à GloboNews que não há norma que impeça as lanchas de estar naquele local, próximas do paredão. Segundo ele, não pode, no entanto, atracar no cânion para que os banhistas entrem na água. Os mergulhos na região são liberados apenas nos pontos onde há os chamados bares flutuantes.

Embora seja cedo para saber se haverá mudanças concretas na legislação, o acidente suscitou um debate acerca da regulamentação do turismo em áreas de formações geológicas e com riscos. Em tragédias anteriores, também houve discussões a respeito, ainda que nem sempre haja alterações nas normas.

O Lago de Furnas, com mais de 1.400 quilômetros quadrados de área, atrai vários turistas que buscam passeios de lancha e mergulhos na região, cercada por cachoeiras e cânions formados por rochas com mais de 20 metros de altura. Lanchas podem ser alugadas por cerca de R$ 2.000 para grupos de oito a dez pessoas. Agências de turismo também oferecem opções de passeios em embarcações guiadas. Em geral, eles duram entre três a sete horas. O local é visado sobretudo por turistas do estado São Paulo e da capital mineira.