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Brasil registrou em 2021 a maior inflação em seis anos

A projeção do mercado para 2022 é de inflação de 5,03%

A inflação desacelerou para todas as faixas de renda em novembro - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Brasil registrou em 2021 uma inflação de 10,06%, a mais alta desde 2015 e muito mais elevada que a do ano anterior (4,52%), um dado que pode complicar ainda mais o panorama para o presidente Jair Bolsonaro a nove meses das eleições presidenciais.

"É a maior taxa acumulada em um ano desde 2015, quando foi de 10,67%", afirmou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seu boletim publicado nesta terça-feira (11).

O aumento de preços superou as projeções do mercado, situadas em 9,99% na última pesquisa Focus do Banco Central (BCB). 

A inflação de dezembro (0,73%) foi ligeiramente inferior ao 0,95% registrado em novembro.

O resultado para 2021 está bem acima da meta de 3,75%, e de seu teto de 5,25%, estabelecidos pelo BCB, algo que não acontecia desde 2015.

Segundo o IBGE, o dado foi influenciado principalmente pelo transporte, que teve a maior variação (21,03%) e a maior incidência (4,19 pontos percentuais) no ano, seguido por habitação (13,05%) e alimentação e bebidas (7,94 pontos percentuais).

Juntos, os três setores responderam por cerca de 79% da inflação de 2021. 

"O transporte foi afetado principalmente pelos combustíveis", explicou o responsável pela elaboração do índice de inflação do IBGE, Pedro Kislanov.
 

 'Ambiente conturbado'

A inflação, um problema global derivado em parte dos efeitos econômicos da pandemia de coronavírus, corrói a renda das famílias, especialmente as mais vulneráveis, que gastam a maior parte de seu dinheiro em alimentos no Brasil.

O preço da carne, por exemplo, subiu 8,45% em um ano. 

Imagens de pessoas vasculhando o lixo em busca de comida proliferaram nos últimos meses.

Segundo Alex Agostini, da consultoria Austin Rating, vários fatores também explicam essa inflação anual de dois dígitos, situação que o Brasil viveu nas décadas de 1980 e 1990. 

"Existe uma restrição de oferta de vários componentes no mundo. Além disso, aqui no Brasil há uma questão de risco fiscal e um ambiente político conturbado que teve grande impacto na desvalorização do real, o que afetou bastante os preços. Também está no radar a variante ômicron, que gera uma expectativa ruim para 2022", explicou à AFP.

A projeção do mercado para 2022 é de inflação de 5,03%.

Para tentar conter o avanço incessante dos preços, o Banco Central impôs nas últimas sete reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) importantes aumentos na taxa básica de juros, a Selic.

Em dezembro, aplicou alta de 1,5 ponto percentual, para 9,25%, o máximo desde 2017, e alertou que espera aumento igual na próxima reunião, em fevereiro. 

Por enquanto, a estratégia não tem dado resultados, e os economistas esperam que a inflação permaneça em patamares elevados este ano.

"O aumento dos preços, que reduz o potencial de compra das famílias, e o aumento da taxa de juros para combatê-lo, que está desacelerando setores que ainda respiravam, como construção ou veículos, vão impactar muito o crescimento da economia em 2022", explicou Agostini.

As previsões de crescimento para 2022 são pouco otimistas, em 0,28%, segundo a última pesquisa Focus, ante os 2,5% esperados há um ano. 

No terceiro trimestre, a economia brasileira entrou em recessão, contraindo (-0,1%), após queda (-0,4%) entre abril e junho.