Bolsonaro minimiza a ômicron no Brasil: 'Não tem matado ninguém'
O Ministério da Saúde registrou na noite desta terça-feira (11) 70.765 novos casos de Covid-19 em 24 horas, oito vezes mais que há duas semanas
O presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizou nesta quarta-feira (12) o vertiginoso aumento de casos de Covid-19 impulsionado pela variante ômicron, que, segundo especialistas, poderá causar em breve uma nova sobrecarga do sistema hospitalar no país.
"A ômicron não tem matado ninguém. O que morreu aqui em Goiás não foi de ômicron. Na verdade, foi ‘com ômicron’, não foi ‘de ômicron’. Ele já tinha problemas seríssimos, em especial nos pulmões", disse Bolsonaro ao portal Gazeta Brasil.
O paciente do estado de Goiás, um homem de 68 anos, que faleceu no dia 6 de janeiro, foi a primeira morte oficialmente confirmada no Brasil pela ômicron, segundo as autoridades do município de Aparecida de Goiânia.
Especialistas garantem que essa variante já representa a maioria dos casos no país.
"A ômicron, que já espalhou pelo mundo todo, como as próprias pessoas que entendem de verdade dizem, tem uma capacidade de difundir muito grande, mas de letalidade muito pequena", acrescentou Bolsonaro.
"Dizem até que seria um vírus vacinal (...) Algumas pessoas estudiosas e sérias, e não vinculadas a farmacêuticas, dizem que a ômicron é bem-vinda e pode, sim, sinalizar o fim da pandemia", insistiu.
Esta hipótese está ganhando terreno entre governos e cientistas de outros países.
No entanto, quando perguntado por um jornalista brasileiro em Genebra sobre as declarações de Bolsonaro, o diretor do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde, Mike Ryan, afirmou que "nenhum vírus que mate é bem-vindo, especialmente se a morte e o sofrimento podem ser evitados".
"Que o vírus seja menos severo não significa que a doença seja branda", afirmou, segundo declarações reproduzidas no portal UOL.
Ryan disse não estar a par do que o presidente brasileiro afirmou.
Explosão de casos
Segundo o último relatório oficial do Ministério da Saúde, divulgado na noite de terça-feira, o Brasil registrou 70.765 novos casos de Covid-19 em 24 horas, oito vezes mais que há duas semanas (8.430).
A média móvel dos últimos sete dias é de 43.660 contaminações diárias, número inédito desde o final de julho de 2021.
No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, o número de casos diários aumentou 1.500% em duas semanas.
Apesar do aumento vertiginoso, Bolsonaro continua se opondo ferozmente a quaisquer medidas restritivas.
Para ele, a economia do país não suportaria um novo confinamento, que levaria o Brasil a entrar na bancarrota.
O presidente voltou a defender a polêmica tese da "imunidade de rebanho" desenvolvida por uma contaminação em massa.
"A imunidade de rebanho é uma realidade, a pessoa que se imuniza com o vírus tem muito mais anticorpos que aquela que se imuniza com a vacina", afirmou.
Para Bolsonaro, a Covid-19 é uma "doença politizada". "Talvez eu tenha sido o único chefe de Estado no mundo que teve a coragem de se expor, de dar sua opinião".
Desde o início da pandemia, o presidente não deixou de criticar as recomendações de especialistas para combater a Covid-19, rejeitando o confinamento, o uso de máscaras e a vacinação.
Uma CPI no Senado recomendou em outubro seu indiciamento por vários crimes, incluindo "crimes contra a humanidade", por ter "exposto deliberadamente brasileiros a uma contaminação massiva".
Com mais de 620 mil óbitos, o Brasil é o segundo país com mais mortes na pandemia depois dos Estados Unidos.