Documentário

''Gilberto Braga- Meu Nome é Novela'' -Globoplay- três episódios disponíveis

Produção do streaming repassa a carreira do novelista falecido em outubro do ano passado

Gilberto Braga - Foto: Divulgação

Um documentário que se preze precisa equilibrar bem os ingredientes. Ao recontar histórias ou passar a limpo a biografia de alguém, a abordagem de aspectos positivos e negativos garantem força na narrativa.

Embora muitas vezes brilhante, a série documental de três episódios “Gilberto Braga - Meu Nome é Novela” peca pelo excesso de elogios ao perfilado. Produção Original Globoplay que repassa a carreira do novelista falecido em outubro do ano passado, a série começa robusta.

Além de escalar um time de peso de convidados para relembrar os feitos do autor, com destaque para as favoritas Malu Mader e Cláudia Abreu, o roteiro de Lalo Homrich acerta no modo como apresenta Gilberto Braga ao público. Em vez de uma estrutura curricular normal, a produção detalha a modernização que a assinatura do autor causou nas telenovelas, sobretudo em seus trabalhos na virada dos anos 1970 para os 1980, em títulos como “Dancin’ Days” e “Água Viva”.

Outro ponto de destaque importante é ver a influência exercida em Gilberto por duas figuras-chave da televisão: Daniel Filho e Janete Clair. Um dos diretores mais emblemáticos da Globo, Filho foi o responsável pelas diversas fases da carreira do autor, instigando Gilberto na adaptação de clássicos da literatura nacional para a faixa das seis - de onde surgiram sucessos como “Senhora” e, sobretudo, “Escrava Isaura” -, e também o escalando para o antigo horário das oito, onde o novelista viveu seus grandes sucessos e fracassos.

As curiosidades da relação com Janete Clair ajudam a entender melhor de onde veio o gosto do autor por diálogos cortantes e refinados, mas ao mesmo tempo confirmam seu respeito ao melodrama clássico dos folhetins. Em suas muitas imagens em entrevistas antigas, chega a ser engraçado o orgulho de Gilberto por se identificar com um público de novela mais abastado, contrastando com a impaciência destinada aos telespectadores das classes mais populares.

As conflitantes contradições do autor ficam ainda mais evidentes ao abordar sua trilogia sobre corrupção formada por “Vale Tudo”, “O Dono do Mundo” e “Pátria Minha”, novelas de alto teor político feitas por um novelista que insistia no glamour.

Embora tivesse seu público, ao longo dos episódios vai ficando evidente que a receita proposta pelo dramaturgo foi perdendo força no decorrer dos anos. Sem muita vontade de se reinventar e sempre recorrendo aos mesmos truques, o vigor do texto de Gilberto Braga teve seu último momento de inspiração em “Paraíso Tropical”, de 2008, um sucesso recheado de problemas que, obviamente, foram omitidos em prol de elogios banais. Prato cheio para os fãs do autor e noveleiros de plantão, “Gilberto Braga - Meu Nome é Novela” a todo momento ensaia um mergulho mais profundo nos retratos feitos pelo autor a partir de suas novelas. Infelizmente, no rasinho, a série funciona mesmo como um episódio divertido e inesquecível do extinto “Vídeo Show” em homenagem aos feitos de Gilberto.