Jacarezinho

No dia seguinte à operação, clima no Jacarezinho é de dúvida sobre o futuro

Há poucos policiais nas ruas

Ação da polícia no Jacarezinho teve alto número de mortos - Mauro Pimentel/ AFP

No dia seguinte após a mega operação de retomada do Jacarezinho, parte do novo projeto do Governo do Estado, Cidade Integrada, a única movimentação fora do normal era o grande número de moradores caminhando com guarda-sol e cadeiras de praia pela Avenida Dom Helder Câmara em direção à estação do Metrô de Maria da Graça, na Zona Norte da cidade.

Em nada a comunidade lembrava o dia anterior, quando 1.200 agentes das polícias Civil e Militar entraram pelas vielas para ocupar a região. Hoje, a presença era bem menor, com alguns poucos pelas ruas da região.

Durante agente essa manhã em Senador Camará, na Zona Oeste, o governador Cláudio Castro pediu confiança dos moradores do Jacarezinho e da Muzema, que também teve operação ontem, sobre o projeto e o planejamento feito pelo estado. De acordo com ele, a ocupação de ontem foi apenas o início, e as comunidades serão ouvidas sobre suas necessidades.
 

Entre os moradores, o clima é de total indiferença, muito em parte pela falta de informações do governo do estado sobre os serviços que serão implantados na comunidade, e também pela falta de crença de que este projeto tenha resultados diferentes de outros anteriores.

Por enquanto, somente a Polícia Militar permanece dentro do Jacarezinho, com 200 agentes. Com relação à Polícia Civil, neste segundo momento, a instituição segue o seu papel de polícia judiciária no processo de inteligência e investigação. Até o momento, 38 pessoas foram presas, sendo 36 nas ações na região da Muzema e dois no Jacarezinho.

"Moro no Jacarezinho há 40 anos. Já tõ cansada dessa 'farofada' que polícia e políticos fazem para aparecer bem na televisão. Desde a época do Brizola que todo mundo tem projeto pra cá e não fazem nada. Eu tô é preocupada em botar comida dentro de casa e não deixar as crianças tomarem tiro de bala perdida quando a polícia entra aqui pra pegar bandido", disse a dona de casa Ivonete Silva, enquanto seguia apressada com duas crianças para pegar o metrô em direção à Praia de Copacabana.

Já o mecânico Rafael Monteiro explicitou o sentimento da maioria dos moradores sobre o que se pretende fazer no Jacarezinho. Ele relatou não ter visto mais policiais dentro da comunidade e tem dúvidas se a ação desta quarta-feira foi isolada.

"Eu estou desde cedo na rua e não vi nenhum policial lá dentro. Ontem quando saí para trabalhar, olhava para a esquina e via um. Hoje sumiram todos. Eu vi na televisão que era um projeto novo, mas que ainda iriam falar o que fariam aqui. Mas, sinceramente? Ninguém aqui acredita que isso vai dar em nada, como sempre foi", contou o morador.

A associação de moradores, por sua vez, pretende cobrar o governo sobre os serviços a serem disponibilizados na comunidade. O presidente do coletivo, Leonardo Pimentel, pretende encaminhar uma lista de requisições para a região.

"Já que eles têm dinheiro para montar uma ação policial dessa, e prometeram melhorias, nós vamos encaminhar do que a comunidade precisa. Queremos uma Vila Olímpica para que as crianças possam ter acesso a uma prática esportiva. Também a reativação do Detran que tinha no Jacarezinho, ou instalar uma unidade do Poupa Tempo. Os moradores aqui para tirar um documento ou fazer um serviço precisam ir longe. Pra educação, uma unidade da Faetec, escolas em tempo integral. Tem muita coisa pra fazer aqui", afirmou.

Ainda segundo Leonardo Pimentel, a associação de moradores vai instalar na tarde desta quinta-feira uma ouvidoria dentro da comunidade para que moradores possam denunciar excesso dos policiais nas ações dentro da favela.

A ouvidoria vai funcionar em parceria com as comissões de direitos humanos da Alerj e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com as denúncias sendo encaminhadas diretamente para os órgãos. Ontem, uma comissão formada por moradores seguiu alguns dos agentes para acompanhar se não haveria excesso nas abordagens.

Na manhã desta quinta-feira, enquanto cumpria agenda para anúncio de obras de canalização em rios em Senador Camará, na Zona Oeste, o governador Cláudio Castro pediu que moradores do Jacarezinho e Muzema “confiem” no governo, ao ser questionado sobre o programa Cidade Integrada:

"Queria mandar um recado antes de falar do projeto para cada morador do Jacarezinho e da Muzema: confiem na gente. A gente está pedindo um voto de confiança. É um programa para trazer a paz, para trazer o bem pra essas comunidades. Ontem foi só o primeiro passo, a comunidade será ouvida, será respeitada", disse.

Ainda sem detalhar o programa, Castro disse que todo o planejamento será apresentado apenas no próximo sábado, dia 22.

"No sábado agora a gente vai destrinchar todo o programa. A gente vai mostrar o que vai acontecer, o que vai entrar, como vai ser o diálogo, as fontes de custeio, a gente pede que vocês esperem só um pouquinho. Vocês vão ver que é um avanço para essas duas comunidades. E esse é um piloto que será um avanço dentro da programação que a gente vai mostrar para outras comunidades do Rio de Janeiro", afirmou o governador.