POLÍTICA

Eduardo Bolsonaro ataca Weintraub e expõe racha entre apoiadores do presidente em ano eleitoral

Antes restrito aos bastidores, ala radical começou a discutir nas redes sociais nesta quinta-feira

Abraham Weintraub - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O racha entre bolsonaristas, até então restrito aos bastidores, virou um bate-boca público. Em uma publicação feita em seu Twitter, o deputado federal Eduardo Bolsonaro atacou os irmãos Arthur e Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, e disse que engolia sapos para ver se ambos "se corrigiam". A publicação de um dos filhos do presidente, exatamente o mais próximo dos Weintraub, foi vista como um sinal da divisão definitiva da ala mais radical apoiadora de Bolsonaro.

"Esta thread (sequência de tweets do secretário da Cultura Mario Frias) explica muito do que estava ocorrendo nos bastidores. Não se trata de dividir/unir a direita, mas separar o joio do trigo. Todo este tempo que nós engolíamos sapos na verdade era a chance para eles se corrigirem, mas nada foi feito. Então agora está aí, tudo às claras", escreveu Eduardo.

Nesta semana, durante uma live, Abraham Weintraub, assim como o ex-chanceler Ernesto Araújo, atacaram a aliança de Bolsonaro, filiado ao PL, com o Centrão. Conforme o Globo revelou, em conversas com aliados, Bolsonaro tem comparado Weintraub a outros ministros que racharam com o governo, como Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo). Procurados, Abraham Weintraub e Ernesto Araújo não responderam ao Globo.

Nos últimos dias, a briga entre os integrantes da ala ideológica já vinha elevando a temperatura da confusão. Pessoas do entorno do presidente acusaram os Weintraub de "oportunistas" e de nunca terem sido alunos do filósofo Olavo de Carvalho, guru bolsonarista.

O estopim da briga pública ocorreu após os irmãos Weintraub compartilharem uma publicação curtida por Mário Frias, secretário de Cultura, e um dos aliados mais próximos de Eduardo Bolsonaro. O post dizia que Weintraub seria preso "em breve" para ficar com a imagem de "herói e vítima".

"Ela defende minha prisão ilegal, por defender a liberdade e o combate à corrupção, e apoiando o STF? Em outro post, ela menospreza outras prisões ilegais. Mário Frias, secretário do governo, curtiu? Espero que tenha sido engano", escreveu Weintraub.

Arhtur Weintraub. Foto: Walter Campanato / Agência Brasil

Na sequência, Frias respondeu a Weintraub e a seu irmão, Arthur:

"Não entendi, Abraham e Arthur, por que estão chateados com uma curtida? Quantas vezes vocês deram aquela curtida marota em inúmeros perfis que chamam o presidente de frouxo, covarde e vendido para o sistema? Não gostaram da brincadeira de oposição sonsa?", afirmou.

Apesar da discussão sobre as alianças do presidente e o purismo ideológico dos seguidores de Bolsonaro, o pano de fundo da cisão entre a ala ideológica do bolsonarismo é, na verdade, eleitoral. Na última semana, Weintraub voltou ao Brasil para articular sua campanha ao governo de São Paulo. Os planos do ministro da Educação, entretanto, vão de encontro ao do presidente, que decidiu lançar Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, para o cargo.

Na última quarta-feira (19), o presidente Bolsonaro adicionou um novo ingrediente à briga. Em resposta a uma pergunta de Ricardo Salles, outro ex-ministro em uma entrevista, o presidente resolveu revelar um convite para a ministra Damares Alves ser candidata ao Senado em São Paulo. O presidente também citou a possibilidade de o próprio Salles ser o candidato.

A referência a Damares foi vista como um sinal para os Weintraub, que tentam articular sua campanha no estado: a ministra nunca tinha indicado seu interesse em tentar uma candidatura no estado. Pelo contrário, os movimentos nos bastidores foram sempre em outros estados, como o Amapá

O Globo apurou com pessoas que se encontraram com Weintraub que o ex-ministro da Educação está irritado com o presidente por ter sido escanteado em seu plano para as eleições em 2022. Weintraub contou a interlocutores que um dos maiores incentivadores da sua candidatura é Olavo de Carvalho, ideólogo de muitos dos integrantes do bolsonarismo.

O grupo de aliados mais próximos do presidente, entretanto, defendem a estratégia de Bolsonaro e acreditam que o ex-ministro da Educação não conseguirá amealhar sequer o apoio de 1% da militância.

Além da discussão nas redes sociais, outros aliados do presidente levaram a briga para a Justiça: nesta quinta-feira, o ministro Fábio Faria protocolou uma queixa-crime contra o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, por calúnia, injúria e difamação. Na entrevista em que atacaram a aliança de Bolsonaro com o Centrão, o antigo chanceler insinuou que Fábio Faria teria beneficiado a China na negociação do 5G.

O processo também gerou uma reação pública de Araújo nas redes sociais. Assim como Weintraub, o ex-chanceler se colocou conservador fiel ao "projeto original" do presidente.

"Fábio Faria, seu processo contra mim só confirma sua sanha em perseguir conservadores. Não consegue formular resposta decente aos ataques diários da esquerda/oposição ao governo, mas é veloz em processar a mim, um conservador fiel ao projeto original do presidente", disse Araújo.

A troca de ataques pública ocorre em um momento em que o presidente Jair Bolsonaro aparece atrás do ex-presidente Lula nas pesquisas de intenções de voto. O Globo apurou que um dos partidos com quem Weintraub tem conversado defende uma aliança com o ex-ministro Sergio Moro.

Moro deixou o governo em abril de 2020, acusando o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal. A acusação levou à divulgação do vídeo de uma reunião ministerial em que Weintraub defende a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal.

A revelação dos ataques de Weintraub tornou sua situação no ministério da Educação insustentável. Apesar disso, o ministro "caiu para cima" e foi indicado por Bolsonaro para um cargo no Banco Mundial. O vídeo em que anunciou sua saída, gravado ao lado de Bolsonaro, ficou marcado por um momento constrangedor, em que o então ministro abraça e levanta o presidente, que mantém a cara fechada.

"Posso adiantar uma possível senadora pra São Paulo a ministra Damares. Possível candidata ao Senado, não tá batido o martelo não. O convite foi feito, o Tarcísio gostou dessa possibilidade. Conversei com a Damares e ela ainda não se decidiu", afirmou Bolsonaro.