Conde (Só Brega) volta à cena, atrai novas gerações e se mantém nome forte da música pernambucana
O "Conde do Brega" em Pernambuco tem "bombado" entre os jovens que acompanham o brega no Estado
“Pode ser só ‘Conde’ mesmo, o que vier, do rock ao samba, tá valendo”, foi assim que o Conde (Só Brega), figura quase mística da música pernambucana, se apresentou para esta entrevista.
Apesar de ter assumido o viés eclético na música, da essência ao figurino, Ivanildo Marques da Silva, 68, é Conde ‘Só Brega’, em alusão à banda formada por ele na década de 1990 mas, principalmente, pelo gênero que o tornou conhecido pelas bandas de cá e faz tempo, segundo o próprio, há cinco décadas.
“Comecei aos 16 anos como guitarrista de Maurício Reis”. E lá se vão oito CD’s, quatro DVD’s, mais de dez coletâneas e uma média de 50 composições assinadas por ele, que nos últimos tempos vem ganhando adeptos de uma geração que inclui o pernambucano João Gomes, nome recente (e promissor) da música País afora.
2022 já o melhor ano
“O melhor ano pra mim já é 2022 porque cantei com esse menino e foi a melhor coisa que eu pude receber. Sempre tive o público jovem ao meu lado, mas agora explodiu”, contou, em tom de quem ainda está sob o encantamento de ter cantarolado ao lado do artista de Serrita (PE) a sua “Espelhos do Poder” em uma festa de Revéillon em Petrolina.
“Foi a partir de João também que muita coisa mudou em minha vida”, complementa Conde em conversa com a Folha de Pernambuco.
Sossego e estabilidade
Expoente do brega pernambucano – gênero que se tornou em 2021 Patrimônio Imaterial do Recife – ele, como a grande maioria, integrou o rol de artistas que padeceram em meio à pandemia da Covid-19, mas atualmente já não precisa mais “correr atrás” para ter o dinheiro do aluguel do apartamento onde mora, em San Martin, Zona Oeste do Recife.
“Hoje, gravo de outros o que ouço e gosto, mas quando precisava corria atrás e escrevia”, comenta. À fase financeira aliviada ele atribui, inicialmente, ao convite recebido da On Produções, que o trouxe de volta à cena.
“Nunca deixei de fazer shows, mas eram poucos. Agora, só neste mês de janeiro fechamos 22 apresentações. Tá bacana tudo isso e admito que em 2021, além da saúde que não me faltou, consegui me manter bem, com contrato assinado e gravação de mais um DVD”. Trata-se do trabalho “Livre pra Voar”, com participação de nomes como Petrúcio Amorim e Sheldon, entre outros.
Brega alto nível
Somado ao frenesi de ter João Gomes exaltando seu cancioneiro, inclusive em redes sociais, a fase do Conde é, de fato, das melhores. Fato atribuído por ele à constância de manter as letras que canta em "alto nível". “Sempre segui na luta, vi muita gente indo embora da música. Mas olhe, faço letras com conteúdo, essência e visão de futuro, sobre coisas sérias, de alto nível e intelectualidade”, definindo seu repertório.
E embora já tenha antecipado 2022 como o melhor ano de sua vida, os meses que estão por vir devem guardar boas surpresas para o cantor e compositor recifense, desde a agenda de shows cheia até março até os planos de levar o gênero para fora do Estado e do Brasil – programação prevista para os meses de abril e maio deste ano. Um feito que ele encara sem deslumbre.
“Se tiver de fazer um show na Europa, vai ser maravilhoso. Mas nada disso altera minha cabeça e a alegria vai ser a mesma, ou até mais se for para cantar no Interior pernambucano”, confessa Conde, realizado em ter chegado até aqui e com desejos simples de quem tem muito mais a agradecer do que pedir.
“Fui menino feliz de jogar bola e soltar pipa. Infância pobre, mas rica em brincadeiras. Não penso no que quero realizar nem com quem ainda quero cantar. Vai ser uma honra dividir o palco com quem quer que seja. Tenho isso não de ser famoso, nem gosto de ser rotulado, até porque tem tanta gente que canta melhor do que eu. Sabe o que quero mesmo? Fazer meu sítio lá em Glória do Goitá. Terreno já tenho.” E como diria o próprio Conde, isso é bacana mesmo.