Crítica

'O Beco do Pesadelo' é filme mais realista, porém não menos perturbador, de del Toro

Longa-metragem é estrelado por Bradley Cooper e Cate Blanchett

"O Beco do Pesadelo" - Divulgação

“O Beco do Pesadelo” é o novo filme do cultuado diretor mexicano Guillermo del Toro, que está de volta aos cinemas após ganhar um Oscar por “A Forma da Água”, em 2018. Com estreia marcada para esta quarta-feira (26), o longa-metragem traz a visão do cineasta sobre o clássico literário norte-americano “O Beco das Ilusões Perdidas”, lançado por William Lindsay Gresham em 1946, e agora levado às telas por um elenco estelar.

Bradley Cooper interpreta o ambicioso Stanton Carlisle. Com um passado misterioso nas costas, ele chega a um parque de diversões itinerante, onde começa a trabalhar como assistente de um casal de ilusionistas e se apaixona por Molly, vivida por Rooney Mara. Juntos, partem para Nova York, usando os truques aprendidos por ele para faturar dinheiro e levar uma vida luxuosa. É quando Cate Blanchett surge em cena, na pele de Lilith Ritter, uma psicanalista que se une ao mágico em seus negócios escusos. Também estão no elenco nomes como Toni Collette, Willem Dafoe e Richard Jenkins.

A nova produção de Toro não foge ao que ele vem estabelecendo em sua filmografia nas últimas décadas. O cineasta apresenta sua própria versão do que é um filme noir, mantendo a estranheza comum a todas as suas obras em nível máximo, com o tom sombrio que lhe é de costume. A diferença está no abandono dos elementos fantásticos em prol de uma narrativa realista. Deixando para trás suas criaturas bizarras, o diretor foca no que há de mais terrível nos próprios seres humanos para causar espanto.
 

A transformação do homem em monstro é uma alegoria que o longa persegue do início ao fim. No circo dos horrores onde trabalha, Stanton se depara com a imagem assombrosa do Selvagem, que nada mais é do que uma pessoa mantida em condições deploráveis e servida como entretenimento ao público. Sem perceber, o protagonista entra em um processo de “animalização”, tal qual a atração do parque. Sua ganância o leva a abusar da credulidade de gente marcada por grandes perdas, com o objetivo de conquistar mais dinheiro e poder, fazendo os pacientes de Lilith acreditarem que na sua comunicação com os mortos. Ele não se dá conta, no entanto, dos riscos que corre ao não controlar seus instintos.

Permeado por jogos mentais, “O Beco do Pesadelo” é um thriller psicológico que acompanha a decadência moral do ser humano, expondo a degradação daqueles que manipulam a fé alheia para benefício próprio. O roteiro é competente em humanizar seu protagonista, exibindo suas motivações e aprofundando a construção do seu caráter, mas peca na previsibilidade. Com um tempo de tela maior do que seria realmente necessário para desenvolver bem a história, o filme é ancorado em uma trama que pouco surpreende, embora não deixe de ser interessante.

O bom trabalho do elenco é um dos pontos positivos do suspense. Bradley Cooper entrega tudo de si em cena, especialmente nos momentos finais do longa. Cate Blanchett segue magnetizante, mesmo com uma personagem que carece de aprofundamento e, por vezes, parece um tanto avulsa em meio à trama. Ainda que não seja a obra mais brilhante da premiada carreira de Guillermo del Toro, o filme mostra que o diretor não perdeu o dom de criar obras, ao mesmo tempo, perturbadoras e cativantes.