Congolês morto em quiosque na Barra da Tijuca foi espancado por 15 minutos, diz primo
Moïse Kabamgabe estava no Brasil desde 2011, quando fugiu de conflitos armados na República Democrática do Congo
O jovem congolês Moise Mugenyi Kabagambe, de 25 anos, morto na última terça-feira no quiosque Tropicália, no posto 8 da Barra da Tijuca, na zona Oeste do Rio, onde trabalhava como atendente, foi espancado por mais de 15 minutos — com golpes de mata leão, socos, chutes, madeirada e chegou a ter as mãos e pés amarrados por um pedaço de fio — antes ser morto.
É o que diz um primo do rapaz, que teria visto um vídeo que foi obtido por policiais civis da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) no local do crime. De acordo com familiares da vítima, ao menos cinco pessoas — entre elas o gerente do quiosque — teriam participado da sessão de espancamento. Neste domingo, sob protesto e com música e dança, em um ritual africano, o corpo do jovem foi enterrado no Cemitério de Irajá.
Moïse Kabamgabe estava no Brasil desde 2011, quando fugiu de conflitos armados na República Democrática do Congo. O autônomo Yannick Iluanga Kamanda, de 33 anos, disse que viu as imagens do momento em que o primo foi atacado. Ele declarou que o jovem "apanhou já desacordado".
"Num primeiro momento, o meu primo é visto reclamando por que ele queria receber. Em determinado momento, os ânimos se acirraram e o gerente pega um pedaço de madeira. O meu primo corre para se defender com uma cadeira. O gerente vai embora e em seguida volta com cinco pessoas e pegam o meu primo na covardia. Um rapaz dá um mata-leão (chave de pescoço) nele e os outros quatro se revezam em bater", contou Yannick Iluanga Kamanda.
"Ele apanhava e as pessoas se revezavam para bater. Não satisfeitos, eles amararam os braços e as pernas dele e continuaram batendo. O meu primo ficou desacordado e mesmo assim ele espancavam ele. Só depois de um tempo , eles viram que ele estava desacordado e deixaram ele jogado na areia", acrescentou o autônomo.
De acordo com o relato do primo, a rotina no quiosque continuou normalmente, mesmo com a morte de Moïse. "Alguns foram embora e o gerente continuou atendendo normalmente", relata Yannick.
Até agora, oito pessoas foram ouvidas por investigadores. Duas delas já teriam sido identificadas como agressoras, disse um familiar do congolês.
Líderes da comunidade congolesa no Rio divulgaram nota repudiando "veemente a morte" do jovem. De acordo o comunicado, "esse ato brutal, que não somente manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, mas claramente demonstra a xenofobia dentro das suas formas, contra os estrangeiros". O documento diz ainda que a "comunidade congolesa não vai se calar". Por fim, o documento pede que "os autores do crime, junto ao dono do estabelecimento, respondem pelo crime".