Internacional

EUA e Rússia querem manter diálogo, mas Washington pede 'desescalada imediata'

O secretário de Estado americano e o ministro das Relações Exteriores russo voltaram a se falar por telefone para tentar por fim à crise

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov - Alex Brandon / Pool / AFP

Os Estados Unidos admitiram nesta terça-feira (1º) que não conseguiram garantir o compromisso da Rússia com uma iminente desescalada na fronteira com a Ucrânia, mas os chefes da diplomacia das duas potências rivais parecem querer continuar com seu diálogo.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, voltaram a falar por telefone para tentar acabar com essa crise de alto risco que ameaça culminar em uma guerra na Europa.

Enquanto isso, o presidente russo, Vladimir Putin, recebeu o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, seu aliado embora membro da União Europeia e da Otan, em uma forma de afronta destinada a mostrar certa divisão no campo ocidental.

Blinken "pediu a desescalada russa imediata e a retirada de tropas e equipamentos das fronteiras da Ucrânia", disse o porta-voz do Departamento de Estado. Também "pediu para seguir um caminho diplomático".

Mas um alto funcionário americano disse à imprensa que Lavrov não deu "nenhum indício" de "uma mudança nos próximos dias" na fronteira ucraniana, onde o Ocidente acusa Moscou de ter concentrado mais de 100.000 soldados, visando uma possível invasão ao país vizinho.

"Continuamos ouvindo essas garantias de que a Rússia não planeja invadir, mas certamente cada ação que vemos diz o contrário", disse o responsável sob condição de anonimato.

A Rússia nega qualquer intenção bélica, mas condiciona qualquer desescalada a garantias para sua segurança, particularmente que a Ucrânia nunca será membro da Otan e que a Aliança Atlântica vai retirar suas forças de suas posições de 1997, ou seja, antes de suas sucessivas ampliações na Europa do Leste.

Espera de nova resposta russa
Os Estados Unidos rejeitaram esses pedidos em uma carta na semana passada e abriram a porta para negociações sobre outros assuntos, como o lançamento de mísseis ou os limites recíprocos aos exercícios militares. 

A conversa entre Blinken e Lavrov foi a primeira desde essa carta americana.

Embora Blinken tenha reiterado a ameaça de sanções "rápidas e severas" em caso de uma ofensiva russa, disse que os Estados Unidos queriam "continuar um diálogo substantivo com a Rússia sobre preocupações de segurança mútua".

"Blinken concordou que há razões para continuar o diálogo. Veremos como será", disse Lavrov à televisão russa. 

Segundo o alto responsável americano, o próximo passo será a entrega por parte da Rússia aos Estados Unidos, em uma data indeterminada, de uma "resposta formal" validada por Putin à carta enviada por Washington.

Como sinal de apoio enquanto dezenas de milhares de soldados russos seguem mobilizados na fronteira com a Ucrânia, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson está previsto viajar a Kiev, onde seu homólogo polonês, Mateusz Morawiecki, já visitou.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, elogiou o crescente apoio diplomático e militar ocidental a Moscou, "o maior" desde 2014, quando a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia.

Ameaça de sanções
Para dissuadir Moscou de qualquer agressão, o Ocidente também acelerou seus preparativos para impor medidas econômicas punitivas. 

Estados Unidos e Reino Unido, uma das áreas de investimento favoritas dos oligarcas russos, disseram na segunda-feira que iriam sancionar as pessoas próximas ao Kremlin.

No Reino Unido, os russos ricos correrão o risco de congelamento de ativos no país e também podem ficar proibidos de entrar no território. Cidadãos e empresas britânicas também podem ficar proibidos de fazer transações com eles.

"Não vamos recuar nem ficar quietos ouvindo as ameaças de sanções dos Estados Unidos", respondeu nesta terça-feira a embaixada russa em Washington em sua página do Facebook.

Orban em Moscou
Enquanto Moscou privilegiou desde o início desta crise os contatos diretos com Washington, os europeus tentam se manter no jogo diplomático. 

Durante uma conversa telefônica nesta terça-feira, o chefe do governo italiano Mario Draghi pediu a Putin para "desescalar". 

Na segunda-feira, na véspera de sua viagem a Kiev, Boris Johnson pediu à Rússia para "dar um passo atrás e começar um diálogo". 

Como resposta a este front ocidental, o presidente russo recebeu na terça-feira o húngaro Orban, cuja viagem é criticada pela oposição devido às tensões em torno da Ucrânia. 

Putin, que não se pronuncia sobre o assunto ucraniano desde o final de dezembro, dará uma entrevista coletiva com seu anfitrião no final da tarde.