TAXA SELIC

Selic, a taxa básica de juros, deve voltar a dois dígitos nesta quarta-feira (2)

Com o novo aumento, a Selic sairá dos atuais 9,25% para 10,75% anuais

Banco Central do Brasil - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O aumento persistente dos preços das commodities, surpresas com a inflação corrente, expectativas de alta nos preços para os próximos anos ainda desancoradas, risco fiscal e um cenário externo mais desafiador. Esses são alguns dos fatores que devem pressionar o Banco Central (BC) a elevar a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual nesta quarta-feira.

Com o novo aumento, a Selic sairá dos atuais 9,25% para 10,75% anuais, em linha com o que próprio Comitê de Política Monetária (Copom), que é ligado ao BC, sinalizou em sua última reunião. Será a primeira vez desde julho de 2017 que o juro básico voltará para a casa dos dois dígitos.

Para a reunião desta quarta, é consenso entre participantes do mercado uma elevação de 1,5 ponto percentual. Levantamento do Globo com 21 instituições mostra unanimidade em torno dos 10,75%.

"Está dado que o Copom deve elevar a Selic em 150 pontos base amanhã. A razão é por causa da desancoragem das expectativas de inflação. Isso acaba fazendo com que o BC tenha que priorizar o controle da inflação em detrimento da atividade econômica para que possa estabilizar o ambiente macroeconômico", disse o estrategista-chefe do Mizuho, Luciano Rostagno.

O fato da prévia da inflação oficial, o IPCA-15 de janeiro, ter vindo acima das expectativas e com núcleos e difusão piores do que o esperado aumentou as preocupações do mercado.
 

Além disso, a continuidade da alta das commodities no exterior, como é o caso do petróleo, e pressões internas sobre os preços dos alimentos por problemas nas safras acentuam as pressões inflacionárias. Isso sem citar o risco fiscal e seus efeitos negativos para o câmbio e, por tabela, para a inflação.

O economista da Rio Bravo Investimentos, João Leal, destaca que o dado acima do esperado em janeiro ainda vai pesar bastante na decisão do Copom. Ele também cita a preocupação do banco em manter as expectativas para a inflação nos próximos anos ancoradas, após não ter conseguido cumprir sua meta em 2021.

"Essas surpresas inflacionárias nos últimos meses têm afetado as expectativas de inflação de 2023, que é o ano que tem mais peso para as decisões do Copom. E essas expectativas já mostram uma pequena desancoragem frente à meta de 3,3% para o ano que vem."

Leal ainda projeta que o teto da Selic seja atingido em março. No entanto, apenas o arrefecimento dos preços nas próximas divulgações é que, de fato, indicará, até onde a taxa básica pode chegar neste ano.

A chefe de economia da Rico, Raquel de Sá, ressalta que o atual cenário macroeconômico ainda impõe ao BC a doação de uma política monetária contracionista.

"A nossa expectativa é que o teto seja 11,5%, não porque acreditamos que o banco vai ser leniente, mas porque olhando para a inflação de 2022 e 2023, esse é um aperto suficientemente grande para trazer a inflação para a meta no ano que vem", disse Sá, destacando que o aperto monetário demanda um tempo para fazer efeito na economia.

Para os analistas, o aumento de juros no exterior, principalmente por parte do Federal Reserve, Banco Central americano, não deve ter tanto impacto na decisão, pois um cenário externo mais desafiador já está precificado nos últimos comunicados do Copom.

Sobre o risco fiscal, que tanto penalizou o real em 2021, Leal, da Rio Bravo, destaca que será importante acompanhar ao longo do ano as sinalizações dos presidenciáveis sobre a política econômica.

"Indicações em direção às mudanças nas regras fiscais sem propor outra regra factível e que controle as despesas públicas vão ser bastante ruim para câmbio e para a inflação."

O consenso dá mais importância para o comunicado do Comitê, que será divulgado após a reunião.

Os agentes de mercado buscam pistas sobre o que os membros do Comitê esperam para os próximos encontros a fim de melhor calcular em que ponto virá o teto da Selic e se há possibilidade de desaceleração no ciclo de aumento de juros, que começou no início do ano passado.

No último Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo BC com a mediana das estimativas do mercado, a estimativa para a Selic ao final deste ano estava em 11,75% e 8% ao término de 2022.

Parte do mercado entende que o BC deve manter o tom mais duro no combate à inflação, indicando mais uma alta na mesma magnitude ou um pouco inferior para a próxima reunião. Outra parte entende que a autoridade monetária não deve se comprometer com uma dose de aperto, dado o nível de incerteza.

"A estratégia talvez seja manter a porta aberta e dizer que vai depender dos dados para tomar a decisão da próxima reunião. Essa me parece ser a estratégia mais conveniente para o BC e o mercado aceitaria melhor", disse Leal.

Rostagno, do Mizuho, acredita que os membros do Copom deixarão a porta aberta para desacelerar o ritmo de alta na reunião de março, sem o comprometimento com um novo aumento na casa de 1,5 ponto percentual.

"Um fator de ricos que pode levar o BC a estender o ciclo de aperto monetário para além de março é o preço do petróleo no mercado internacional, o que pode fazer com que a inflação desacelere de uma forma mais lenta e impactar as expectativas de inflação tanto para este ano quanto para o ano que vem."