Saudade

25 anos sem Chico Science: relembre a trajetória do artista que influenciou gerações

Líder do movimento Manguebeat foi um dos principais responsáveis por revolucionar a música pernambucana

Chico Science - Fred Jordão

Nesta quarta-feira (2), Dia de Iemanjá, completam-se exatos 25 anos do acidente de carro que tirou a vida do cantor e compositor pernambucano Chico Science, líder do movimento Manguebeat e um dos principais responsáveis por revolucionar a música pernambucana e colocar nosso Estado no mapa mundial como uma referência cultural, com impactos na moda, no comportamento e em várias expressões culturais.

Nascido em Olinda, no dia 13 de março de 1966, Francisco de Assis França ganhou atenção internacional ao lado da banda Chico Science & Nação Zumbi, criada nem 1991, tocando nos principais festivais e inaugurando uma noa maneira de fazer e pensar música. A partir dos ritmos regionais de Pernambuco, incorporando elementos da black music com a presença marcante da guitarra elétrica e de uma estética moderna, o artista influenciou gerações. 

Em 1997, Chico Science faleceu precocemente, após um acidente de carro em Olinda, mas continua sendo uma das maiores referências musicais  de Pernambuco.

Trajetória
Francisco de Assis França nasceu em Olinda, no dia 13 de março de 1966. Mais conhecido como Chico Science, foi o mais famoso colaborador do Movimento Manguebeat, no início da década de 1990.

Passou sua infância e adolescência no bairro de Rio Doce. Era fã da música de James Brown, Grandmaster Flash e Kurtis Blow importantes representantes do soul music e do hip-hop norte-americano. Influenciado pelos passos da dança do cantor Michael Jackson, em 1984, Chico entrou para a Legião Hip-Hop, um dos principais grupos de dança de rua do Recife.

Em 1987, formou seu primeiro grupo musical, o “Orla Orbe”, um conjunto de black music, que acabou antes de completar um ano. Em seguida, criou a banda “Loustal” (em homenagem ao quadrinista francês Jacques de Loustal), que fazia uma mescla do rock dos anos 60 com o soul, o funk e o hip-hop.

A fusão com os ritmos nordestinos, principalmente o maracatu, veio em 1991, quando Science entrou em contato com o bloco afro Lamento Negro, de Peixinhos, subúrbio de Olinda, que fazia um trabalho de educação popular na periferia do grande Recife, e reunia ritmos folclóricos, como o maracatu rural e o côco de roda com o samba-reggae.

Com a fusão do Loustal e o Lamento Negro surgiu o grupo “Chico Science e Lamento Negro”, que depois foi batizado com o nome “Chico Science & Nação Zumbi”. A estreia da banda aconteceu em junho de 1991, no espaço Oásis, em Olinda, e chamou a atenção da mídia, com uma batida típica, resultado da mistura de ritmos regionais, como o maracatu rural e o coco de roda, com o rock, o hip-hop, o funk rock e a música eletrônica.

Chico Science se juntava com os amigos para falar e pensar música com temática social, com o objetivo de que o Recife aparecesse com toda a sua pujança cultural, resgatando suas raízes da periferia, dos manguezais, da capoeira, do côco de roda. Estava formado um movimento musical denominado “Mangue Beat”, uma alusão ao mangue (ecossistema típico da costa do Nordeste brasileiro), mais a palavra beat (batida, em Inglês).

Além da mistura dos ritmos, o grupo desenvolveu uma forma própria de exprimir visualmente essa mistura, com o uso do chapéu de palha, típico da cultura pernambucana, os óculos escuros, camisas estampadas, tênis e colares coloridos.

O grupo “Chico Science e & Nação Zumbi”, era formado por Chico Science (voz), Lúcio Maia (guitarra), Dengue (baixo), Toca Ogam (percussão e efeitos), Canhoto (caixa) Gira (tambor) Gilmar Bola 8 (tambor) e Jorge Du Peixe (tambor), e logo estava excursionando pelo Brasil, Estados Unidos e Europa.

Em 1993, uma rápida turnê por São Paulo e Belo Horizonte chamou a atenção da mídia. O primeiro disco foi lançado em 1994 (Da Lama ao Caos), onde se destacaram as músicas “A Praieira” e “A Cidade”, que fizeram parte da trilha sonora das novelas Tropicaliente e Irmãos Coragem, respectivamente. O disco teve boa receptividade da crítica e projetou a banda nacionalmente.

O segundo disco, Afrociberdelia, de 1996, mais pop e eletrônico, confirmou a tendência inovadora de Chico Science e Nação Zumbi, que excursionaram pela Europa, onde encontraram Os Paralamas do Sucesso, e pelos Estados Unidos, onde fizeram sucesso de público e crítica e tocaram juntamente com Gilberto Gil. Gil considerava Chico Science (juntamente com o grupo baiano Olodum) como "o que surgiu de mais importante na música brasileira nos últimos vinte anos". A música “Maracatu Atômico”, canção de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, que fez sucesso em 1973, na voz de Gilberto Gil, se transformou em hino do grupo.

Seus dois álbuns foram incluídos na lista dos 100 melhores discos da música brasileira da revista Rolling Stone, elaborada a partir de uma votação com 60 jornalistas, produtores e estudiosos de música brasileira: Da Lama ao Caos ficou na 13ª posição e Afrociberdelia na 18ª. Em outubro de 2008, a revista Rolling Stone promoveu a Lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira, na qual Chico Science ocupou o 16ª lugar.

Podem ser citadas como bandas relacionadas a Chico Science, as conterrâneas Mundo Livre S/A, Bonsucesso Samba Clube, as mais recentes Cordel do Fogo Encantado, Mombojó e Otto. Outras bandas influenciadas por Chico: Sepultura (mais especificamente o álbum Roots), Soulfly (que gravou "Sangue de Bairro" no seu disco 3 e contou com Lúcio Maia, Du Peixe e Gilmar no seu primeiro disco Soulfly) Cássia Eller (intérprete de músicas como "Corpo de Lama" e "Quando a Maré Encher"), Fernanda Abreu (álbum Raio X) e Arnaldo Antunes (álbum O Silêncio), além da antiga parceira e ainda em atividade, a Nação Zumbi. O Charlie Brown Jr. gravou "Samba Makossa" em seu disco acústico e seu vocalista Chorão se declarava fã de Chico.

A banda filipina de nu metal Chicosci, originalmente se chamava Chico Science, inspirada pelo artista brasileiro. O músico de drum and bass inglês Goldie, conhecido nos anos 90 como "o rei do jungle", compôs uma música em homenagem ao cantor brasileiro chamada "Chico - Death of a rockstar".

O dia 2 de fevereiro de 1997 ficaria marcado como o mais devastador da história do manguebeat. No final daquela tarde, o carro dirigido por Chico Science chocou-se com um poste na rodovia entre Recife e Olinda, tirando a vida do cantor e compositor, às vésperas de completar 31 anos de idade. Um outro veículo teria fechado a passagem de seu Uno. Science ainda foi socorrido por um policial que estava passando num ônibus e o levou ao Hospital da Restauração, mas o mesmo não resistiu e chegou ao hospital morto. O enterro aconteceu na segunda-feira do dia 3 de fevereiro de 1997, no Cemitério de Santo Amaro, localizado no Recife.

A família de Chico Science recebeu indenização de cerca de 10 milhões de reais da montadora Fiat, responsabilizada pela morte do cantor e compositor no acidente, devido a falhas no cinto de segurança do carro que dirigia e que poderia ter lhe poupado a vida. Ano após ano, seu túmulo é visitado por fãs e admiradores da sua obra e de seu legado.

Apesar de triste, a precoce morte de Chico Science fortaleceu o Movimento Manguebeat. Nação Zumbi lançou um CD duplo em 1998, com músicas novas e versões ao vivo remixadas por DJs. A sua versão da canção "Maracatu Atômico" foi o clipe que encerrou as atividades da MTV Brasil, do grupo Abril, em 30 de setembro de 2013.

Diante do trabalho de afirmação da música e cultura pernambucanas, numa valorização das nossas origens, renovando sua importância para o Brasil e para o mundo, através do Movimento Manguebeat, estilo musical único, solicito dos nobres Pares a aprovação deste Projeto de Lei. (Fonte: Alepe)