'Sensação de que foi dado um passo atrás', diz irmã de Marielle sobre a quinta mudança de delegado
Já a viúva da parlamentar se queixou da falta de empenho na elucidação do crime por parte do governo do Rio
As investigações sobre o mandante da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes mudaram de mãos mais uma vez. O delegado Alexandre Herdy foi nomeado, nesta quarta-feira, como o novo titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) que apura o caso. Para a irmã da parlamentar, Anielle Franco, a sensação é de que está sendo dado "um passo atrás na investigação". Para a vereadora Monica Benicio (PSOL), viúva de Marielle, falta empenho por parte do governador Cláudio Castro na elucidação do crime: "há trocas de mais e resultados de menos". No próximo mês, o crime completará quatro anos.
A saída do delegado Henrique Damasceno do Caso Marielle, em decorrência da sua promoção como diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), foi publicada no boletim da Polícia Civil nesta quarta-feira. Na mesma publicação, veio a informação de que Herdy deixou a 10ª DP (Botafogo) para assumir a Delegacia de Homicídios da Capital. A mudança pegou as famiílias de Marielle e Anderson de surpresa.
— Toda mudança que tem no caso da Mari traz a sensação de que foi dado um passo atrás nas investigações ou até mesmo de estagnação. São cinco mudanças já! A gente, enquanto família, não pode perder a esperança de que este crime bárbaro um dia se esclareça, não só julgando aqueles que estão presos, como também chegando ao mandante. Como sabemos, é um crime extremamente arquitetado, bem planejado — disse Anielle, que também é diretora do Instituto Marielle Franco, entidade que mantém a memória da parlamentar viva.
Apesar de entender o nível de complexidade do crime, a demora na elucidação tem incomodado tanto Anielle Franco quanto Monica Benicio.
— São quatro anos sem resposta! A gente tem que acreditar e manter as esperanças, porque nossa vida é feita disso. Causa preocupação, causa estranheza essa mudança, mas espero que quem entre dê continuidade com afinco. A gente recebe essa notícia (mudança de delegado) com dor no coração, pois estamos a menos de dois meses de completar quatro anos sem repostas, e as mudanças continuam acontecendo sem a gente saber quem mandou matar a Mari. Nosso papel, enquanto família e Instituto Marielle Franco, é prosseguir cobrando por Justiça. Não vamos desistir! Estamos preocupados e atentos a tudo que está acontecendo — afirmou a irmã de Marielle.
A viúva de Marielle disse que a paciência está se esgotando por não haver resultados quanto ao mandante do crime, às vésperas de o duplo homicídio completar quatro anos no próximo dia 14 de março:
— Durante todo esse tempo fui compreensiva. Agora não dá mais! Ao longo de quase quatro anos foram trocas de mais e resultados de menos. O governador Cláudio Castro precisa ser muito incompetente, ou coisa pior, pra nessa altura do campeonato ainda não ter uma resposta. De um lado ele desrespeita as famílias de Marielle e Anderson, pois ficamos sabendo de informações como essa pela imprensa. De outro, ele agride a sociedade, que tem o direito de saber quem mandou matar Marielle e por quê? Cláudio Castro, suas mãos também estão sujas de sangue! — desabafou Monica Benicio.
Num trabalho conjunto da Polícia Civil com o Ministério Público do Rio foi possível chegar, de acordo com as investigações, aos executores do crime: o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz. Ambos estão presos nos pesídios federais de Porto Velho, em Rondônia; e Mossoró, no Rio Grande do Norte, respectivamente. No entanto, desde março de 2019, não se sabe ainda quem mandou matar Marielle e Anderson, nem a motivação para o crime.
A saída das promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile da Força-Tarefa do Caso Marielle e Anderson (FTMA), em julho do ano passado, também causou preocupação nos parentes das vítimas, por receio de o caso demorar ainda mais tempo para ser elucidado. Na época, o motivo de Sibílio e Emile deixarem os cargos, segundo fontes da instituição, teria sido o fato de haver "interferência externa" no trabalho do grupo. A solução apresentada pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) foi a de nomear oito promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) para cuidarem da investigação. O coordenador do Gaeco, Bruno Gangoni, chefia a equipe. As investigações estão sendo mantidas em sigilo.