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Líder do governo vê 'provocação' de Guedes em proposta para divulgar padrinhos políticos

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), viu na medida uma provocação do ministro ao Congresso

Deputado Ricardo Barros - Valter Campanato/Agência Brasil

Líderes de Câmara e Senado ficaram incomodados com a possibilidade de a Controladora-Geral da União (CGU) mapear indicados políticos em cargos públicos com o intuito de expor as informações no portal da transparência.

Eles se queixam, sobretudo, de a medida ter partido do ministro da Economia, Paulo Guedes, que vive protagonizando embates com o Congresso e não possui relação direta com o tema. Enxergam na iniciativa mais uma tentativa de interferência do ministro da Economia na relação do governo com o Legislativo.

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), viu na medida uma provocação do ministro ao Congresso, mas também foi categórico ao dizer que a ideia é inviável. "Não vai prosperar e, não prosperando, foi uma provocação desnecessária", disse Ricardo Barros.

O deputado acrescentou que não considera haver previsão legal para implantar esse tipo de controle sobre as indicações. "Até poderia ser uma iniciativa do governo, mas não há apoiamento do governo. É uma coisa só do Paulo Guedes", acrescentou, reforçando que o ministro da Economia estaria isolado.

Apesar da fala de Barros, na última sexta-feira a CGU informou que já está trabalhando na “operacionalização” da proposta feita por Guedes. A controladoria diz que a medida será incluída no plano anticorrupção. Mas não deu prazo para a implantação da proposta.
 

No Congresso, a iniciativa também não foi levada a sério nem mesmo pelos aliados do Palácio do Planalto. Em uma roda de conversa, o tema foi tratado como algo “fora do radar” e de forma irônica por parlamentares, que diziam que Guedes deveria se ocupar com a área econômica, em especial a crise dos combustíveis. “Cada um no seu quadrado”, disse um deles.

Outro parlamentar emendou que “o ministro deveria estar falando sobre controle da inflação, sobre política de preços dos combustíveis, sobre a taxa de juros”.

Questionado sobre o assunto, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (sem partido-AM), alfinetou o governo: "Eu acho isso ótimo. Não sei o que acha é a base do governo."

O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), afirmou não ter qualquer preocupação com a medida. Ele acredita que, se o objetivo é intimidar congressistas que têm apadrinhados na administração federal, a ação não terá efeito.

"Não tenho problema com transparência. Se isso soa como intimidação, para mim, zero. Zero. Com alguns eu acho que não funcionará, comigo por exemplo não funcionará", declarou Braga.

Há também quem considere que esta poderia ser uma maneira de Guedes tentar expor partidos que pretendem desembarcar do governo, e ao mesmo tempo possuem aliados em cargos da gestão atual. Ainda assim, a estratégia é vista como arriscada, porque poderia afastar ainda mais possíveis aliados justamente em ano eleitoral.

As indicações envolvem diretamente os ministros do governo, como Ciro Nogueira (PP-PI). Além de ser cacique de um dos partidos com mais indicações, o chefe da Casa Civil é um dos responsáveis por avaliar as nomeações que passam pelo crivo do Palácio do Planalto. Em entrevista ao GLOBO na semana passada, Ciro Nogueira disse que esse tema “não é o mais importante para o país”.

Levantamento do GLOBO apontou que os três principais partidos do Centrão – PP, PL e Republicanos – comandam ao menos 32 postos-chave na administração federal. Os indicados para essas funções — tanto para cargos de primeiro escalão, como ministério, até outros cargos menores — fazem com que aliados do presidente tenham sob sua gestão mais de R$ 149,6 bilhões em recursos públicos.

Ontem, o presidente Bolsonaro foi acompanhado do ministro Paulo Guedes ao Congresso na solenidade que marcou o início do ano legislativo e pediu apoio a uma medida que lhe permita zerar impostos federais sobre o diesel sem compensação de receita. Ele também ressaltou que o governo busca uma alternativa para conter o preço dos combustíveis.